⎯4.

261 34 135
                                    

Thalia tinha a impressão de que tinha sido amaldiçoada pela deusa do amor.
Ela tinha amado duas pessoas e havia sido traída por ambas enquanto queriam guiá-la para um caminho traiçoeiro. Não poderia ser coincidência.

Teve a esperança de que se tornar uma caçadora fosse o suficiente para que todo aquele sentimento sumisse, odiou o fato de que não isso não aconteceu.
As vezes, se questionava se Afrodite estava a punindo em nome de sua filha favorita. Faria sentido, talvez merecesse. Ela podia odiar Catherine, mas se envergonhava sempre de como tinha infernizado a francesa no último ano, mesmo que sua intenção fosse boa.
Não conseguia se perdoar por ter empurrado Luke daquele penhasco, não importava tudo que ele tinha feito.

Thalia tinha ficado sofrendo por longas horas no dia anterior. Tinha finalmente se despedido de Daisy, aquilo iria acabar e elas podiam voltar a lutarem em lados opostos.
Teria sido uma perfeita cena de despedida. Isso se ela não tivesse encontrado uma carta de Daisy em sua tenda. A carta pedia para que elas se encontrassem no riacho próximo à clareira onde as caçadoras costumavam buscar suprimentos. Ela sentiu uma euforia tomar conta de si, mesmo que tentasse conter esse desejo. Secretamente venerava a ideia de saber que poderia encontrar a garota que era apaixonada novamente. Ao mesmo tempo, lamentava saber que poderia ter poupado muitas lágrimas e lamentações.

O certo seria não ir. Tinha colocado um ponto final naquela história e não precisava transformá-lo em reticências outra vez. Só que a emoção parecia sempre falar mais alto do que sua razão, não conseguia controlar seu coração.
Thalia deu um alerta para as caçadoras, dizendo que iria caminhar até o riacho e tomar um pouco de ar fresco. Não precisava inventar tantas mentiras, quase se sentia mal porque sabia que aquelas mulheres confiavam suas vidas à ela da mesma forma que um dia confiaram em Zoë Doce-Amarga, só que ela jamais conseguiria ser tão devota quanto Zoë.

—Não esperava te ver outra vez —ela proferiu enquanto seus olhos encaravam o chão para não ficarem tão focados na imagem da filha de Dionísio.

—Também não esperava —Daisy manteve as mãos nos bolsos de sua jaqueta. —Não me diga que sentiu saudade.

A filha de Zeus revirou os olhos com pouco humor.

—Eu espero que você tenha algo para falar porque não vim até aqui para perder meu tempo —respondeu. —O que você quer, Daisy?

—O que eu quero? —a outra franziu o cenho e riu com pouca graça. —Você me chamou aqui. A única coisa que eu quero é saber o porquê disso.

—Eu? —a tenente das caçadoras parecia se sentir insultada. —Foi você que deixou uma carta pra mim!

—Não! Eu não mandei nada!

—Então, o que...

—Não se preocupem —a voz suave ecoou do lado oposto. Era suave, quase melódica, mas simultaneamente cruel. —Fui eu.

Thalia sentiu o chão tremer sob seus pés, as memórias inundando a sua mente.
O penhasco. Aquela altura antes da queda. A água gélida que parecia arrastá-la para a morte. Ela mal conseguia respirar, como se o ar a sua volta tivesse se transformado em vidro e a cortasse por dentro. Lutou para não deixar seus corpo tremer, empunhou sua lança, mas não conseguia manter a força.
Odiava parecer fraca. Odiava principalmente aquele sorriso maldoso nos lábios de Catherine LeBlanc, mostrando que ela sabia o impacto que causava.

—O que foi, Thalia? —a filha de Afrodite deu um passo a frente, seus olhos fixos na outra semideusa. Sua voz era sussurrada e repleta de um sarcasmo cortante. —Parece que você viu o bicho papão.

Catherine segurava Krampus com firmeza. A lâmina se arrastando no chão.
Gostava do medo no olhar de Thalia tanto quanto gostaria de matá-la, fazia com que ela se sentisse mais forte, ainda mais letal. Descobriu que o medo gerava poder quando tentou guiá-la para a morte no Monte Tam. A filha de Zeus se viu naquele penhasco outra vez, à mercê do que Catherine poderia fazer.

Love is a Thief Onde histórias criam vida. Descubra agora