Cento & sessenta & um

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Bufei impaciente mas ainda abraçado nele. Ainda pois quando o Taz me irritava ou quando eu estava irritado eu me afastava querendo ficar longe.

— Tá. — respondi revirando os olhos

— Faz uns dias eu ia falar ontem mas você parecia tão empolgado que não quis estragar seu dia, sei lá.

— Fala logo

— Pedi demissão do trabalho.

— O quê? Como assim? — me afastei o olhando

— Pedi quando voltamos de viagem, daí a Cecília minha chefe pediu para que eu ficasse só mais esse mês.

— Por que fez isso? Taz? — segurei em seu ombro

— É que... eu achei uma casa amor, eu achei um lugar e eu achei lindo, é grande como você quer, tem até um lago com carpas, jardim grama, árvores... E é um pouco longe, é lindo, e — ele tossiu um riso murcho — Da até apara imaginar a gente lá. Eu não queria ficar esperando tudo se ajeitar para morar com você.

— Taz isso não é certo, abri mão do seu trabalho, cê gosta tanto, e tem os animais que você adora. — falei o olhando bravo — Você mesmo falou que a gente podia resolver isso com calma, por que fez isso.

— Tá mas...

— Taz não tá certo isso, porra, qual foi? Não pode abrir mão das suas coisas por minha causa. Isso não é certo, não está certo velho, que porra é essa?

— Você falou que não ficaria bravo. E além do mais sou feito pássaro livre não posso me agarrar as coisas e é isso, eu sempre gostei de viver... sinto que só estou me privando de viver algo que quis durante muito tempo com você.

— Tarcísio porra velho.

— Você prometeu

— Taz! — falei o repreendendo. — Mas isso... isso não é certo.

Ameacei me levantar mas ele me segurou.

— Fica aqui por favor, não sai — pediu — Só me ouve... Eu... Eu amo o meu trabalho

Me ajeitei no sofá, e ele colocou a cabeça no meu peito me abraçando.

— Amava, sei lá, gosto de tudo, tudo amor. Mas eu me sinto cansado, muito cansado — resmungou — queria tirar um tempo, talvez mudar de emprego não seja ruim, conhecer outras áreas ou até mesmo trabalhar no sistema público. Mas essa casa pode ser uma oportunidade pois fica no litoral, e bom tem bastante ONGS de proteção ambiental lá eu poderia tentar.

— Taz. — falei resiliente — Pô falou que íamos resolver isso junto e tu tomando a frente sem nem ao menos...

— Kauã por favor, me escuta. Eu quero isso mais que tudo com você, e ontem vi você falando sobre suas vontades o que me fez ter mais certeza ainda que eu estava no caminho certo, o lugar é grande e lindo, uma casa térrio, tem mesanino, é enorme, tem tudo sabe, móveis planejados, tudo, tá custando o mesmo valor desse apartamento, um pouco mais barato mas é todo. É tão grande que poderíamos casar lá, no jardim. Você vai amar, eu só vi por fotos mas vamos ir esse fim de semana? Só ver, tipo se você falar sim eu fecho o contrato com o corretor ele é namorado da Veronica, que trabalha comigo.

— Taz eu não concordo, você não queria isso, não queria deixar o emprego a família, os amigos... quando você ia me contar que já estava decidindo isso afinal?

— Eu ia apenas inventar uma desculpa dizendo que eu fui demitido e depois dizer que achei a casa. Mas eu não minto para você, não faria, eu sou péssimo em mentir... ontem você me fez ver que eu não iria conseguir.

— Ah que legal, meu namorado fazendo as coisas na minhas costas, além do mais Taz tem sua mãe, sua familia... — retorqui meio bravo

— Minha família agora é você, minha mãe está bem com o namorado e ela sabe dirigir poderá ir ver a gente, e nossos amigos vão continuar sendo amigos. Kauã eu só quero estar com você, em um lugar que seja o suficiente para nós e que tenha tudo o que nós vá precisar. Você vai poder ter sua mercearia, e é uma cidadezinha ali em Caragua amor, cê vai poder dar curso do jeitinho que quer. Lá tem tudo... Podemos alugar um espaço sabe, abrir algo nosso, não sei. Talvez eu possa ir dar aulas também em escolas ou sei la, e lá também tem um Aquário, enfim.

Ele afagou o rosto em mim me apertando no abraço. Mas eu não estava abraçado nele.

— Por favor... — Murmurou ele me apertando ainda mais

O interfone tocou dado momento, e me levantei avidamente para atender, acho que eu já queria levantar, meio injuriado.

— Opa seu Pedro qual a boa? — falei

Boa noite Sr Kauã, tem um rapaz aqui... Oficial Allan. Ele disse que você o conhece pode deixar subir?

Oficial Allan? Demorei a assimilar o nome.

Senhor? — perguntou

— Não, não — falei de imediato — Vou aí. Obrigado. Tchau.

Desliguei. Taz me olhou meio confuso.

— Quem era?

— Nada amor só uma entrega eu vou... — menti indo para porta — Lá pegar, já volto o seu Pedro não pode subir para trazer

Eu devia perguntar se ele estava sozinho, devia perguntar se não há um comboio de policiais o esperando, eu devia fazer uma série de perguntas.
Mas apenas desci, com um certo temor me cercando.

Chegando no Hall, lá estava o policial Allan, vestindo sua destemida farda como se fosse capaz de intimidar alguem, acredito que estava daquela maneira para  me intimidar à princípio, eu não tenho medo de policiais já desci muita bala em marreco, acredito que ele é o tipo de homem que não bota medo em ninguém depois que conhece bem.

— Olha se não é ele, Lobão — riu — Cara eu te procurei em, só te achei depois da reportagem na televisão sobre um tal sequestro... daí o Lobão passou a ser o seu Zé que coisa né? Uma pena ser tão difícil distorcer a mídia, mas sabe como é alguns canas da corporação conhece você.

Falou como se fosse intimo.

— O quê você quer? — falei friamente irritado

— Isso não é maneira de recepcionar um amigo, não é — olhou para todos os lados todos os cantos com certa ganancia — Gostei do bigodinho hein — tentou tocar meu bigode e eu esquivei a cabeça o olhando por cima

— O quê você quer porra? — firmei a voz

— Uma proposta, um serviço.

Eu dei um riso enfadonho.
Aquilo não estava me cheirando bem.
Ele caminhou rumo a área ao ar livre e eu fui em passos rápidos ao seu encalço.

— Allan eu não, eu tô limpo cara, com a barra limpa

— Limpa? Que historinha para boi dormir. — estalou a língua — não sei como conseguiu tudo isso, esse lugar, se livrar das federais mas sabe que consigo te colocar atrás das grades de novo e por mais tempo se necessário.

— Tá legal, merda! Qual o serviço? — disparei irritado.




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A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora