Cento & onze

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Me levanto da cama, Malu fica confusa mas já entende que as vezes é assim, coloquei minha calça e joguei a camisa no ombro, lavei o rosto escovando os dentes rápido e saindo de casa com os meus chinelos azuis gastos de solado duro. Subi o morro até a Casinha e um grupo de homens estavam agitados por lá, havia um carro parado com marcas de tiros, caminhei até o lado de dentro e ao abrir a porta me deparei com Zulu que deu um pulinho assutado, ele estava junto de outros homens.

— Espero que seja urgente mesmo Zulu — falei já irritado. — Qual é a fita?

— Zé-do-Corte tá vindo revindicar algo que roubamos, ele vai invadir, mas peguei seu malote irmão e tu não sabe — deu uma pausa se virou pegando duas caixas grande de baixo da mesa de escola e colocou as duas caixas em cima da mesa.

— Filho da puta ele estava com meu malote esse tempo todo e dizendo que não havia sido entregue. Por que ele faria isso? — falei confuso.

Caminhei até os malotes abrindo e olhando, havia falta de alguns quilos de cocaína, é claro.

— Ele queria um motivo patrão para tomar o morro de você, para matar você e ter uma boa justificativa para os cara, sabe que homens que dão calotes não tem valor na quebrada. — explicou Zulu.

No caso eu seria o caloteiro por dever a ele.

— Filho da puta — retorqui — passa um recado aí manda os homens não deixar ninguém subir o morro, e ninguém saí também até segunda ordem.

Subo as escadas correndo, e Zulu em meu encalço, abro a porta do “escritorio” empurro a estante empoeirado puxando de trás da mesma uma maleta.

— Essa grana tá contada?

— Sim tem 70 mil aí. — gaguejou

— Lavada?

— Sim pô, eu que contei — explicou Zulu.

— Beleza, me empresta sua arma deixei a minha em casa — falei me dando conta da burrada, coloquei minha camisa — vou levar a maleta de dinheiro e esconder em casa, o filho da puta do Zé vai vir atrás dessa porra desse malote, se ele pisar no morro é para descer bala nele.

Zulu me esticou sua pistola, eu nunca saio de casa de madrugada sem arma mas a minha cabeça estava a milhão na hora em que saí, acabei por esquecer. Peguei a maleta e saí da base, dei sinal para dois dos homens de lá me dá cobertura e me acompanhar.
Subo na moto, Picolé monta logo atrás na garupa, outros dois em mais duas motos.

— Vigia a casa Zulu.

— Já é o morro tá fechado, ninguém entra e ninguém saí.

A adrenalina do Corre é algo inenarrável, quase como se fosse tomado por um pouco de codeína no cérebro.
Ao nos aproximarmos da minha casa notei a luz acesa e dei sinal aos homens fazendo parar antes, não me recordo de ter deixado a luz acesa. Desço da moto e passo a maleta de dinheiro para um dos meninos.

— Leva essa porra lá para baixo, esconde em um lugar fácil — explico.

Dou sinal ao outros para que dêem a volta na casa, e desço a pé a rua que é uma ladeira. A nossa casa tem um muro baixo e com grades mas o portão da qual nunca se fechou completamente está aberto. Um dos meninos pula o muro lateral me dando sinal com a cabeça e avanço pé ante pé com a arma em punhos, engatilhada, empurro a porta com o canho da arma e a mesma estava só encostada, tenho uma sensação estranha. Ainda bem que fiz uma cirurgia no coração há duas semanas atrás imagina eu infartaria só de ver o portão aberto.

Ao abrir a porta Malu me lança um olhar assustada, ela está sentada na cadeira, Zé-do-Corte segura seus cabelos inclinando a cabeça dela e uma lágrima escapar dos seus olhos ao me ver, outros dois homens apontam a arma para mim e intimamente levanto as mãos com a arma em punhos.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora