Oitenta

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Quinta feira cinco da tarde eu me arrumava para sair do escritório, eu tive uma semana meio foda reuniões com advogados importantes, audiências, tive de livrar um moleque novinho que estava traficando por ai, além de ajudar aquela garotada — Janaína —,  aprendiz de advogados do meu escritório.
Eu estava meio preocupado com o Taz, tentando dar o tempo que ele queria sem encher o saco mas tentando o vigiar, eu observava o Hortifruti da janela e não o via, ele parecia estar trabalhando sério lá dentro, quer dizer, eu nem sabia se ele estava lá, eu também não liguei, nem enviei mensagem e ele não era do tipo que postava status, ou stories sei lá. Ele não postava nada, mas trocou a foto de perfil para um macaco sorrindo. Esse menino não gira bem da cabeça.

Confesso estou incomodado, já ficamos longe uma vez, mas agora era diferente, não estávamos brigados, não estávamos nos desentendendo, só estávamos não sintonizados e não sei se um tempo era a solução, aquilo tava me deixando ansioso de mais.

Meu celular vibrou no bolso e peguei rapidamente pensando que era o Taz, é assim essa semana toda, o celular vibra e penso que é ele. Eu estou pirando, tão preocupado que ando vigiando sua casa com medo do pai dele aparecer e fazer algo, mas enfim, não era ele, para o meu azar.

Era uma mensagem de Tubarão, um sinal verde, liguei para Miguel enquanto saia do escritório.

— Opa!

— Miguel dia de evento hoje, tá ligado né?

— Hoje, ah pô, hoje ia ter jogo.

— Foda-se cancela o jogo faz o que eu te pedi, já te enviei foto do Jorge. Certamente ele vai estar lá, ele fica ali na esquina passando drogas, vê se pega leve, vai com calma beleza? Qualquer coisa me dá um toque.

— Ainda tô no trabalho, saindo daqui vou lá.

— Certo...

Então escutei ele falar no fundo:

— Tarcísio aí não sai daí, Taz. TAZ. PORRA! — a ligação foi encerrada.

Me peguei rindo do nada. Eu queria tanto saber dele, como ele estava. Essa ideia de tempo era uma idiotisse embora as vezes eu passasse na frente da casa dele ou ficasse lá olhando para ver se o pai dele estava por lá nem sempre eu o via e eu estava morrendo de saudades do garoto.

Saí do escritório, e fui até meu carro que ficava no estacionamento na frente do escritório e era a céu aberto, quando abri a porta do carro vi Taz. Meu peito pareceu derreter.
Ele estava em cima de um banquinho, pés descalços, e pendurava bandeirinhas coloridas de festa junina na porta de entrada do Hortifruti. Estavam enfeitando o local.

Taz vestia um macacão, eu não via meninos de macacão, ou melhor nunca reparei, era um macacão jeans não desses de trabalho, ou como de oficina, era um macaco jeans e uma camisa de manga (estava um pouco frio) com 3 botões na altura do peito e listas amarela fosca e branca, usava um gorrinho branco na cabeça, uma touca que puxava seus cabelos loiros para trás mas também o deixava amostra, e por estar frio ele estava bem coradinho. Ele estava... Bonito, bonitinho no estilo Taz. Sabemos que Viados se vestem meio diferente, mas Taz não se vestia como os gays que eu via por aí, ele era meio excêntrico quando se tratava de vestes, nem sempre usava coisas que não combinavam muito e eu gostava. Fui tomado pela coragem da saudade e quando me vi já estava em cima dele.

— Oi — falei nem me lembrando de ter atravessado a rua tão rápido.

Ele se virou em cima do banco me olhando com o braço esticado para o ar, retomou o olhar amarrando o barbante de bandeirinhas e depois desceu, quase caiu e segurei em seu braço, ele riu. Ele gargalhou da sua quase queda ficando ainda mais vermelhinho e me peguei rindo também mas eu nem sabia do que estava rindo, nem foi tão engraçado o seu desastre, acho que o meu riso era de ver ele e ao me dar conta disso fui tomado por uma vergonha.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora