Cento & catorze

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Eu estava me sentindo clandestinamente escondido, fiquei com Gabriel o dia todo aguardando Miguel e Miguel não apareceu, levei Gabriel no parque do condomínio, nas áreas de lazer, tentava pensar que outra alternativa eu teria.
Facção é algo que envolve não só a bandidagem mas cão grande, é como se houvesse um contrato entre o crime organizado e polícia, grande parte dos homens líderes de facção que são preso são homens que são pegos por alguma burrada ou então simplesmente romperam o contrato de fidelidade querendo mudar de vida. Para qualquer efeito preso ou morto em ambos os casos é injusto, no fim das contas são presos como se fosse uma punição menos severa, mas se der muito trabalho te matam e sai no noticiário que nada mais foi do que uma troca de tiro.
Ninguém fica livre não de verdade.

Retorno ao apartamento com Gabriel que a todo minuto pergunta da mãe e a todo instante eu invento uma história diferente, ele parece se contentar, mas não o tanto que eu queria. Não posso faze-lo esquecer, nem eu mesmo fui capaz de esquecer tantos problemas em minha vida.
Ansiosamente aguardei Miguel, eu estava me sentindo como na prisão, mas aquilo não me assustava, não havia nada para fazer, ninguém para contatar. Eu tinha um prazo, somente essa semana para entregar aquela grana ou viriam atrás de mim, observo a maleta, observo a televisão. Observo a maleta o fecho está quebrado parece diferente da que eu tinha, mais surradas, por alguma razão estranha eu não abri aquela maleta, não conferi o dinheiro, caminhei até a mesma de modo curioso a coloquei em cima da mesa e apertei as travas erguendo a mesma, havia notas reais, ao pegar o maço notei que a nota real estava em cima de um maço de folhas sufites, ou seja, não havia dinheiro algum, não havia setenta mil ali. De repente meu peito foi inundado por um ódio, pior que ser traído por mulher é ser traído pelo amigo. Zulu me traiu, filho da puta! É claro que era ele, é claro que agora faz sentido o modo como Zé-do-Corte entrou na casinha a primeira vez com facilidade, e ontem teve acesso ao morro mesmo eu tendo pedido para trancar todas as entradas da favela.
Senti a respiração arfar, o peito começar a doer enquanto eu respirava afavelmente irritado. Se Zulu traiu Formiga por que não me trairia? A porta do apartamento se abriu e eu fechei a maleta.

Taz entrou e logo atrás Miguel e Bazuca.
Bazuca não era meu amigo, mas era muito amigo de Miguel, muito mesmo os dois eram sempre muito próximos.
Me levanto abrupto e assustado. Bazuca olha o local, analisando cada canto, veste uma roupa rasgada de malha fina, agora eu pareço o bacana apesar de estar usando apenas uma camisa branca e um short é notável que os meus panos são de top de linha.

— E aí? — disse Miguel.

Todos se sentaram em silêncio. Taz não estava usando mais a roupa na qual saiu, ele estava engravatado, e como ele ficava bonito empertigado daquela forma. Por um instante toda a euforia que eu estava sentindo a minutos atrás foram sanadas, como se uma onde gelada abraçasse aquele fogo odioso que crescia em mim após ver o Taz. Ele me olhou e desviei o olhar encarando Bazuca, Miguel? Não sei não quero o olhar, ele parece me odiar agora.

— O Miguel disse que tem um jeito, eu falei que tinha — disse Taz tentando conter o orgulho em sua voz pela razão.

— Bom-bom não morreu como muitos pensam, ele apenas saiu do esquema — disse Miguel — Então tipo se ele saiu tem como tu sair também.

Apertei a sobrancelha confuso.

—Não é Bazuca? Solta o papo! — Miguel cutucou ele com o cotovelo.

— É, é... Olha Lobão com todo respeito, da para livrar tua cara da federal. É fácil só que vai custar uma grana alta e um sumiço temporário, recomendo cê até se mudar daqui — disse Bazuca

— De quantos estamos falando? — pergunto

— Muita grana — retorquiu

— Quanto? — insisti

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora