⎯7.

648 89 53
                                    

Aquele era um dos poucos momentos em que o Acampamento Meio-Sangue ficava em silêncio. A penumbra da madrugada reinava, e era possível ouvir apenas o cricrilar dos grilos e o canto das corujas. Tudo parecia tão calmo, mesmo com toda a ameaça que rondava o lugar. Catherine tinha saído de seu chalé com passos silenciosos, ninguém tinha a visto. Era uma fuga perfeita, não tinha nada que impedisse ou dificultasse sua ida, e aquilo era aliviador, pois sabia que se alguém visse ela e Luke saindo ergueria perguntas nas quais nenhum dos dois estavam dispostos a responder.

—Eu esperava estar errada.

A voz que ecoou fez Catherine parar abruptamente, mesmo assim ela não se virou para encarar a outra semideusa.

—Quando voltei da vigia, vi você se esgueirando por aí —prossegue Clarisse. —Pensei que você não fosse capaz de fugir assim, pelo visto me enganei.

A filha de Afrodite se vira vagarosamente para olhar para a morena, tinha um aperto no peito ao ver a expressão decepcionada de Clarisse, mas sabia que estava fazendo o que era necessário.

—Você não entende —ela diz. —Eu preciso fazer isso, sinto muito.

Clarisse ri com certo desdém. Ela ainda empunhava a espada que carregava consigo desde a vigia, parecia estar cansada quando se aproximou.

—As coisas ficam difíceis no acampamento e você foge... Apenas os covardes fogem de guerras.

—Ao contrário de você, não gosto de guerras.

—Não perguntei se gosta, ninguém perguntou —a morena retruca. —Não vão perguntar se você gosta de guerras quando tiver que lutar em uma.

Mesmo que não achasse graça, Catherine se forçou a dar uma leve risada nasal.

—Fala como uma verdadeira filha de Ares. Sabe muito sobre guerras e pouco sobre suas motivações... Eu realmente preciso ir, Clarisse.

A loira deu alguns passos para trás, não podia oferecer explicações à sua amiga, então sabia que realmente teria que fugir daquilo, mesmo que a outra garota a chamasse de covarde.

—Você é uma mentirosa —a filha de Ares vociferou. —Em um momento dizendo que iria salvar o acampamento comigo e no outro fugindo porque seu namorado é um covarde que quer fugir, igual a você.

Catherine compreendia a raiva de Clarisse. Mas os pensamentos em sua mente lhe irritavam, faziam ela querer dizer as coisas mais cruéis possíveis para sua amiga, e era necessário um esforço absurdo para não ceder a esse impulso.

—Isso não tem a ver com o Luke —ela debate.

—Não? —outra vez a morena possuía escárnio em sua voz. —Então, foi ideia sua fugir?

—Sim.

—Você jamais faria isso, não fugiria e abandonaria todos dessa forma. Ele está te manipulando —Clarisse diminui a distância entre elas. —Existem inúmeras pessoas aqui que te adoram, e você está deixando tudo para trás por um homem. Porque não sabe amar sem ser irracional!

Ela balança a cabeça negativamente. Sabia que não era verdade, Luke nunca a afastou de ninguém, ela tinha se afastado muito antes disso. Podia sorrir e conversar com todos e ao mesmo tempo estar totalmente distante, não considerava aquilo necessariamente ruim.

—E o que você sabe sobre amor, Clarisse? —ela a encara. —Eu não estou fazendo isso só pelo Luke, estou fazendo por mim também. Pode me achar patética por fazer isso, mas eu estou fazendo o que é necessário para manter quem eu amo a salvo.

—O que vocês temem tanto? —seus lábios se curvaram como se sentisse um gosto amargo na boca. —O que vocês escondem que é tão assustador?

Clarisse podia não ter a menor ideia do que era, jamais sonharia que envolvia tantas traições porque julgava que Catherine era ingênua demais para se envolver com tal coisa, mas sabia que algo estava oculto, só isso poderia justificar essa decisão.

Love is a Thief Onde histórias criam vida. Descubra agora