⎯19.

506 75 71
                                    

Mesmo recebendo broncas de Clarisse, Luke, Grover e até Percy, Catherine não permaneceu por muito tempo descansando sobre o Velocino. Ela entrou em uma das cabines daquele navio pirata e se sentou sobre o sofá antigo. Desfrutou do silêncio em sua mente, tinha se desacostumado com aquilo.
Suas mãos estavam limpas, mesmo assim podia sentir o sangue sobre elas. Tinha certeza de que a sensação nítida de sua adaga atravessando o pescoço de Ariadne a assombraria para sempre. Catherine já tinha matado muitos monstros, mas aquilo era diferente. Ariadne não era exatamente um monstro, era uma semideusa, e acima de tudo, era sua irmã.
Pensou em Astrid, em como conseguiu feri-la até que ela se sentisse no dever de se vingar. Não a culpava, mas também se lembrou da vida da filha de Ares se esvair enquanto ela estava sobre seus braços. Não soube se apenas tentava proteger Luke de qualquer julgamento, mas não o culpava pela morte daquela garota, culpava a si mesma e a maldita tradição dos corações partidos que a designou filha de Afrodite.

Ela usou a lâmina da Perdição para enxergar seu reflexo. Tinha os mesmos olhos azuis, os mesmos lábios corados, os mesmos traços delicados, e a mesma marca em formato de cisne abaixo da orelha. Mas não se sentia bonita, se sentia suja e abandonada.
Afrodite podia ser uma deusa de muitas faces, que se ajustava para se tornar a definição de beleza para cada um. Mas aquela aparência que usava no templo era a que ela chamava de sua, a que a maioria conhecia, inclusive os próprios deuses. Catherine tinha perdido a conta de quantas pessoas lhe diziam que ela se parecia com a mãe, não era atoa que tinha sido considerada a filha mais parecida com a deusa do amor de todas as eras.

—A favorita de Afrodite... —murmurou com desgosto para si mesma.

Ela largou a adaga ao notar o quanto seus olhos eram parecidos com os de Afrodite. Se lembrou das palavras de Ariadne a mandando rezar antes da morte eminente, ela rezou. E sua mãe não apareceu.
Se questionou o que significava ser a favorita ou a mais parecida com a deusa do amor, já que obviamente não significava proteção ou prioridade. Talvez fosse ego. Talvez Afrodite apenas fosse egocêntrica o suficiente para ter como favorita a filha que a fazia se lembrar de si mesma.
Que morra destruída com Narciso e seu maldito reflexo. Ela amaldiçoou mentalmente.

—Você está bem?

Mesmo que tivesse se assustado com a presença de Luke, não esboçou isso. Apenas deu um leve sorriso e ergueu seu olhar para ele.

—Estou, meu amor —sua voz soou surpreendentemente calma.

Seus sentimentos estavam tão fervorosos que nem sequer sentia mais a dor em sua pele, principalmente sobre o pescoço. Luke se aproximou, se sentando ao lado dela e vendo a adaga sobre seu colo.

—Está planejando o assassinato de quem? —ele brinca enquanto apoiava sua mão na coxa dela.

Ela riu com suavidade e deu de ombros.

—Ninguém em específico. Dos deuses, talvez.

Catherine voltou seu olhar para o filho de Hermes ao se lembrar de Cronos, teria arregalado os olhos se não se sentisse cansada até para isso.

—Perdão, foi uma piada sem graça. Eu não estava pensando nisso de verdade.

E Luke sabia que ela não estava sendo honesta, mas concordou com a cabeça. Observou a ferida recém cicatrizada no pescoço dela, aquela linha branca irregular fina e longa no pescoço dela. Estava tentando formular algum comentário ou questionamento quando Catherine falou primeiro.

—Eu achei que ia morrer. E eu não queria morrer —ela confessou.

Fixou seu olhar desfocado em um canto qualquer e seus olhos quase arderam. Se lembrou da dor da lâmina rasgando sua pele, da sensação de estar fraca demais para empunhar sua espada, do gosto metálico quando estava quase se afogando em seu próprio sangue.

Love is a Thief Onde histórias criam vida. Descubra agora