Olhos Místicos

Pra Sonhar

Enquanto Melissa cozinhava, preparando o almoço a contragosto – ela queria ficar com Elliot, mas eu estava com saudade demais de minha cria e não abri mão do menino – fiquei sentado na cadeira da cozinha com ele no colo. Acordado, o pequeno segurava meu dedo com força e me encarava com olhar insistente, como se soubesse como estava me sentindo e eu beijei sua testa e bochechas, fazendo-o sorrir feliz. Me sentia extremamente feliz e sortudo de ter comido esse pequeno presente, fruto de uma armação, mas que tinha meus genes, meu sangue e marca de meu alfa, transferida pela mordida que me dera em nosso primeiro encontro íntimo.

Perdido ainda nas lembranças de Maltec, remoendo todo o sofrimento que vi em suas memórias residuais, toda a dor que o rapaz vivera, eu fazia um enorme esforço para não chorar e aquilo devia estar explícito em meu semblante, porque até a dona da casa acabou percebendo.

– O que foi que aquele cafajeste aprontou agora? – Ela perguntou se referindo ao rapaz metamorfo puma branco que havia ido embora há poucos minutos.

– Ele não fez nada – me apressei em dizer – só estava tentando aprender uma coisa sobrenatural – não adiantava tentar explicar para ela, Melissa sempre se cansava rápido daquele tipo de assunto.

– E porque você está assim? É por causa de Scott?

– Achei que ele estaria me esperando.

– Ele tinha que trabalhar hoje, mas deve estar tão angustiado quanto você para voltar pra casa, acredite, conheço meu filho.

– Tentei ligar mais cedo, mas me enrolei com os novos celulares, normalmente é Emma quem ajeita essa parte tecnológica pra mim.

– Emma? – Melissa perguntou intrigada.

– Minha... assistente pessoal – falei me sentindo errado.

– Você agora tem uma assistente pessoal – como estamos importantes hein senhor Gabriel! – Ela disse tentando parecer sarcástica.

– Laura insistiu nisso. É tanta coisa que eu não me lembraria da metade. O trabalho de Emma é manter os compromissos em dia e não me deixar perder nada importante.

– Entendo. Espero que Scott leve tudo isso numa boa, às vezes ele é tão turrão quando o assunto é dinheiro. E onde é que está essa sua assistente pessoal agora? – Ela disse ainda colocando ênfase no cargo da garota.

– Ficou com os advogados no hotel, para terminar algumas coisas burocráticas, o que vai me permitir uns dias de sossego por aqui. Deixei um representante confiável e experiente no ramo por lá.

– Alguém que você conheceu na viagem? Gabriel isso é muito perigoso!

– A maneira como o conheci e como ele se sente sobre mim garante que vai ser honesto.

– Como ele se sente sobre você? – Ela perguntou desconfiada.

Contei como conheci Richard e o que aconteceu entre nós e ela pensou por um tempo.

– Acho que é melhor esses detalhes não chegarem até Scott. Você não devia ter se arriscado tanto. Se esse Richard insistir em procurar você, pode acabar gerando brigas.

Era incrível a capacidade de compreensão de minha sogra e ela estava muito certa sobre isso: uma vez que meu alfa estivesse enciumado, não ia conseguir entender porque precisei fazer aquilo. As informações que tirei de Richard me prepararam para lidar com ele de todos os jeitos que eu precisava, mantendo-o longe de mim fisicamente e garantindo sua honestidade e lealdade enquanto meu representante. Como o rapaz era tarimbado nesse ramo, poderia enfrentar mais facilmente pessoas difíceis como Ernest, o que significava praticamente todo o resto da diretoria da Galido's. Suspirei pensativo enquanto a mulher se esforçava para fazer a comida, cujo odor impregnava o ar de forma muito agradável.