Quarenta

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O Amendoim estava em cima do sofá e Taz foi direto naquela bola de pelo laranja o acariciar, e Amendoim adora um carinho se arreganhou todo.

— Qual o nome dele?

— Amendoim — falei me sentando no sofá e tirando meus sapatos também, coloquei os pés na mesa de centro.

Taz ficou olhando tudo com os olhos, estava mega acanhado no outro sofá, eu peguei o controle do ps4 e o liguei. Ele ficou olhando para a televisão.

Égua, essa tevê é maior que a da minha tia — resmungou e se aproximou com um olhar curioso no controle do vídeo game.

— Bom, eu gosto de jogo de tiro — quando falei ele fez uma cara confusa — Mas acho que não é muito sua praia, as vezes jogo futebol com meu amigo Miguel, tem uns jogos aqui que comprei.

— E não tem CD não?

— Não Taz… — meu deus que mundo ele vive? — Tudo é online. Qual vídeo game você jogou?

— O Mario! — ele falou todo empolgado.

Eu ri. Mas depois segurei o riso, Mario é ótimo, é um clássico, mas eu não tinha nitendo, e provavelmente ele jogou naqueles antigos, nem deve saber que hoje tem até Mario em celular se pá.
Ele me olhou confuso por eu ter rido mas engoli o riso, só que acho que fiquei com expressão jocosa.

— Tá me mangando é? — me deu um murro de leve

— Não, não estou — eu ainda não entendia o que significava mas eu sabia interpretar, acho que mangar é caçoar, zoar. Eu só tinha achado fofinho ele se empolgando para dizer Mário.

Coloquei GTA, GTA V é legal, acho que ele vai gostar. O jogo estava carregando, ele olhava para a tela meio confuso, então lhe dei o controle.

Égua, muito botão esse treco aqui

— Básico, analógico anda — toquei o analógico — L2 mira com a arma, X faz interação, o triângulo rouba as coisas.

Falei tocando os botões e o mostrando.

— Eita! — ele não entendeu nada

Fiquei o obeservado, a primeira coisa que ele fez foi empurrar o analógico e ficou impressionado com os gráficos e o personagem dele correndo em voltas, depois ele decidiu apertar cada botão de uma vez para ver o que cada um fazia, e acabou socando um pedestre.

— Eita moço, desculpa visse, sem querer — disse ele. Eu ri.

Estava achando aquela cena uma gracinha, encostei o cotovelo no braço do sofá e apoiei minha cabeça na mão o olhando, o olhando mesmo, não o jogo. Ele me olhava volta-e-meia acanhado.
Sabe quando crianças estão descobrindo o mundo? Achamos muito fofo, então era quase igual, só que o mais lindo é que ele não era uma criança e mesmo assim parecia estar descobrindo o mundo agora, ele ficou compenetrado, focado, atento, estava fascinado. Tudo que ele fazia de errado ele parecia ficar chocado, por fim ele fez uma chacina no jogo, matou um monte de gente com o carro, e foi perseguido pela polícia, aquilo resultou na tragédia dele batendo o carro num posto de gasolina e explodindo tudo.

— Morri?

— É, tu morreu.

— Não entendi nada — falou ele meio indignado. — O que faço agora?

— Aperta Start ou X para renascer.

— Qual?

Cheguei mais perto dele, e segurei o controle sem tirar de sua mão, apertando.
A chuva não cessava, estava muito forte. Fiquei o admirando durante uma hora, eu caho que o tempo passou e eu não vi, mas chuva não passou, parecia durar a noite toda.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora