Trinta & quatro

3.1K 311 11
                                    

Esse garoto é foda, é foda. Quando me dei conta já estava no último degrau da escada, senti uma corrente de ar passar pela minhas pernas como se um vento entrasse. As luzes estavam todas apagadas, confesso que esperava pegar ele peladinho no sofá, mas longe disso, ele não faria isso, não era do feitio dele, mas mesmo assim olhei o sofá, tateei com a mão no escuro mesmo, e nada, não acendi a luz, mas notei a corrente de ar ainda entrava. Aqui era bem arejado então uma janela aberta fazia o ar correr, mas minha mãe não deixava nenhuma janela aberta durante a noite.
Segui até o fundo da casa e notei a porta dos fundos aberta, por onde entrava a claridade da noite e também o vento da chuva que caia. Foi quando me dei conta de ver ele lá, parado sentado no gramado.
Que porra é essa?

Dei um tapa no interruptor, acendendo a luz da área e ele se assustou e se virou me olhando, ele já estava ensopado.

— Que merda você está fazendo Tarcísio? — falei num tom bem irritado.

Ora, por que falastes assim comigo?

Me recompuz. Merda

— Desculpa eu… meu você está na chuva? — falei saindo na parte coberta da área.

— É a primeira chuva do ano — riu daquele jeitinho.

— Cara, é de madrugada, está frio por que você está na chuva?

Égua, é na primeira chuva do ano que lavamos a alma — disse e se aproximou, esticou a mão para mim — Vem mais eu, vem meu-bem.

Quando ele disse meu-bem com aquela voz, eu não resisti, não mesmo, porra velho ele me faz fazer coisas inimagináveis, caralho, quando penso que não farei ele do nada faz algo novo e… me quebra. Me desmonta. Meu-bem? Porra, eu gostei para caralho de ouvir isso.
"Meu bem", vou dormir com essa: meu bem, vê se pode isso?

Essa porra é louca, caralho ele não pode estar falando sério? E eu não posso estar tão apaixonado a ponto disso…
meu-bem.

Eu estiquei as mãos para ele, ele segurou cada uma com uma mão, tirei os chinelos e ele me puxou para a chuva. Merda estava fria, as gotas estavam gélidas, o que eu estava esperando? Ele sorriu me olhando e eu fiquei olhando ele quase hipnotizado pela sua beleza.
Eu ainda não estava acreditando naquilo, primeira chuva para lavar a alma, da onde ele tirou isso? Ele segurava minhas mãos, e eu a dele, e estávamos frente a frente se olhando, acho que senti minha boca se curvar num sorrisinho, ele agitou a cabeça feito um cão, balançando os cabelos molhados. Em seguida levei minha mão até seu cabelo, caído sobre a testa e ensopado e coloquei-o para trás. Ele me olhou meio perdido até sentir meu toque.
O Taz era diferente do comum, estamos sempre vendo pessoas lidando com coisas comuns, fugindo de coisas comuns, ele parecia ter um universo um novo mundo muito bonito dentro dele, era diferente, da onde venho quando chove todo mundo corre da chuva.

— Você é maluco.

— Tu que é — falou rindo.

Ai estava mais um motivo de eu estar encantado com ele, ele era um molecão em tudo, estava sempre fazendo esse tipo de coisa, correndo na praia sem se importar com o que iriam falar, abrindo os braços para o mar, correndo descalços pelos lugares sem nem ter medo de furar os pés, daçava fazendo gracinha sem medo que eu o julgasse, e agora estava na chuva, literalmente na chuva de madrugada sem medo de ficar gripado ou de alguém ver aquela loucura. O Taz era… merda ele era único, ele era meio doidão, despivetado e cabeça dura, ele era meu oposto, ele conseguia sorrir docemente e gentil, mesmo quando ele chorava ou estava bravo, ele era doce, meigo, gentil de verdade e me tornava paciente. E bota paciente nisso, meu saco já estava explodindo, de tanto tempo sem dar uma… eu podia me aliviar no chuveiro, mas eu acho que eu ainda tinha esperança que ele fizesse aquilo comigo

É cara eu sei, a gente tenta não pensar no sexo mas a mente do homem é tudo ou nada, já a mente Taz é indecifrável, não se compara nem com a das garotas que eu fiquei. Coloquei a mão sob seu queixo, o fazendo me olhar e ele estava com os olhos griladinhos, como sempre estavam, brilhosos demais.

— Posso beijar você? — perguntei

O Kauã jamais pediria um beijo, mas eu estava jogando o jogo do moleque, estava sendo doce, só para comer ele, ou não, eu estava me empenhando, para que fosse bom e se for realmente bom eu vou querer ele mais vezes. Mais vale ter todos os pássaros na mão e.nenhum voando, se ele se apaixonasse como eu, então ele seria meu, faria tudo que eu queria e para isso só faltava ele consumar, faltava ele me dar.
E ele sorriu, parecia até um convite. Aproveitei para olhar para os lados sondando que ninguém estava de pé a aquela hora, parti para o ataque, dei a ele um beijo, dois, três e porra um beijão babado no terceiro. Ele me beijou de volta colocando sua mão em minha nuca. E caralho se ele quisesse eu comeria ele aqui, no gramado, na chuva mesmo.

Imaginei a cena em minha mente. Deitando ele sobre a grama e o comendo de frango, fazendo do buraco dele um pouco mais largo num entra e sai nervoso, talvez nós dois sujos de terra, suor, grama e água da chuva. Merda! Eu preciso parar um pouco, preciso parar.

Ele se afastou após o beijo, deu um risinho

— Eu vou entrar agora — disse — Tomar um banho e ir dormir com a alma limpa.

Deixa eu tomar banho com você, deixa eu dormir com você. Pensei mas não disse nada, ele saiu entrando, mas fui invadi por uma coragem então fui atrás dele e o icei puxando ele e ele me olhou confuso e eu mais confuso ainda.
Simplesmente, não saiu, não consegui pedir aquilo para ele, merda parecia até que eu não estava preparado, mas eu estava, meu pau estava.

— Me dá mais um beijo — falei baixinho.

Ele sorriu, beijou a pontinha de dois dedos seu e depois colocou os dedos sob os meus lábios.
Não foi um beijo não, foi o beijo mais doce que já ganhei em toda minha vida, então se virou, e foi até a área coberta,  eu fiquei vendo ele, ele tirou a regata amarela, seu corpo era lindo, era a primeira vez que eu achava um corpo sem tetas grandes e redondas lindo, puxou sua toalha do varal, se enrolou nela me encarando ele se virou de costas, e se inclinou, ele não estava me provocando mas aquilo foi uma provocação tirou o calção por debaixo da toalha, PORRRA, FILHO DA PUTA, imagina só a bundinha dele, branquinha, ou rosinha, eu encheria de mordidas e tapas, colocou meus chinelo nos pés e se virou rindo. Ele nunca gosta de usar chinelos, então riu, e eu acho que eu também ri, seus pés eram pequenos demais, mas mesmo assim ele entrou para dentro com os meus chinelos.
Eu fiquei lá, plantado, observando.

Eu descobri um segredo, que estava escondido em mim, e certamente em quase 99% dos homens. Existe algo que os homens gostam, algo que atrai os homens, eu acredito que seja instintivo mas o nome é: desafio, quanto mais desafiador e longo o processo, melhor o impacto que vai causar. Homens gostam de ser desafiados, de não ter as coisas fáceis, mulheres desafiam homens o tempo todo, às vezes nas críticas, nas manias, em gestos e da certo, e existem desafios que são mais avassaladores, esses são os desafios que fodem o seu ego. Taz estava fodendo meu ego, eu queria uma única coisa que era comer ele, e se ele tivesse me dado de primeira eu tinha vazado da vida dele e fingido que nada aconteceu, mas como ele estava sendo difícil, eu estava me apaixonando, ganhando tempo com ele, e nesse tempo eu descobri tanta coisa sobre ele, e acho que sobre mim também, que se caso a gente transasse agora eu iria colocar uma coleira nele e dizer que eu era seu dono. Faz só dois meses que o conheço, e nesses dois meses eu estou caindo de joelhos por ele, tanto que eu nem sei se quero trepar com ele mesmo, quer dizer, quero, mas eu quero mais eu quero muito mais. Ser difícil não é se fazer de difícil, se fazer de difícil não é desafiador, as vezes é, para homens sem muita experiência, depois você descobre que o desafio está em pessoas como o Taz que dão trabalho sendo elas mesmas, ele não estava sendo difícil de propósito, ele estava só sendo ele, ele não estava se fazendo de dificil, ele estava só sendo ele, e ele ser ele me desafiava, me desafiava tanto que eu perdia a compostura na sua presença, o Kauã perto dele não é o mesmo Kauã longe dele, por que ele me adorava um lado bobo que eu odiava, mas com ele eu gostava, gostei correr atrás dele na praia, e gostei do amigo secreto que não participava desde os 17 anos em todos os anos de natal seguinte que minha família se reuniu eu nunca me senti tão leve, eu adorei dar um presente caro para ele, isso foi desafiador, saber que ele podia recusar, foi o meu desafio.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora