Oitenta & Oito

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Eu não queria falar com ninguém, queria que todo mundo fosse embora e me deixasse sozinho, mas não queria dar problema, não queria ser estupido com todo mundo, pensei em entrar no meu carro e picar-a-mula, entrei no meu carro batendo a porta abri o portão da garagem, tia Lúcia grudou no meu vidro.

— Kauã por favor fica aqui mais a tia vamos conversar.

Meu pai veio vindo em uma discussão danada com minha mãe, ele estava fulo da vida, assim como eu. Saiu pelo portão que estava aberta e entrou em seu carro parado no meio fio enquanto minha mãe ainda discutia com ele por fim ecelerou deixando ela falar sozinha.

— Velho do caralho, sei nem por que veio para cá — disse ela olhando para tia Lúcia pendurada em minha janela.

Dado momento tia Lúcia puxou a chave do meu carro do contato.

— Não vai sair não, vem tomar caldinho com a tia, eu fiz aquele de abóbora com frango e ovinhos de codorna que você ama.

— Tia... — falei relutando.

Ela abriu a porta.

— Seu pai já foi, vem... vem....

— Que que ele falou para você Kauã? — perguntou minha mãe se aproximando

— Nada, deixa para lá.

— Vem gatão, lindão da tia, cê sabe né que se eu fosse novinha assim como o Taz ia aproveitar cada centímetro desse corpão — disse ela se pendurando no meu ombro quando já saía do carro enquanto o portão da garagem descia.

— Lúcia! — disse minha mãe mordendo os dentes brava.

— Que que foi Nena, não é nenhum segredo para mim não, sua mãe me contou viu — falou me olhando com um sorriso de dentes tortos — Mas fica em paz não vou dizer para ninguém não...

Fez como se passasse um zíper na boca. Eu estava extremamente constrangido mas eu nem ligava dela saber, eu não ligava se o mundo soubesse, eu acho que no fundo eu não queria mais esconder o Taz, caminhamos para dentro e Taz estava na porta me olhando com olhar de desespero.

— Fica tranquilo fio tá tudo bem — disse minha tia tocando o ombro dele.

Vânia também se aproximava.

— O que deu no Aldair? O Kauã já sei que é estouradinho.

Ah merda eu odiava tanto a tia Vânia, ela queria uma briga com ela também?
Passei por todo mundo voltando para o fundo do quintal, me sentei meio emburrado enquanto todos conversavam num puta clima de enterro. Passou alguns segundos, eu não tinha nem coragem de olhar para Taz de novo estava envergonhado, pelo meu pai e por tudo, minha vontade era assumir aquela porra logo e tacar o foda-se mas eu não queria criar atrito entre ele e a mãe dele e nem mais olhares de reprovação dos meus tios ou primos, se não eu brigaria, eu explodiria.
Tia Lúcia deslizou na mesa uma cumbuca com o caldo, o de abóbora com frango, bacon e ovinhos de codorna flutuantes, do jeito que eu gostava, e me deu a culher na mão.

— Prova — disse ela a mim — Gente o caldinho tá pronto viu!

— Finalmente — disse Ju e foi se levantando

Todos foram para dentro servir e aos poucos foram saindo e se sentando diante da mesa com suas tigelinhas, momento mais silencioso e sagrado. Taz se sentou ao meu lado, eu percebi que era ele mas não levantei a cabeça estava concentrado brincando e soprando o caldo na colher.

— Tu é tinhoso igual seu painho né? — disse ele baixinho.

— Tarcísio — falei num tom irritado mordendo os dente.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora