⎯13.

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À sombra da Torre Eiffel, nas ruas movimentadas de Paris, um orfanato encanta com sua fachada de pedra ornamentada e janelas em arco. O aroma de croissants frescos paira no ar, proveniente da padaria próxima, enquanto as crianças se reúnem a uma das salas rodeada por floreiras de lavanda. Os quartos simples exibem vista para os telhados parisienses, e as paredes desgastadas contam histórias silenciosas de esperança e resiliência. Ao fundo, o som distante de acordeões ecoa pelas ruas, misturando-se à melodia da vida que se desenrola nas ruas de Montmartre.
Era um dia comum, absolutamente nada novo, mas a maioria dos órfãos não sonhavam mais com novidades. Quase todos já haviam se acostumado com a rotina monótona, não tinham mais esperanças de serem adotados, também não tinham grandes expectativas para suas vidas quando chegassem a maioridade, sabiam que já seria uma vitória se não morressem de fome nos becos frios. As crianças menores ainda carregavam consigo um pouco de esperança, sempre tentavam impressionar os poucos visitantes que recebiam, silenciosamente ansiando que fossem adotados.
Catherine passava em passos lentos pelo local, reconhecia aquele lugar odiado. Detestava tudo lá, odiava o piso, as paredes, o ar, os diretores. Tudo.
Mas por que estava lá? Ela fugiu daquele lugar há anos, por que tinha voltado? Por que tudo parecia igual?

—Excusez-moi... —ela encosta no ombro de um dos funcionários.

Se assustou ao ver que era Walter, um dos homens que trabalhava lá quando ela era criança, não havia mudado nada mesmo com o passar dos anos. Mas se sentiu confusa quando ele não lhe respondeu, nem sequer notou sua presença. Ela franziu o cenho e caminhou pelos corredores, sua atenção sendo tomada pela porta entreaberta de uma das salas, mais especificamente a sala de música. Catherine adentrou com receio, era tudo assustadoramente familiar, ela se sentia enjoada com aquilo.
Ao se aproximar, pôde ver uma garota, não era uma garota qualquer. Era ela mesma.
Uma Catherine LeBlanc mais jovem, não era mais uma criança, mas estava longe de ser quem era atualmente. Aquilo pareceu tão estranho, tão sem sentido. Até ela perceber que estava presa em seu próprio sonho, um sonho ou uma memória.
Sua versão mais jovem estava sentada sobre o banco próximo a um piano, cabeça baixa e lágrimas escorrendo por suas bochechas coradas. Poderia não haver provas concretas, mas Catherine de alguma forma sabia que dia era aquele. Tinha sido o dia que havia sido deixada por Maurice, um homem mais velho que trabalhava no orfanato, alguém que ela admirava e havia se entregado, mas havia a deixado apenas com palavras cruéis.
Ela engoliu em seco a memória, lembrava nitidamente como tinha se sentido. Estava se sentindo suja e usada, havia tomado tantos banhos com a esperança de tirar aquela sensação, mas parecia só piorar. A memória parecia próxima demais enquanto ela via a si mesma chorando por isso.

—Parece que o amor te trouxe desafios, minha doce Catherine.

A voz suave e gentil tomou atenção de ambas as versões de Catherine. Ela também lembrava disso. Lembrava de uma mulher que havia se aproximado dela naquele dia.
Catherine poderia jurar que era a mulher mais linda que já havia visto. Olhos que refletiam a luz, cabelos dourados que fluíam como raios de sol, sua presença irradiava uma aura quase divina, e principalmente seu sorriso, que era encantador e cativante.

—Quem é você? —a garota gaguejou.

—Sou apenas uma observadora do amor, querida —sua voz saia com uma suavidade encantadora. —Vejo que seu coração foi ferido.

A jovem garota suspira, balançando a cabeça negativamente.

—Ele parecia tão perfeito... E agora me deixou.

Catherine observava seu sonho ou sua memória de um canto. Ela tinha guardado aquela conversa em uma parte de sua mente, mas nunca esqueceu de verdade daquilo.

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