Cinquenta & um

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Avancei o carro alguns metros e então parei, desliguei o carro numa vontade da porra de chorar, notei ele parado no portão debaixo do toldo a cobertura que o protegia da chuva com as chaves do portão na mão, olhando confuso o carro parado. Eu abri a porta, e desci do carro.
Fui mais para o meio da rua, e a chuva estava começando a ficar forte, eu então abri os braços. Ele deu um riso, olhei para a luz do poste, para o céu de nuvens escuras e trovejante.

— O que você está fazendo? Endoidou foi? — gritou ele em meio ao barulho da chuva.

Eu acho que agora eu podia chorar por que a água da chuva se misturaria com as lágrimas, passei a mão no meu rosto completamente molhado o olhando.

— Estou lavando a alma. — falei

Ele riu, aquele riso, daquele modo inocente e doce. Abaixei os braços o olhando.
Taz ficou parado por um segundo me admirando, talvez como eu o admirava, e eu acho que era isso a liberdade que ele prezava, com ele eu me sentia livre cara, livre para fazer coisas idiotas, mas eu queria tanto que ele me ensinasse a ser como ele pois eu admiro o fato dele ser livre sem nem precisar de um outro alguém, sem nem precisar de mim, eu só era mais feliz com ele perto. Ele ainda risonho abriu o portão seu cãozinho escapou correndo e pulando vindo em minha direção, em seguida ele veio atrás correndo e o cão deu voltas em mim, ameacei pegar o cachorro, e ele também correndo atrás, em seguida tirou os sapatos e eu? Lancei meus chinelos no ar, e o cachorro pegou o chinelo correndo.

— Meu chinelo mané! — falei rindo enquanto Taz corria atrás do cachorro caramelo bigodudo.

Eu corri atrás dos dois, e a rua que era sem saída ficou pequena para corrermos por tanto tempo, corremos para cima para baixo, e ele gritava o cãozinho:

— Jaiminho!

— Jaiminho? — interoguei em dado momento

— Ele num parece o seu Jaiminho do chaves? — riu

Era verdade. Ri, ele me empurrou e correu atrás do cão e eu voltei a correr atrás dele.
Finalmente pegamos o Jaiminho com meu chinelo, acho que corremos para o fim da rua meio ingrime sem saída sem perceber, começamos andar de volta para cima lado a lado, ambos corpos molhados, eu o olhava, e Taz me olhou de volta com um sorrisinho nos lábios. Parecia que eu ia explodir, eu queria dizer que gostava muito dele ainda.

— Eu não... Eu não esqueci você Taz... Mas eu, eu tentei — falei — Mesmo que a gente não tivesse tido nada, para mim é como se... Como se a gente tivesse tido.

Ele ficou quieto e baixou a cabeça acariciando o cãozinho.

Notei Amanda parada no portão nos olhando para nós, Taz me empurrou com o Jaiminho nós braços, eu lhe empurrei de volta. Taz tirou o chinelo da boca do caozinho que estava em seu colo todo molhado, me entregando o chinelo na mão.

A cara carrancuda de Amanda me fez pensar que talvez ela precisasse lavar a alma também.

— Alguém está precisando lavar a alma... — falei olhando para Taz e indicando Amanda com o queixo.

Taz ergueu a aba do meu chapéu, que por alguma razão naquela brincadeira de pega-pega estava em sua cabeça.
Amanda me encarava parecia não gostar muito de me ver ali, Taz colocou o cãozinho no chão, e se aproximou de Amanda estendendo os braços.

— Da um abraço mainha — disse ele

— Sai para lá, tá besta é? — disse ela

Eu me aproximei, e puxei o portão atrás de Amanada.

— Cê escolhe ou abraça ele ou eu — Taz ameaçou ir para cima

Ela riu.
Finalmente riu.
Caralho ela finalmente riu. Eu lembro que quando ela namorava meu irmão ela era outra mulher, mais doce, mais leve, e risonha, as vezes a vida nos dá tanta pancada que esquecemos quem éramos ou o que somos. Ver ela rindo me alegrou um pouquinho, não foi uma gargalhada ela só tossiu um riso, mas foi o suficiente.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora