Sessenta & seis

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Entrou no meu escritório fechando a porta com os ombros, estava com as mãos ocupadas agora que tirara um dos pacotes presos nos dentes.

Deu um leve sorriso enquanto eu o olhava espantado.

— Trouxe o seu almoço mermão!

Mermão?

— "Mermão?" — repeti e ele riu.

Se aproximou, sentando em cima de minha mesa sem tocar os pés no chão, e me deu um dos pacotes colocando cuidadosamente sob a mesa o suporte com dois copos de refrigerante.
Em seguida lançou um sapato e depois outro tirando-os com o os próprios pés.
Olhei o pacote com o lanche, havia batatas dentro e sachês de ketchup e mostarda, ele se lembrou que eu gostava de mostarda, quase ri, mas contive. Ele abriu o pacote dele tirando seu lanche e eu ainda estava surpreso. Estou sem ver o Taz faz uns 4 dias, ele somente havia me enviado uma mensagem na segunda dizendo que a mãe dele estava "de boa", depois não conversamos mais por que eu fiquei mega ocupado, e também não sabia se eu devia lhe enviar mensagens, ele era a única pessoa que eu temia enviar mensagem, era um misto de medo e insegurança dele não responder ou de ficar esperando e esperando e eu não queria passar por aquela sensação estranha.

— Tá patrão assim? Pagando meu almoço?

— Foi o VR, eu nem uso quase — riu

— Ontem não veio trabalhar por quê?
— falei desembrulhando o lanche sem ser indelicado, mas curioso.

Égua, anda me bizoiando?

— Não — retorqui de boca cheia -, só fiquei preocupado, aconteceu algo?

Ele me lançou um olhar desconfiado, mordendo o seu Whopper, caralho como aquele garoto conseguia mexer comigo até comendo. Ele passou os dedos no canto dos lábios sujos de molho e os chupou, não de modo malicioso, mas minha mente estava podre. Depois do sexo no domingo eu não conseguia pensar em outra coisa se não em Taz e eu no chão do banheiro.

— Ontem eu saí — disse ele agitando os pés me encarando.

Aaah claro, sinto um ciúme crescer e mim, te controla, te controla. Bufei minha sobrancelha se levantou mais ainda em uma expressão surpresa e jocosa, eu queria rir, não sei por que mas eu queria muito rir do modo como ele está se portando, era genuinamente fofo e engraçado ver ele cheio de atitude e eu estava me mordendo de ciúme sem ele nem perceber.
Ele fazia com que eu ficasse com uma expressão indignada e ao mesmo tempo quisesse rir algo que eu nunca havia sentido.
Eu era um cara oito ou oitenta, ou eu tava muito puto ou muito de boa, e Taz conseguia fazer eu ficar em cima do muro.

— Aaah, saiu? E daí faltou no trabalho? — falei meio baixo não queria parecer um louco ciumento.

— Uhum

— Vai ser demitido assim

— Vou nada, se eu for num ligo, num vou deixar de viver para ficar preso não, oxe...

Eu tussi um riso involuntário, e ele que olhava a janela enquanto mascava, me olhou. Engoli o riso tentando parecer sério afinal ele falava sério.

— Não tem medo de ficar sem dinheiro para ajudar sua mãe não?

Mainha e eu já vivemos com muito pouco e estamos vivos, não é? Depois que cê passa bons bucados na vida tu não tens mais medo algum de passar de novo.

Eu ri de maneira sutil, esse garoto sabia viver e ele tinha razão.

— Mas tem que ser responsável Taz.

A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora