⎯4.

533 64 68
                                    

A luz suave do amanhecer pintava a cidade de Paris em tons dourados e rosados. O terraço do orfanato Maison d'Enfants oferecia uma vista belíssima da Torre Eiffel, que se erguia majestosamente ao longe, envolta em uma neblina matinal leve. Havia uma mesa de café redonda, de ferro trabalhado, ocupando o centro da varanda, acompanhada de duas cadeiras velhas, embora quase ninguém visitasse aquele lugar.
Catherine notou que uma das cadeiras estava sendo ocupada por um homem. Maurice... Cronos, na verdade. Quis recuar, mas seu corpo não obedeceu, como se ela não fosse capaz de controlá-lo. Se aproximou e se sentou ao lado dele.

—Não sabia que os titãs fumavam —comentou ao observar ele tragar o cigarro.

Ele riu com frieza, a fumaça escapou de seus lábios, indo diretamente para o rosto da semideusa. Milhões de memórias se apossaram de seus pensamentos.
Quase todos os franceses fumavam, Maurice não era uma excessão. Catherine quase sempre o encontrava no terraço, fumando. Se ele estivesse de bom humor, a provocaria jogando fumaça em seu rosto. Se ele estivesse em um dia ruim, provavelmente apagaria os cigarros em sua perna. De qualquer forma, ela não se importava com isso, o amava o suficiente para gostar da mistura do cheiro de tabaco e perfume masculino. E nos dias atuais, se amaldiçoava com a memória.

—Pensou na minha proposta?

Ela encarou a paisagem parisiense, era bela e ao mesmo tempo dolorosa.

—Não foi necessário, minha resposta permanece sendo a mesma.

Catherine sentiu o olhar do titã sobre si, torceu para que o medo não ficasse exposto em seu semblante.
Ela se perguntou o que Cronos lhe ofereceria como resposta. Ele não disse nada, apenas apagou o cigarro sobre a coxa dela, apertando as cinzas contra sua pele. A filha de Afrodite murmurou e cerrou o punho, não conseguiu se defender e se obrigou a não gritar com aquela dor familiar. Ficou em dúvida se o que machucava mais era a lembrança ou a queimadura.

—Seu tempo está correndo, jovem vilã. É melhor aceitar minha proposta enquanto estou usando métodos menos destrutivos.

Ela observou a marca escura da cicatriz que ele tinha acabado de criar, em seguida o encarou.

—Você me chama de vilã, mas eu não sou uma —foi tudo que conseguiu responder.

Cronos arqueou uma sobrancelha.
"Tem certeza?" Era o questionamento que ficava subentendido em seus olhos celestes.

—Sua voz levou homens a perdição com esforço mínimo, foi isso o que conquistou minha atenção —sua voz tinha um timbre singular, exalava poder e autoridade de um modo inexplicável e aterrorizante. —Mas vê-la assassinar metade de um de meus soldados a sangue frio me fez perceber que você é justamente o que falta no meu exército.

Ela engoliu em seco. Se lembrava de matar todos aqueles monstros e também se recordava da sensação da lâmina de sua adaga atravessando o pescoço de Jasper, não gostava daquilo.
Catherine chegou a se questionar se tinha de fato os matado a sangue frio, sentia que aquele momento era nublado em sua mente.

—Você tem fúria, criança. Tem o sangue da deusa do amor percorrendo em suas veias, mas tudo que existe dentro de você é ira.

—Minha raiva sobre os deuses não é o bastante para que eu passe por cima dos meus princípios —ela se permitiu manter a cabeça erguida e se obrigar a ter um tom firme. —Não vou concordar em me unir a isso por meu ódio. Não sou Luke Castellan.

—Não, você não é Luke Castellan —Cronos relaxou o corpo humano na cadeira de ferro, tinha um pequeno sorriso gélido no canto de seus lábios. —Porque enquanto ele era dissuadido por mim, você dissuadia deuses para ganhar sua boa vontade sem sequer tentar.

Love is a Thief Onde histórias criam vida. Descubra agora