Cento & sessenta & nove

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Taz cruzou os braços diante de mim me olhando de cara feia. Não tinha haver com casamento, não tinha nada haver com ideia de querer casar ou não, aquilo já estava decidido, eu iria casar com ele e ponto final, eu só queria uma maneira de manter ele seguro nesse casamento.

— Eu não sinto que você está seguro, nem comigo nem sem mim, tá bom? Não tem haver com casamento em si, mas comigo por que eu fiz muita merda amor, eu matei pessoas e minha cabeça vale ouro literalmente isso, tem ideia de quantos filhos de dono de biqueira mandei matar? Isso me acompanha, até hoje, Taz eu não sou bom, não sou bom como você, eu sou mais o vilão da história do que o mocinho. O Allan foi atrás de mim, eu sei, já fazem-se meses fizemos uma vida aqui, mas e se acontecer de novo? Eu não consigo um emprego registrado, além da porra da ficha suja, eu posso ser literalmente caçado pelos canas. Você querendo ou não ainda namora a porra de um bandido, foragido. Não dá para brincar de contos de fadas sabe? De vidinha perfeita.

— Se não quer casar comigo é só falar. É só dizer Kauã.

— Eu quero Taz, quero muito — segurei a cabeça dele o fazendo me olhar — é a garantia que eu tenho de que se um dia eu morrer....

— Preto... — ele falou sendo morosamente resiliente tentando me empurrar.

— Se eu morrer — insisti com voz firme mordendo os dentes —, se eu morrer você vai ficar bem. Toda essa merda esse dinheiro vem de coisas tão erradas, mas me salvou várias e várias vezes, sou grato a isso.

— E o que quer? Voltar para favela, ficar traficando por aí feito um louco? Ver o Gabriel crescendo junto do perigo? Por que isso agora. Por quê Kauã? Não entendo a onde quer chegar com isso.

— Bazuca me falou que precisam de mim, que ainda me respeitam lá dentro como se eu fosse um líder e não só isso existe uma cambada de homens na cadeia querendo saber meu paradeiro por que eu fornecia os caras. E beleza, a gente forjou a morte, muitos acreditam que sim mas quem me conhece sabe, viram o Gabriel na televisão e os caralho, daquele lance do Zé. Eu não sei amor, eu não sei, só sinto que não acabei com nada disso, não de verdade e sinto que posso ser útil.

— Útil para que? Para o crime? Caralho eu não estou ouvindo isso.

— Não, eu estou falando da gente, útil pela gente

— Eles arrumam outro cabeça Kauã, você não é responsável por essa merda! — ele falou meio revoltado, em seguida segurou meu queixo — Olha para mim, promete para mim que não vai voltar para essa merda de vida? Esquece essa porra! Égua, esquece tudo isso.

— Eu não tô dizendo isso eu só disse que eu queria uma arma. Só isso. A gente podia ter uma né? Pelo menor para se proteger. Eu não vou voltar para a vida errada eu só quero uma garantia de que nada vai acontecer.

Taz se levantou, acendeu a luz do abajur meio pensativo e foi até a porta do quarto, segurou na maçaneta de modo redutível para sair do quarto mas paralisou, mordeu os lábios de maneira ainda mais pensativa e me olhou com aquela expressão sugestiva.

— Kauã? Você não tá fazendo todo esse rodeio para ter uma arma, não é? — falou ele se virando — Você, você já está com uma arma, não é? Você já tem uma escondida de mim e só quer o meu aval... Não é isso?!

Engoli seco.
Não conseguia mentir para ele quando ele me colocava contra a parede. Podia ser bom em enganar o Taz mas não em mentir.

— Nego... É que...

— Eu achei que era coisa da minha cabeça, mas eu vi no dia que o Bazuca e o Miguel veio com a Lisa e vocês estavam perto do carro conversando e ele te deu algo, que pensei que era seu celular. Não sei, não reparei... cadê?

Taz caminhou em minha direção.

— Mô.

— Cadê a porra da arma? Kauã! Você tá ficando paranóico, você... Por isso não dorme direito você não consegue simplesmente deixar a porra do passado para trás!

— Amor é para nossa segurança!

— A onde você colocou? Eu não vou perguntar de novo!

— Nego... — insisti

— Kauã! Fala a onde tá o caralho da arma, fala! — ele mordeu os dentes quase gritando

Olhei para a parte de cima do armário, meu olho correu quase que de maneira inesperada e ele sacou, ele caminhou até o armário do guarda-roupas e bateu com a mão dando um tapa na madeira da porta.

— Está aqui? Responde porra?!

— Não fala palavrão para mim! — rebati de volta fumegando.

— Vai se foder! — ele disse e senti meu sangue subir. Se tem algo que me tira do sério é ele falar palavrões para mim!

Ele abriu a porta, fuçou daqui e dali enfiando a mão debaixo entre as cobertas, até que finalmente puxou a arma. Eu já logo me levantei, claro era capaz dele me sentar bala, me assustei para falar a verdade pensei que ele não fosse achar.

— Amor, deixa isso aí.

— Deixar isso aqui? Eu juro que se o Miguel e o Bazuca vir aqui trazer problemas eu vou... Eu vou... — ele apertou a arma batendo com a parte da coronha em sua testa.

— Taz me dá essa porra aqui — avancei

— Não — ele falou se esquivando antes que eu o alcançasse. Fui para cima e ele me empurrou com tudo com um olhar furioso — Não!

— Tarcísio — mordi os dentes alterando a voz assim como ele

— Escuta Kauã...

Fui para cima dele com tudo grudando o corpo dele contra a porta do guarda roupas.

— Me dá essa droga. — falei enquanto ele esticava o braço sem deixar eu pegar.

— Vai se foder!

— Não fala palavrão para mim!

— Vai se foder! Vai se foder! — ele gritou com aquela voz rouca dele.

Em seguida esticou o braço ainda mais enquanto eu tentava tirar a arma da sua mão, Taz era um irresponsável, ele nem sabia se arma estava carregada ou não, mas por sorte não tinha nenhuma bala ali dentro, eu pressionei meu corpo contra o dele o espremendo contra o guarda-roupas, apertei a mão dele  abrindo seus dedos e tirei a arma de sua mão, colocando a mesma em minha cintura presa no elástico do calção, e naquele instante ele veio para cima de mim com tudo, estufei o peito e ele começou a dar uma sequência de pancadas em um chilique nervoso. Eu tentei segurar seu pulsos.

— Você não vai fazer isso comigo, não vai me deixar de novo, você não.... — a voz dele embargou no choro

— Tarcísio! — eu gritei tentando segurar seu pulso.

— Você não vai, Kauã você não vai me deixar de novo... Você não pode fazer isso comigo — falou caindo no choro — Não pode.

Segurei um dos seus pulsos para que ele parasse de me estapear e socar, mas sua mão livre atingiu meu rosto, não foi um tapinha, foi um puta tapão que fez até minhas vistas escurecer.



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Na véspera do casório o pau torando. Queima kengaral irri!

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora