⎯Prólogo.

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As histórias sempre se espalhavam rápido no Acampamento Meio-Sangue, mas levando em conta que vários já haviam enfrentado situações quase mortais, era difícil achar histórias que chocassem todos os jovens daquele lugar.
Mas aquela história foi diferente. Um garoto recém-descoberto como semideus havia matado um Minotauro ao vê-lo matar sua mãe.
Muitos questionaram quando Grover chegou com essa notícia, mesmo que ele estivesse sujo e com a respiração ofegante. Só que foi incontestável quando Quíron levou um garoto loiro desmaiado para a enfermaria.
Os jovens semideuses observavam a situação cheios de euforia e curiosidade do lado de fora, Quíron teria os repreendido pela balbúrdia que poderia ser ouvida até mesmo de dentro da enfermaria, mas ele não o fez, porque estava ocupado demais para se preocupar com a fofoca juvenil.

Grover havia sido o primeiro a sair da enfermaria. Estava agitado e assim que saiu de lá foi afogado pelas inúmeras perguntas de diversos campistas.
"Quem é o menino?", "o que aconteceu?", "ele matou mesmo um Minotauro?".
Essas perguntas tinham se repetido tantas vezes que Grover já estava tonto e irritado, apenas respondendo que não poderia dizer nada, ele realmente não podia. Por isso se distanciou da multidão.

—Ei, Grover —a voz doce da filha de Afrodite tomou a atenção do sátiro.

Mesmo que ele estivesse saindo, voltou sua atenção para a garota, qualquer garoto do acampamento faria o mesmo, só bastava um sussurrar.

—Oi, Catherine —ele involuntariamente sorriu, considerando um grande privilégio ter a atenção de uma filha de Afrodite, principalmente de Catherine.

—Pode me contar o que aconteceu?

A voz da garota era doce e delicada, era um sibilo encantador. Em algumas mitologias poderiam dizer que Catherine tinha o canto da sereia, sua voz era o suficiente para persuadir qualquer um. Mas não era o canto da sereia, era a mera vantagem de ser filha de Afrodite e poder dissuadir por meio da fala.
Groover até tinha pensado em negar, ele sabia que realmente não poderia falar nada sobre aquilo por enquanto. Mas a forma que Catherine falava... Ele sentia que não podia dizer "não" para ela.

—C-Claro —ele gaguejou e ainda tinha um sorriso bobo.

Catherine sorriu vitoriosa. Ela não poderia esperar por outra resposta e focou sua total atenção quando Grover começou a contar aquela história.
O sátiro contou a história desde o princípio, desde sua amizade com Percy até sua chegada ao acampamento. Contou sobre o jovem semideus e sobre Sally Jackson, contou até mesmo mais detalhes do que era necessário, o que gerou uma certa monotonia em alguns trechos.

—Uau, então você o protegeu por todo esse tempo? —ela questiona retoricamente.

—Sim, protegi —havia certo orgulho na voz de Grover, mesmo que ele não sentisse nenhum orgulho de si próprio naquele momento.

Catherine manteve seu sorriso doce. Não era uma manipulação cruel, ela realmente simpatizava com Grover, mesmo assim achava interessante ver até onde as pessoas estavam dispostas a irem em busca de sua aprovação e gostava de ver suas ações perante ela.

—Catherine...

—Ah, Grover, não precisa de tanta formalidade —ela diz. —Me chame de Cath.

—Cath... —Grover tinha o olhar fixo na garota, parecia estar hipnotizado. —Pode não contar isso para ninguém? Quíron me pediu pra não dizer nada sobre o Percy por enquanto.

—Ah, não se preocupe com isso. Vai ser o nosso segredo.

Ela deu uma piscadela para Grover e fez um breve aceno com a mão com a ponta dos dedos, o satíro saiu, demorando a tirar seus olhos da garota mesmo ao se afastar.

—Você ganha alguma coisa por cada mentira que conta?

Catherine revirou brevemente os olhos com a voz familiar. Ela deu um breve sorriso e se virou, vendo Luke apoiado sobre uma árvore próxima.

—Achei que você era filha da deusa do amor, não da deusa das mentiras —Luke possuía um sarcasmo natural.

—Achei que você era filho do deus do... —ela olhou para o lado, forjando uma expressão confusa e o olhou novamente com cínismo. —Não acho que seu pai seja deus de algo importante, mas com certeza não é o deus da espionagem.

O garoto a olhou e acabou rindo, mesmo que não achasse graça. Luke não era alguém que tinha grandes conflitos com os outros campistas, e mesmo que não gostasse sabia fingir bem. Mas Catherine era outro caso, ele a achava arrogante, mesquinha e fútil, já tinha flagrado inúmeras vezes a semideusa manipulando outros campistas. Ele não conseguia entender como uma garota tão reservada conseguia ser tão implicante com ele, e esse pensamento era recíproco.

—Não manipula o Grover de novo —Luke falava com certa seriedade. —Você já magoou vários campistas, deixa ele em paz.

E apesar de tudo, existia simpatia de Luke por Grover, pelas coisas que eles já haviam vivido junto com Annabeth e Thalia.
Mesmo que aquela não fosse a intenção de Catherine, ela não admitiria isso para Luke.

—Tem tanto receio de que eu parta o coração dele?

Ela se aproximou um pouco. Erguendo seu rosto para poder encarar Luke diretamente, já que mesmo sendo alta o garoto tinha uma vantagem de altura de quase dez centímetros.

—Quando vai me deixar partir o seu? —ela sibilou.

Luke encarou os olhos azuis, tão azuis quanto o céu e sentiu Catherine pousar suavemente a mão sobre o peitoral dele. Ele sentiu seu baixo-ventre gelar. Ela sempre fazia isso, flertava apenas para um dia poder dizer que ele havia caído em seus encantos, mas isso não era algo que Luke estava disposto a dar para ela. Não estava disposto a ser outro brinquedo que ela jogaria fora assim que tivesse posse.
O moreno segurou o pulso de Catherine com pouca delicadeza e a afastou, fazendo ela tirar a mão dele.

—Prefiro a morte —que mentira terrível. —Princesa.

Sua voz pesando com o sarcasmo ao proferir o apelido. Ela revirou os olhos outra vez, uma respiração irritada e pesada escapou de suas narinas. Catherine odiava receber um não, odiava o fato dele ser o único que não cedia para ela, odiava como ele a desprezava ao invés de a endeusar como todos os outros.

—Para você, é Catherine —ela responde, puxando sua mão bruscamente para que ele soltasse seu pulso.

A garota deu as costas para ele e saiu em direção ao seu chalé. Luke observou ela caminhar para longe, observou seus cabelos loiros balançarem quando ela andava, observou até a forma que ela andava como se fosse tão superior, observou como nem mesmo a camisa do acampamento era capaz de disfarçar seu corpo curvilíneo.
Pelos deuses, como ele a odiava.

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