Cinquenta & nove

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Olhou a hora eram oito da noite dormimos mesmo, quer dizer ele pareceu não dormir já que parecia estar acordado a mais tempo.

— Não dormiu nego?

— Um cadinho só

— Ah — ele parecia meio quieto —, aconteceu algo?

Eu sabia que ia me arrepender da pergunta mas tava tentado me esforçar em não ser egoísta.
Ele deu um risinho.

Égua, não — respondeu num entoar melhor — Eu só fiquei aqui te vendo, e vendo como tu é bonito, e vendo todas as coisas que gosto em você.

— A é?

Tá aí algo que eu não faria.

— Uhum, gosto da sua pintinha do abdômen.

— Eu não tenho uma pinta no abdômen

— Tem

Tornei a pegar o celular, acendi a lanterna, mirei no abdômen, ele me indicou com o dedo. Eu ri, tinha mesmo mas era pequena porra e os pelos não deixava visível.

— Ah então você ficou explorando meu corpo enquanto eu dormia?

— Nem te conto — ele riu

— Isso é abuso mané — falei.

Ele riu e me empurrou.

— Tem mais uma que eu gosto, no seu pinto — riu

Realmente eu tinha uma pinta no pinto, pequenininha de mais tambem perto do saco.

— Gosto da sua tatto na virilha, ela é massa — acrescentou.

Ri. Essa tem história.

— Que mais?

— Tu tem uma mania quando tá dormindo, cê faz assim com o nariz. — ele enrugou o nariz rapidinho — parece um cão bravo — completou

— Vai se foder truta eu não faço isso

Égua! Tá dizendo que tô inventando é?

— Sim.

— Vou grava, dorme de novo aí vá — disse ele me empurrando.

Eu ri.
Ele riu.

Pairou um silêncio no ar, eu o olhei, porra eu tava muito apaixonado pelo garoto, na verdade eu acho que era um amor, um amor de verdade, mas não sei se eu devia dizer que estava o amando, toda vez eu sentia isso aflorando em meu peito junto com um receio. Acho que eu não queria ele dizendo que me ama MAS... o "mas" sempre tem um mas. Eu não queria que ficasse um clima estranho entre nós, eu não queria que nosso sexo fosse superficial de novo, não queria que eu fosse tão raso.

— Taz, me conta como era sua vida antes, antes de você vir para cá?

— Bom… eu vivia no interior de Bonito, que fica no interior do Rio Grande do Norte, e morava com meu pai e minha mãe em uma casinha, bem pequena, um barracão. — riu — As coisas não eram lá grande coisa não, painho aperreava muito com mainha desde que eu era novo, as vezes amarrava eu mais ela nos pés da cama, pelos pés. Era um homem enervado por demais. Feito tu as vezes, só que pior — ele engoliu seco, acho que ele não queria ter dito essa última frase — Não sei o que dizer o que quer saber?

Pareceu se acanhar. Me aninhei a ele, ele continuou fazendo carinho na minha cabeça em seu peito enquanto eu o abraçava feito um urso. Não queria que ele tivesse passado por situações de merda como a de ficar amarrado.

— Não, sei, cê não sente falta de lá?

— Sinto, mas… lembrar de lá me faz lembrar das coisas ruins também. Acho que gosto mais daqui, ainda mais agora.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora