Pós-Morte

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Scott McCall segurava nos braços o corpo daquele que havia assassinado. Ergueu seus olhos místicos olhando para todos em volta, com um azul intenso reluzindo em seus globos oculares. Sua face demonstrava angústia e dor quando sua voz gritou um longo e doloroso não, mais rugido do que falado. A laringe, traquéia e laterais do pescoço do cadáver em seus braços estavam tão destruídas que era possível ver seu interior, enquanto o sangue jorrava poderosamente sujando as calças do lobisomem e o chão sob seus joelhos dobrados. Não havia mais vida naquele corpo e nenhuma luz amarela ou dom de cura se fez presente para restaurá-lo. O silencio indelével pesava de tal forma que apenas uma pessoa entre os presentes conseguiu quebrá-lo.

– Ahahahahahaha – ria alto Laura Hale, com a arma ainda nas costas de Melissa, mas não torturava mais os prisioneiros.

A vilã improvável ergueu sua mão livre para o alto e um símbolo em mandarim tingiu de branco o negrume da lua. A forma do morto nos braços do rapaz ficou transparente e começou a se desfazer em uma fraca luz esbranquiçada, sendo absorvida pela terra e acabando de vez com qualquer possibilidade de ressurreição, por mais incomum que parecesse. Perceber isso transformou a expressão dolorosa e angustiada do lobisomem em um semblante de pura fúria. Ele ficou de pé e cerrou os punhos tentando controlar a força animal que ameaçava dominá-lo.

– Você já teve o que queria, liberte minha esposa – gritou o caçador.

– É melhor ser rápida querida – Laura disse no ouvido de Melissa e a enfermeira desatou a correr na direção do esposo, quando a arma foi apontada para suas costas, o dedo pressionou o gatilho e um disparo foi ouvido.

O tiro saiu para cima já que a mão de Scott segurava a de Laura desviando a mira da arma. Ninguém ali presente viu seu movimento, era como se fosse a habilidade de Maltec, o alfa puma branco. Ele mostrou os dentes ainda furioso e a mulher largou a pistola dando passos para trás assustada com sua velocidade repentina. No instante seguinte já havia recuperado sua confiança e usou seu poder sinistro contra o rapaz.

– Alfa, beta ou ômega, nenhum lobo é páreo para a magia da noite – ela apontou a mão para ele e vários círculos dentro de círculos todos negros cortaram o ar como navalhas, rápidos demais para serem desviados e atingiram Scott bem no meio dos peitos.

Um brilho avermelhado em forma de dente consumiu os círculos antes que eles realmente cortassem o lobisomem, uma vez mais surpreendendo Laura.

– O dente de Angus? Impossível – concluiu dando mais um passo para trás.

A imagem do rapaz sumiu outra vez e ele surgiu com a mão esquerda no pescoço dela, o polegar com a garra sobre o centro de sua garganta.

– Mande Alícia trazer meus filhos, agora! – Ele rugiu tentando se controlar, o lado animal queria muito matar Laura naquele instante.

– Você não mata, ela sorriu estalando os dedos – não tente blefar comigo.

– Mani saiu correndo de dentro da casa na direção de Melissa e Alícia Laviollete veio trazendo Elliot em seus braços, calmo como se nada estivesse acontecendo.

– Livre-se desse fraco idiota – ela disse severa para a colega – não me diga que a líder dos magos da noite não pode derrotar um mero lobisomem?

– Entregue o bebê como foi combinado – Laura falou com a voz quase não saindo.

Alícia colocou displicentemente o embrulho de panos no chão e juntou as mãos conjurando algum feitiço enquanto um dos caçadores correu sob comando de Chris e resgatou Elliot. Ela apontou para Scott ainda segurando Laura e uma sombra estranha brotou do chão envolvendo todo o corpo dele, fazendo um sorriso vitorioso surgir na mulher, mas sumir rapidamente quando o brilho vermelho do pingente desfez a magia sem que ela o afetasse.

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