Trinta e nove

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Tenho alguns amigos policiais então… foi fácil, o arrombado morreu lá dentro após eu pedir para um detento matar ele, foi complicado, tinha grana envolvida no meio. Não me arrependo mesmo. Depois tive que demitir o merdinha que gostava de defender abusadores, as vezes a lei afeta nossa moralidade, e acho que casos assim podiam fazer eu questionar se o que é mais importante a moral ou a lei? Nesse caso minha moral é mais importante, eu não defendo essa corja.
Então se já houve pessoas que morreram por minha causa? Sim, mas que eu matei com as próprias mãos? Não. Eu não era tão monstruoso assim.

— Os melhores dias de sono que eu tive desde que meu irmão morreu foram na praia, com você fazendo carinho em mim. — falei bem baixinho. Tirei os olhos da chuva o olhando. Aquilo era a mais pura verdade. — Eu ficava ansioso para receber seu carinho todas as noites — acrescentei.

— Tu nem deixava eu te tocar.

— Mas eu gostava moleque.

Houve um silêncio entre nós, ele olhava a chuva, eu apesar de o fitar em instantes, virei a cabeça voltando a olhar a chuva também, acho que olhar para ele era pior.

— Eu adorei, cada minutinho. E eu sei que eu sou explosivo, bravo, de rocha que nem você diz.

Então ele riu e me olhou e eu olhei para ele confuso, os olhinhos dele estavam cheios de lágrima, mas ele não estava chorando.
Sabe quando chora e alguém te faz rir? Foi isso que aconteceu com ele, como ele é lindo, merda.

— O quê?

De rocha é quando a pessoa é leal, tipo eu sou de rocha com tu, eu sou leal a ti, entendentes?

Eu ri. Aquilo quebrou o clima de merda, ufa que alívio, então eu Estiquei meu braço até seu cabelo, segurando alguns cachos na ponta dos dedos.

— Oh lorinho, não me ignora não — Murmurei com a voz manhosa, e ele me olhava tão manhoso quão — Eu sou, muito difícil de agradar e muito complicado as vezes, e duro com as coisas mas você me amolece.

Tentei não levar essa frase no duplo sentido mas a mente dos homens são perversa, ele foi o primeiro a rir, e seus olhinhos que estavam cheios dexou escapar a lágrima, e por um momento imaginei como seria ele rindo de felicidade até chorar, eu ri também. Não foram gargalhadas apenas tossida de risos que escaparam.

— Olha acho que amolecer não é bem o intuito — disse ele e eu ri.

Caralho eu gamava de mais no moleque.

— Eu nem sabia que eu era ciumento, e olha só… eu morro de ciúme de você, mas… não como seu pai, pelo amor de Deus. Não, eu jamais te encostaria um dedo sequer, a não ser que você quisesse — falei baixinho.

— Eu não quero ainda — retorquiu ele

— Tudo bem, porra mermão do tempo que tô mais tu e tu tá me enrolando, cê acha mesmo que tô com pressa?

Minha voz tava manhosa de mais, entonar grave e o som baixo a tornava ainda mais tênue e grave, até mesmo para os meus ouvidos.
Ele estava avermelhando-se como se estivesse sendo tomado pela vergonha, meus olhos olhavam os olhos dele, e ambos de nós estávamos ali, se namorando, de algum modo, sem nos encostar de verdade.

— Eu não consigo tirar você da cabeça, nenhum instante, e cara por favor não me compara de novo com o seu pai… — falei aquilo realmente tinha me irritado

Houve um breve silêncio, desci minha mão do seu cabelo até se rosto o acariciando.
Moleque lindo do caralho!

— Ele tá vindo, atrás de mim e mainha. — soltou Taz.

— Quê? Como assim?

— Creuza uma amiga de minha mãe que disse, que ele fez as malas e se embicou isso faz um mês quase três semanas já  — seus ombros que estavam tensos relaxaram como se tivesse se livrado de um peso — Ele é um homi ruim, ruim por demais — abaixou o olhar — Conhece as coisas, conhece São Paulo, sabe onde a Dinha Letícia mora pois uma vez ele viajou para cá a trabalhar visitou ela, depois chegou contando a mainha como foi, e eu era pequeno, mainha não podia ter vindo e me deixado lá, chorou aquele dia como se tivesse morrido alguém, eu não entendia não. Meu pai é homem ruim e não tem medo de nada não visse...

— Também sei ser ruim ué. Vou deixar nada te acontecer não pô.

Ele riu com os olhos cheios e negou a cabeça como se não acreditasse no que eu estava falando. Segurei no queixo dele fazendo ele me olhar.

— Não vou deixar. — então concordou com mais perspectiva e eu fiquei mais tranquilizado.

Puta merda eu tava babando por esse menino, tudo nele me fascina, até mesmo ele chorar me fascinava, o sotaque dele, a fala, os modos, os olhares merda, eu sentia meu organismo entrando em pânico, quase como se dentro da minha cabeça todos os meus neurônios estivessem lutando entre eles, uma grande batalha sentimental que eu não conseguia entender. Uma vez vi o sobrinho da Fatinha assistindo um desenho, Divertida Mente o nome, e os bonequinhos entravam em pânico na mente, era algo assim que ele causava em mim.

— Eu acho que ele tá mais perto do que posso imaginar, eu achei ter visto ele dia desses, anteontem, quando estava saindo de casa. — ele falou com a voz embargada.

— Sua mãe devia ter dado parte dele na polícia, isso sim, conseguido uma medida.

— Ele num tem medo não Kauã, num tem não — falou com os olhos cheios.

— Esse filho da puta, devia estar morto.

— Não fale isso não Kauã, ele é meu pai visse… — disse ele me olhando feio e eu desviei o olhar me sentindo culpado pela minha fala — Viu, tu pensa igual ele as vezes.

— Desculpa, desculpa, desculpa —  falei baixo — desculpa eu só… merda, é só o meu jeito de falar, eu… vou parar.

Eu nem conseguia me explicar. Liguei o carro silenciosamente, a chuva estava muito forte, mas mesmo assim eu tinha que levar ele. Entretanto não deu outra, o centro estava um inferno, então imaginei a Dultra, se ele tivesse entrado naquele ônibus provavelmente estaria ali no centro ainda, se ele pegar outro agora, vai chegar lá só amanhã, a área perto do aeroporto deve estar um inferno.
Desci para uma rua paralela pegando um caminho contrario.

— Está tudo parado por conta da chuva, então vou levar você lá em casa.

— Não, eu posso pegar o ônibus — disse ele todo inocente.

— Eu acho que o ônibus não vai nem chegar no ponto com esse trânsito, se existe um dia que não se pode chover em Guarulhos é sexta-feira ou véspera de feriado, todo mundo quer ir para casa e da curto-circuito. — Se a chuva passar te levo mais tarde beleza? E pode ficar tranquilo, eu não vou fazer nada, mesmo… cê pode jogar vídeo game, já jogou vídeo game alguma vez?

— Já — disse ele com um sorriso — Mas faz muito tempo.

— Então.

Ao chegar em casa, sugeri para entrarmos pelos fundo, isso por que os homens vieram trocar o portão e portanto eu tinha limpado toda a sujeira ontem e não coloquei tapete de entrada para secar os pés nem nada, nossos pés molhados iam sujar tudo de novo a sala, já a cozinha havia um carpete de entrada e não tinha problema sujar a cozinha, por que eu  não cheguei a limpar ela totalmente. Passamos pelo cantinho no corredorzinho evitando a chuva que caia brutalmente, e entramos pelos fundos, fui direto na geladeira, eu acho que eu precisava beber algo. Taz ficou paradinho perto da porta, então ao invés de secar os sapato ele os tirou ficando descalços, tudo bem... eu já estou ficando acostumado, os pézinhos branquelos dele estava vermelho dos sapatos, realmente aqueles pés não foram feitos para ficar presos.

— Pode entrar, sinta-se em casa, quer beber algo? Tá com fome sei lá?

Ele negou com a cabeça as ofertas e entrou, eu fui, o banheiro rapidinho e ele pareceu me esperar ao lado do balcão, quando sai segui para  a sala e ele no meu encalço.

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Kkkkkk que situação, Kauã é corajoso eu já tinha desistido.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora