Olhos Místicos

Em Volta do Mundo

Como a Austrália está oito horas a frente da França no fuso horário, tive que esperar até as duas da tarde para poder ir até Lyon sem chegar antes do sol. Avisei Emma que estaria na Galido's na parte da manhã, mas como já era sexta feira e eu tinha adiantando a agenda, não restava nada muito importante me esperando. Aproveitei a manhã australiana para ajudar Owen com alguns novos betas. Ele já tinha escolhido e até conversado com alguns rapazes amigos dele, gente em quem ele confiava, mas todos estavam morrendo de medo de ser mordidos e acabarem mortos, o que não aconteceria comigo ali. Dos cinco novos betas que ele marcou naquela manhã, apenas um precisou ser salvo da morte e nunca mais poderia vir a ser um lobisomem. Almoçamos no restaurante de Anne Tower – o alfa ainda não tinha tido coragem de falar com ela sobre seus sentimentos – e eu fiquei até quase catorze horas ainda vigiando os novos recrutas. Fiz uma última varredura em seus corpos com poder de cura e percebi que não corriam risco de morrer, então me despedi de meus amigos australianos e me preparei para voltar para a Europa. Saí de Cooktown as catorze e sete da tarde e cheguei em Lyon antes das oito e meia, o que seria meu primeiro dia com duas manhãs. Eu estava adorando esse poder de viajar com a luz do sol.

Fechei o expediente antes do meio dia, almocei com Chloe, Manon e Emma em um restaurante bem simples, mas precisei ir disfarçado, uma vez que havia gente da imprensa esperando próximo da Galido's, tentando conseguir as notícias da mudança de continente em primeira mão, o que me fez ter saudades de Corey, meu pequeno amigo quimera, que sempre me ajudava nessas questões de ser discreto. Lembrar dele acabou me lembrando de Scott e meu peito doeu demais com a saudade de minha família. Se eu saísse no sol da França as duas da tarde, estaria em Beacon Hills mais ou menos nove da manhã – minha terceira manhã no mesmo dia – e poderia ver meu filhote sem ter que encontrar com meu alfa, que estaria na clínica a essa hora. Já fazia dezessete dias desde minha última visita ao meu pequeno porque acabei me enrolando para adiantar várias coisas e visitar Owen, mas não deixaria de vê-lo ainda hoje.

– Quer dizer que na quarta-feira da semana que vem – comentou Emma animada durante o almoço – estaremos funcionando na Califórnia em definitivo!

– É verdade – respondeu Manon meio cabisbaixo e pensativo, tentando não parecer triste com a notícia, mas não tinha como eles me esconderem nada, nem mesmo Emma sabia que eu podia ler seus olhos. Chloe parecia ainda mais triste, embora tentasse parecer profissional e empenhada sempre.

– Pessoal – falei atraindo a atenção dos três como de costume – eu queria pedir desculpas por isso. Sei que essa mudança de vida é complicada, mas não posso ficar vivendo entre a Europa e a América o tempo todo, preciso firmar o pé próximo de minha família. Agradeço por tudo que vocês têm feito por mim, eu não teria conseguido manter a empresa tão bem sem vocês três, mas não sei se é certo pedir que venham comigo, enquanto suas vidas estão aqui. Se quiserem, posso conseguir colocações por aqui com os outros diretores, embora meu lado egoísta queira muito que venham comigo.

– Não é como se eu tivesse deixando algo importante para trás – disse Emma meio triste – meu único vínculo é uma mãe que não para no mesmo lugar e só me liga querendo alguma coisa.

– Eu vou gostar do desafio – disse Manon se fazendo de empolgado – o resto a gente supera. – Eu sabia que ele tinha brigado com a namorada e não teria como reatar se fosse para a América agora.

– Meu namorado não quer que eu vá – Chloe confessou limpando os óculos – mas é uma oportunidade profissional única. Além do mais, quem vai ensinar você alemão, francês, italiano e espanhol ao mesmo tempo? – Ela brincou forçando o sorriso.

– Eu agradeço a lealdade – falei apertando uma das mãos de cada uma delas, que estavam ao meu alcance – e quero que me deixem saber de tudo que vocês precisarem. Vamos fazer isso dar certo nos Estados Unidos da América!