Olhos Místicos

Assassino em Apuros

Desci do carro deixando um estupefato Stiles Stilinski sentado ao volante. Ele tinha dito algo sobre voltar na delegacia e conversar com o pai e resolvi caminhar as quadras que faltavam até a casa dos McCall. Era manhã bem cedo e eu não seria bem vindo se Scott estivesse lá, depois da cena que ele presenciou ontem, mas eu queria saber se Corey ficou bem, já que não o vi na luta, se Melissa também estava segura e se ela me odiava pelo que deve ter sabido através do filho e, principalmente, queria tentar explicar o que aconteceu, mesmo sabendo que dificilmente Scott ia querer me ouvir. A chama de alfa que ardia em meu peito ainda estava fraca e distante, enquanto às que eu compartilhava com meus amigos recém falecidos ainda existia, débil e distante como se fosse apenas uma lembrança antiga.

Respirei fundo no frio úmido da chuva que começava a cair fina naquela manhã nublada e sem sabor. Revolta, medo, tristeza e ansiedade estraçalhavam meu coração e meu dom de cura era inútil contra isso. Consegui perder o único que eu já amara e talvez, o único que amaria a vida toda. Me recusei a chorar, apesar de tudo e fui pisando firme, rumo ao difícil destino que me aguardava naquela casa bonita e simples. Cheguei de frente para a porta no exato momento em que a mãe de meu alfa a abriu, enrolada em um roupão e com cara de muito sono.

– O que foi que houve com você? – Ela me puxou pelo braço para dentro, pensando que eu estava chorando graças a chuva que começou a cair mais forte e escorria por meu rosto angustiado.

Nunca fiz nada tão difícil e doloroso quanto contar para Melissa tudo que aconteceu ontem entre mim, seu filho e o outro jovem alfa. Ela ouviu em silêncio analisando cada palavra e eu fiz um esforço tremendo para não desabar, uma vez que detalhar aquilo era como reviver cada segundo. Lembrar o momento em que Scott virou o rosto e continuou seu caminho, como se nem fosse importante a cena que Derek me obrigava a vivenciar com ele, doía quase tanto quanto lembrar que nunca mais me aconchegaria naqueles braços, nem beijaria aquela boca.

– Não consigo falar com ele desde ontem quando voltei do hospital – ela respondeu pensativa, depois que eu terminei de contar.

– Eu estraguei tudo, eu sei. Fui um tolo em não ter deixado claro para ele o que havia acontecido antes da gente se envolver.

– Ei, ei calma aí – ela disse séria. – Tem algo muito errado nessa história toda. Meu filho não é de fugir assim dos problemas e pelo que eu já conheci do Derek, apesar de parecer uma criança agora, também não tomaria a atitude que você descreveu.

– A raiva e a vingança mudam as pessoas – argumentei sem muita certeza.

– Sim, mas acredito que Derek se vingaria de modo violento – Melissa respondeu e eu tive que concordar com ela. – O melhor a se fazer é você ficar aqui e esperar Scott voltar, tenho certeza de que ele pelo menos vai querer te ouvir.

Não sei se era boa idéia ficar ali apenas com ela. Se aparecesse algum perigo sobrenatural, eu não seria capaz de protegê-la, como não pude ajudar Lydia e os outros. Lembrei que a mãe do Scott ainda não sabia das mortes e ela percebeu quando eu forcei garganta abaixo o nó que isso me causou.

– Ainda tem mais – ela se sentou preocupada no sofá maior. Balancei a cabeça afirmativamente sem consegui falar e puxei o ar para começar a contar.

Enquanto eu narrava, Chris Argent entrou trazendo uma grande maleta e sorriu para mim ao entrar, dando um beijo discreto na dona da casa. Reiniciei a narrativa para que ele soubesse de todos os detalhes e o caçador parecia muito intrigado com o sumiço dos corpos.

– Acho que as boas notícias que eu trago não vão amenizar essa tragédia – ele disse parecendo menos animado.

– Tudo o que precisamos agora é uma boa notícia – disse Melissa com as mãos juntas como se rezasse. O que aconteceu?