Cento & cinquenta & um

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Ele estava tão sério que estava avermelhado, puto na verdade, um olhar severo e amedrontador. Desviou o olhar.

— Tarcísio... Eu, eu não estava usando. — falei prontamente rápido sendo tomado por um desespero.

— Vai mentir para mim na cara dura Kauã? Eu não estou te julgando, mas por que não me disse que estava com problemas?

— Eu não estou Taz, eu não usei.

— Para de mentir, isso é está pela metade, você trouxe isso para o nosso momento juntos. Pensei que fosse só eu e você, não "eu e você e um pino de cocaína." — ele falou puto da vida.

— Eu juro que não usei Taz, eu juro que não estava usando, eu juro. Merda — falei sendo tomado por uma breve irritação tambem.

— Por que você não para de mentir só um pouco Kauã, porra por que.... Quer saber pega sua mala, fecha o chalé eu tô indo para o carro, vamos para casa — ele disse me dando as costas.

Já estávamos indo para casa mesmo, não faz diferença.

— Taz! Taz espera, eu... — ele saiu, peguei a bolsa rapidamente a chave que estava na cômoda e fui atrás.

Sai imediatamente despertado trancando a porta do chalé, enquanto ajeitava minha camisa, tentando o alcançar, até finalmente o içar pelo braço.

— Eu usei! — falei e ele parou me encarando — Usei no dia que você foi baliado, só nesse dia eu juro, e eu esqueci no bolso da calça. Eu, eu sei, eu podia ter te contado, mas aquele dia eu fiquei desesperado, então antes de entrar no apartamento eu... Eu fiquei muito ansioso quando vi na televisão e, e então eu... Eu fiquei com medo de ter um daquele surtos e eu... Me perdoa Taz. Amor, me perdoa.

Ele soltou o ar do pulmão e me olhou com um olhar penoso, mas não disse nada, apenas deu as costas saindo de perto.
Eu entendi o seu silencio.
Pior dele não falar nada é o silêncio, preferia que ele dissesse algo. Não queria que ele ficasse em silêncio mediante a aquilo, que ao menos me xingasse ou continuasse desconfiando que eu estava mentindo.

Fui até a recepção, devolvi as chaves para a moça, paguei as nossas pendências além da diária local e retornei ao carro, que estava parado de frente para o chalé já ligado, coloquei minha bolsa e minhas coisas no banco de trás após entrar silenciosamente. Taz estava com as mãos no volante, de óculos escuro embora não tivesse sol, bochechas avermelhadas e por uma fração de segundos presumo que ele estivesse chorando ou tivesse chorado, eu me sentia um pinto no lixo, um pássaro fora do ninho, me sentei acanhado e mal consegui me mexer de tamanha vergonha.

— Por isso você errou o tiro no homem que estava atrás da prota?

— Taz, já faz uma semana! — falei de voz dura mordendo os dentes

— Não foi? — falou com o tom de voz mais alterado me fazendo silenciar. — Você podia ter nos matado Kauã!

— Mas eu não matei merda, não matei ninguém. Taz me escuta eu... Eu estava desesperado, amor eu... Eu não sabia o que fazer! Porra!

Taz tirou o óculos me encarando e em seguida estendeu a mão.

— Me dá o pino — ele pediu.

Enfiei a mão deseperado no bolso e o entreguei.

— Olha bem — agitou na minha cara — Kauã, eu vou te ajudar a esquecer isso aqui, mas precisa aceitar minha ajuda.

— Tudo bem amor, não vai acontecer de novo cara. Que merda eu não quero errar com você, eu tô me esforçando para isso.

— E como pode saber? E se me acontecer alguma coisa de novo vai recorrer a isso? — ele perguntou mas não houve resposta — Eu te amo, e quase te perdi por conta disso e agora você quase me perdeu. Você não é nenhuma criança Kauã, sabe o que é certo e errado.

— Me perdoa...

Ele negou a cabeça, estava nitademnete frustrado.

— Tá, eu realmente espero que seja a primeira e a última vez, última vez que você me esconde algo beleza? Chega desse joguinho de gato e rato. Estamos combinados? Não vai me esconder mais nada, e eu também não. — ele falou firmemente.

Aquilo era o que eu mais queria desde o início, ser claro com ele, honesto, jogar limpo.

— Tá... Tá bom vida... tá bom não vai acontecer mais, eu só quero ficar de boa com você. — resmunguei — De verdade Taz eu tô cansado, quero cuidar de você e é isso, ter momentos bons como está viagem e tudo mais.

Não houve nenhuma fala a mais, fiquei me sentindo um idiota.
Taz ficou em silêncio durante a viagem de retorno, nitidamente chateado e eu apenas respeitei isso, e segundos na estrada ele lançou o pino pela janela como se fosse em pedaço de papel qualquer, sem valor, mas mal sabia que aquilo custava quase duzentos conto hoje em dia, confesso que me doeu um pouco só de ver.

Eu respeitei o silêncio e chateação dele por que quando chegamos no primeiro dia de viagem eu fiquei bravo por ele me esconder o que havia acontecido com o Gustavo e ele, e agora eu me dei conta que não foi justo eu cobrar dele que ele fosse justo e verdadeiro quando na verdade eu também escondi coisas dele. Mas o relacionamento é isso, as vezes nem sempre escondemos as coisas por que queremos e sim por que não queremos chatear aquilo que amamos, no fim vamos chatear de qualquer forma, melhor dizer tudo logo.

Parou o carro dentro de stacionamento do prédio do apartamento, o que me era uma surpresa já que ele mesmo disse que não queria retornar lá.

— Vai subir? — indaguei — Podemos fazer algo, vou pegar o Biel só amanhã.

— Não, não vou. E não, não quero.

Me virei para trás no banco meio sem jeito com aquela secura em sua fala peguei minha mochila e segurei no braços, quase como uma criança confusa, eu queria me despedir, mas não sabia como. Talvez fosse melhor eu só sair, ou deveria tentar dar tchau? Um beijo? Não pedir desculpas de novo , afinal ja pedi.

— Kauã

— Oi? — falei prontamente agitado

— Eu te amo. — senti um enorme alívio invadir meu peito então o olhei e ele levou uma das mãos até meu rosto. É estranha a sensação de achar que por um momento alguém que te ama pode não te amar mais. — Eu falei que eu cuidaria da gente, de você, lembra?

— Sim Taz, claro.

— Mas confesso que não sou feito de ferro, não consigo não ficar bravo ou chateado, e você é humano, eu também, nós dois podemos errar, estamos fadados a isso... Mas também podemos errar menos.

— Eu entendi amor.

— Você está com problema com as drogas? Digo viciado? Acha que precisa de um tratamento?

— Eu não... Não, eu... Não sei Taz. Tipo não sinto necessidade alguma mas naquele dia eu fiquei um pouco fora de mim quando imaginei que podia perder você e o meu filho. Mas não acho que eu preciso de ajuda.

— Amor... Tem certeza?

— Claro que sim vida.

— Kauã — disse ele em tom repreensivo.

— Eu juro amor, eu juro se eu sentir que sei lá... Se eu sentir isso de novo te aviso antes de fazer merda.

— Tá...

— Dorme aqui hoje, sei que você ficou traumatizado com o AP, mas tá de noite já, só mais uma noite.

— Sem sexo? Por que mano eu tô assado depois de hoje cedo sério, você literalmente pegou pesado, sem contar seus tapas minha bunda tá dolorida.

Eu ri.

— Ta... Mas tipo rola um boquetinho né? Tipo um guloso daqueles que tu manja bem.

Ele riu e negou com a cabeça.

— Qual é pô? Vai me negar fogo.

Ele piscou o dos olhos com um sorrisinho, e fez "hmmmm"

— Talvez só por que eu não resisto... — explicou ele

Eu ri o puxando para meu ombro abraçando sua cabeça.

— Te amo chatão.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora