Setenta & dois

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Merda minha mãe tinha a chave de casa, as vezes ela vinha aqui trazer alguma faxineira, limpar, pegar algo ou em caso de emergência, até mesmo para meu pai guardar o carro dele na garagem se necessario, mas ela sempre, sempre, sempre avisava antes de vir que viria, era o meu acordo com ela, pois assim dava tempo de eu esconder minhas merdas, mas eu não podia mais esconder o Taz, meu pai nos pegou num flagrante e agora eu não podia esconder a maconha, que foi a primeira coisa que se passou em minha cabeça quando ela deu as costas, eu escondia até de Taz, mas ontem nem me lembrei e ele nem notou no meu cinzeiro na mesa de centro da sala.
Eu sabia que viriam o cigarro lá, pela metade, eu esqueci, realmente esqueci.

Não deu outra cuzão, quando desci as escadas meu pai estava parado no meio da sala segurando metade do cigarro de maconha na mão e minha mãe estava sentada com seus cabelos curtos e brancos com o óculos na ponta do nariz mexendo no seu celular de modo empoderado.
Quando parei na sala, ele lançou o cigarro de maconha na minha cara.

— Nem te reconheço mais moleque, que porra é essa Kauã? Quem é você? Além de dar o rabo tá usando drogas?!

— Aldair — disse minha mãe num tom repreensivo.

— O que você apoia isso? Isso é inadmissível.

Peguei o cigarro de maconha do chão, e olhei para Taz que me olhava com olhos vigilantes parado no meio da escada, ele não havia gostado muito daquilo, engoli seco, eu até posso ser advogado mas não significa que eu leve uma vida toda nos conformes, não sou santo, ninguém é. Minha mãe embora dona de uma floricultura foi durante anos professora e se aposentou, atuou como diretora e se tornou uma ótima analista de comportamento. Respirei fundo, eu sabia que ela ia analisar eu e ele como se fossemos duas criancinhas.

— Não eu não apoio, estou muito decepcionada, mas Kauã não é nenhuma criancinha — disse ela e dei graças a Deus pela sensatez  — e você também não Aldair, senta os dois… que dizer os três.

Indicou Tarcísio com o queixo.
Meu pai meio que riu negando com a cabeça.

— Eu não queria nem ter vindo.

— Sentem-se estou esperando. — disse com autoridade tirando seu óculos e colocando o celular de capinha rosa com glitter na mesa de centro.

— Tô bem em pé, obrigado — disse eu

Meu pai me olhou atravessado.

— Vou trata-los igual crianças, já que não sabem fazer o mínimo — disse minha mãe me encarando por cima, aí está algo que odeio — Kauã, você não sabe que é feio usar drogas? — falou com a voz doce de modo teatral — que feio.

Eu odiava quando ela encarnava a professora, a diretora, tudo menos a minha mãe, e acho que ela sabia por isso fazia de propósito aquela postura de floreio infantilizado como se falasse com criança.

— Ah dona Helena…

— Dona Helena não, aqui eu sou sua mãe, senta na porra do sofá e não me tira a paciência não — ela disse com brandura.

Agora sim falou que nem a Helena que eu conheço. Assim como ela sabia me provocar ao me tratar feito criança, eu sabia incitar nela a quebra de postura.

Tentei hesitar, contrariar meu pai ok, mas contrariar minha mãe era comprar briga com o capeta, Taz tocou meu meu ombro e eu que já estava querendo hesitar mesmo sabendo que minha mãe era dura na queda, me sentei contra minha vontade.

Então o sofá ficou pequeno, meu pai na ponta, eu no meio e Taz na outra ao meu lado e minha mãe na poltrona a nossa frente.

— E aí "meu chapa"? — ela engrossou a voz fazendo um tom jocoso como se estivesse zoando a nossa maneira de falar até por que eu meu pai as vezes nos cumprimenrtavamos assim "e aí meu chapa" — Como vamos resolver essa situação?

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora