Quatro

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Eu realmente tinha um compromisso, uma festa na Adega 33 , no caminho para casa minha mãe puxou assunto quebrando o silêncio:

— Como Amanda está acabada meu deus, virou caiçara.

Dei uma riso.

— A maresia estraga a pele, não é? — falei

— Não, o que estraga a pele é o sol.

— E as porradas que ela levou do marido — brinquei mas minha mãe não riu

— Acha isso?

— Claro, foi o que o garoto entregou, e pelo visto vieram fugidos. — disse — Odeio homem que bate em mulheres.

Outra causa que nunca defendo.

— Absurdo né, mas vou ajudar ela, queria ajudar o menino também, não tem vaga no escritório de ajudante não?

— Ah mãe, até pensei, mas não, aquele ali vai ser uma atrapalhação, ele parece ser meio bicho do mato mesmo.

— Ah Kauã, dê uma chance.

— Vou ver isso dona Helena, mas não direi certeza, eu não terei tempo para cuidar de um marmanjo manhoso feito aquele.

— Mas ele é uma graça não é? E muito bonito, eita rapazinho bonito. Parece um anjo.

Aquilo eu não podia concordar, mesmo que achasse o mesmo, então fiquei em silêncio.

— Parece até aquelas pinturas antigas, não é?

Apenas balancei a cabeça.
Amanda era muito linda quando nova, e o garoto puxou um pouco ela mas também tinha traços masculinos suaves que talvez tenha herdado de seu pai agressor.

— Arrombado, tá com pressa passa por cima! — apertei a buzina após ser ultrapassado e levar um feixe.

— Ordinário, é assim que acontece acidente, não sei o que esses merdas tem na cabeça — disse minha mãe um pouco assustada com a freio brusco.

— Tem certeza que quer Amanda como ajudante? — disse.

— Sim, podemos dar um salário bom para ela e o menino não é?

— Claro que sim, assino a carteira dela, mas… não sei. Será que é uma boa ideia?

— Vou testar ela uma semana, o que acha? Se for boa a gente fica, acho que ela não vai pisar na bola, ela tá meio que na merda, vai dar valor.

— É assim que a gente se engana.

— Deixa de ser pessimista Kauã!

— Tá certo.

A deixei em casa.
Eu iria para Adega 33, havia marcado com uns amigos lá, mas não era a hora ainda, eu não gosto muito do lugar para chegar tão antes assim, acho um caos, prefiro o Comodoro, mas esse estaria fechado hoje.

Lógico estava muito cedo, mas eu queria dar o fora da porra da casa da Amanda, eu odiava quando mentiam para mim ou me enrolavam. Até concordo, talvez fosse pessoal para caralho aquela situação dela, mas também fiquei pensando no garoto, o pobrezinho parecia um cão que caiu da mudança, nunca viu nem escadas rolantes, imagina só o que mais do mundo nunca viu?
Acredito que vai ser difícil se acostumar, e talvez nunca nem tenha trabalhado na vida, não deva ter nem documentos essenciais, pelo menos é o que penso julgando bem alto.

Parei no bar do Juca para dar uma esquentada, ali na Villa Galvão, já morei aqui antes, quando mais novo, é um lugar ameno, e atualmente sempre muito perigoso por causa da favela da 13 que fica do lado.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora