⎯1.

308 47 141
                                    

A luz dourada do sol invadia as ruas de Nova Iorque, filtrando-se entre os prédios altos e projetando sombras na calçada. No Brooklyn, o dia tinha sua própria serenidade peculiar, mas não era muito diferente do caos do resto da cidade. O tráfego ainda era esparso, com somente alguns carros solitários cruzando as avenidas e o som distante do metrô emergia como um murmúrio constante, porém discreto.
Uma semideusa caminhava com passos silenciosos, direcionados para um pequeno prédio. Ela carregava dois sacos de papelão, considerava aquele um dia comum em meio a vários outros dias comuns das últimas semanas.

Ao entrar no aconchegante apartamento, ela tirou a jaqueta de couro e a colocou sobre a braçadeira do sofá da sala. Aquele era a única coisa que tinha de Thalia Grace, guardava com cuidado, como se lhe desse mais forças para respirar e lutar.

—Mãe? —Daisy chamou. —Eu trouxe o almoço.

—Querida, vem aqui na cozinha —a voz ecoou. —Tenho uma surpresa.

A garota franziu as sobrancelhas. Amava sua mãe, elas tinham uma relação incrível, só que ela não era o tipo de pessoa que a chamava de querida ou fazia surpresas.
Não conseguia imaginar essa cena.
Rosa Winehouse, a detetive mais durona do departamento de polícia de Nova Iorque, fazendo uma surpresa em plena terça-feira e chamando alguém de "querida" em um tom super meloso.
Ela presumiu que era algum tipo de brincadeira, alguma gracinha sarcástica. Por isso, caminhou até a cozinha, mas sentiu seu corpo gelar ao reconhecer quem acompanhava sua mãe.

—Surpresa, Day.

Lá estava ela. Catherine LeBlanc.
O mesmo monstro que havia empurrado Thalia do penhasco, a afogado e jurado matar todos eles.
Sabia que agora ela era a general de Cronos, ouvia os boatos de que ela comandava o exército com punho de ferro e violência.
Ainda tinha aquela aparência divina e sem defeitos. Olhos exageradamente azuis, destacados por um delineado preto. Longos cabelos dourados com uma única mecha branca. O corpo perfeito coberto por uma regata branca com rendas delicadas que destacavam os seios fartos, uma saia plissada preta que ficava um pouco abaixo das coxas e botas pretas que quase chegavam até seus joelhos.
Ainda era irritantemente bonita. Mas algo estava diferente, algo mais frio e cruel do que no dia que ela achou que Luke Castellan estava morto.
Por trás de sua postura inocente, conseguia notar aquele sorriso sarcástico formado no canto de seus lábios.

—O que você está fazendo aqui?

—Daisy, não seja rude —a mãe saiu em defesa. —Catherine é nossa convidada.

A filha de Dionísio encarou a francesa.
Sua mãe parecia presa naquela hipnose, encantada pela presença de Catherine. Para a garota feita ao reflexo de Afrodite aquilo era fácil, manipular mortais era descomplicada e fútil, conseguia fazer sem nenhum esforço.

—Desculpa... Eu fiquei surpresa —Daisy forçou um sorriso. —Mãe, posso falar com Catherine por um instante no meu quarto?

Rosa Winehouse assentiu, ainda paparicava a filha de Afrodite lhe oferecendo biscoitos e mais café.

—Muito obrigada pela gentileza, senhora Winehouse, mas não será necessário —Catherine sorriu com doçura, colocando sua xícara vazia sobre a pia e se afastando um pouco. —Com licença.

Daisy observou a garota caminhar até o quarto, conforme era direcionada. Ela sentia seu broche queimar no bolso de sua calça, tinha que ter muito autocontrole para não empunhar sua arma e se preparar para lutar.

—O que você quer? —questionou ao fechar a porta, segurou o broche em seu punho fechado. —Veio me matar?

Catherine se manteve calada, observava todos os detalhes do quarto e admirou a vista da janela. Daisy parecia ter pouco, mesmo assim era muito mais do que ela jamais teve. Tinha uma mãe, um lar que poderia chamar de seu.
Era algo que ela sonhou em ter por muitos anos, em um passado que parecia distante e nublado. Em algum momento, aquilo teria sido suficiente.
Pensou em Dionísio e seu olhar cheio de decepção durante o seu julgamento no Olimpo, como um pai ao ver seu filho andando com más companhias. Ela iria se lamentar sobre isso, mas sentiu a cicatriz em seu pulso queimar. Encarou a marca de Cronos feito pelo corte fundo da lâmina da gadanha, a lembrança dolorosa de sua traição. Algo que tinha saído além da psique e sido marcado em sua pele. Não era mais uma simples espiã e o titã tinha deixado aquela marca a assombrar e a lembrar disso constantemente.

Love is a Thief Onde histórias criam vida. Descubra agora