Quarenta & sete

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Coloquei a calça jeans sem cueca mesmo, é bom para o malote dar uma respirada, espero não ficar duro por que se não vai incomodar pá porra.

— Cara fala logo!

— Porra Miguel cê é fofoqueiro hein, dona Juju — falei

Dona Juju é o nome da velha fofoqueira aqui da rua. Ele riu.

— O pai do garoto veio do Rio Grande, tá tocando o terror — falei aboatoando a camisa branca

— O que deixou a Amanda naquele estado de merda?

— É

— Nossa se a Amanda fosse minha mulher eu jamais quebraria os dentes dela ou deixaria ela naquele estado, aquela muié era uma beldade, parecia a Grazi Massafera na versão mais loira,  lembra?

Fiquei quieto enquanto passava perfume e desodorante. Grazi Massafera é foda Miguel tem cada ideia

— Vai sair com o menino?

— Não, vou acampar...

— Sério, que bacana!

— Na porta da casa dele, vou esperar o filho da puta e sentar bala.

— Ou, ou, ou, pera aí! Cê vai ficar na porta do moleque?

— Vou, tem ideia que ele socou o rosto do menino, que dizer… machucou o Taz, mas Taz vai ficar bem, já o pai dele. Aquele filho da puta vai comer minhas balas, to levando a 9mm se der merda minha outra arma tá aqui no guarda roupas, já sabe né? Some com essa porra.

Era para isso que o Miguel servia.

— Porra cara, não quer que eu vá junto?

— Não caralho, já tô cheio — falei me olhando no espelho alisando a barba.

— Vai apagar o cara mesmo?

— Vai depender dele, pretendo só dar um apavoro, meu réu primário gasto com o Formiga... ou não, sei lá.

Ele negou com a cabeça. Me retirei do quarto após colocar os sapatos, e dirigi feito um louco até o Ponte Alta de carro, parei o carro na frente da casa do menino, me olhei no espelho, penteei o os cabelos castanhos escuros com os dedos para o lado. A minha camisa era meio apertada na região do peito, eu havia me esquecido que essa em especial salientava o peitoral largo e não era bacana, por que era uma camisa social, se eu estendesse o braço era capaz de estourar, ou rasgar. Merda a pressa é inimiga da perfeição mesmo, dobrei as mangas da camisa, e sai do carro, acho que eu não estava vestido para matar, ou estava? Estava vestido para advogar. Pelo menos amanhã já vou daqui para o trabalho pronto.

Sai do carro olhando a rua, que era pacata e calma, não havia ninguém, fui até o portão e apertei a campainha. O cão começou a latir e Letícia apareceu, sumiu e daqui a pouco Taz apareceu, que alívio do caralho, pensei que ela diria que ele foi embora.
Ele abriu o portão mas eu não iria entrar, apenas me encostei no batente e estendi a ele a caixa do celular e sacola de comida mexicana.

— Kauã — ele murmurou cabisbaixo.

Aquela voz rouquinha tava me destruindo, a voz dele já era um rouco natural, mas aquela rouquidão era pior, tava tão falha que quase não saia.

— Desculpa não ter atendido o telefone, é um pedido de desculpas, aceita vai?

Ele entortou a boca, tentou resistir mas pegou. Então me olhou, merda eu não consegui olhar para aqueles olhinhos tristes e machucados.

— Que isso? — disse agitando a sacola

— Ah, é comida mexicana — meio que abri a sacola — Tem taco, burritos, nachos… — ele me olhou confuso, acho que eu estava falando grego — Hum.. Cê vai gostar.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora