Cento & trinta e seis

1.2K 137 16
                                    

Eu estive buscando paz, e juro que tentei da forma mais tranquila, mas o mais difícil é entender que o caos me acompanhava até nas coisas mais simples da vida. Eu tinha uma vida antes, e tenho outra agora, e tudo está de ponta cabeça.
Em resumo apaixonado por outro homem, e tudo o que mais busco em minha paz é a sensatez de ter um dia de trabalho exaustivo e alguém para deitar na mesma cama que e eu. A vida as vezes parece criar alguns problemas que sempre retornam para mim quase como se o universo estivesse conversando comigo.
Eu estava com dívida aberta, não com o Taz, mas com o mundo, com meu melhor amigo Miguel, eu tinha de me resolver com o Zé-do-Corte e agora meu mais novo problema: Gustavo. Não dá para simplesmente fugir, viver escondido, não consigo ter essa vida fingindo que nada está acontecendo.

Mirela está com a mão apoiada sob o rosto debruçada no balcão da nova mercearia de Miguel, Bazuca me dissera que se eu quisesse encontra-lo de surpresa deveria ser ali, peguei um Uber até a mercearia perto do centro comercial de Guarulhos, e claro que não demorou muito e Taz me ligou, ele me ligou umas mil vezes, ignorei prontamente as chamadas, e não só isso deixei o celular no mudo, não podia falar agora. Presumo a falta de confiança que cresceu em Taz depois que o deixei em casa para ser preso por uma vingança idiota contra um bandido que matou o policial corrupto do meu irmão, há quase sete anos atrás. Presumo que agora para Taz, ele ache que estou aprontando alguma e como negar que não? Eu preciso de uma arma, eu preciso da minha arma, não que eu vá fazer algo, mas eu senti que a precaução deveria estar em primeiro lugar, era como se aquilo me trouxesse uma necessidade da qual eu sabia que Miguel iria recusar, mas a arma é minha e não se pode ficar com algo que é dos outros. Eu devia ter pego ela antes, muito antes.
No fundo eu não queria ver Miguel, pois dói ver o modo como ele tem sido indiferente de mim.

— Mirela, tudo bem? — ela se ajeitou avidamente ao me ver.

Mirela é boa menina, mas parece ter medo de mim, sempre me olha meio assustada, de um modo cabreiro, eu conheço as três filhas de Miguel, e as três tem o mesmo olhar desconfiado sob mim, parecem me julgar de certo modo, talvez seja o meu tamanho já que ela é quase uma anã de um metro e meio.

— Ka-ka-Kauã, oi... — disse ela gaguejando assutada.

— Cadê o seu pai? — pergunto

Ela me olhou meio assustada, quase engolindo as palavras de certo estava em dúvida se devia dizer ou não, como se eu fosse fazer algo contra o Miguel, mas a verdade é que mesmo que Miguel frequentasse o morro quando eu estava liderando a bocada ele se mantinha ausente das trambicagem, não fazia absolutamente nada de errado, não ficava em dívida com ninguém, não devia drogas pois não usava, não fumava maconha pois havia parado, o negócio dele eram os jogos de bar e a cerveja, mas então Miguel saiu de um quartinho, uma porta atrás do balcão com uma bacia de frutas na mão.
Parou me olhando feio ao se separar com minha presença, usava aquele chapéu velho e verde com aquele bigode falho e cabelos castanhos, não mais tingidos de louro, que vazavam para fora do chapeu. Parecia o Luigi do jogo Mario, tento conter o riso ao pensar nisso, ele odeia esse apelido novo que deram a ele.

— Que que você quer mano? — disse num tom meio amargo.

— Calma eu só... só... Vim me desculpar com você, e trocar uma ideia... — falei tentando iniciar uma conversa pacífica, mas a quem eu estava querendo enganar? Me desculpar nunca foi o meu forte exceto ao Taz, ele sim me fazia pedir desculpas verdadeiras.

— Eu já ajudei você mais do que devia, já está desculpado. — disse passando por mim e fui em seu encalço.

— Qual foi Miguel? Cara...

— O fato de eu te desculpar não significa que eu deva ser seu amigo... beleza? Então segue seu rumo sem embaçar na minha.

— Eu tô diferente cara, digo amis tranquilo. E porra Miguel cê foi meu melhor amigo, de verdade eu sinto falta de você — agora fui sincero até de mais

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora