QUARENTA E QUATRO - ENRICO

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Enquanto o carro corta a noite, minha mente gira em um turbilhão de preocupações e suspeitas. O que diabos Marcos estava fazendo na Sicília quando eu o instruí claramente a ficar em Medellín? A tensão cresce dentro de mim, misturando-se com o desejo de proteger Isabel, que agora descansa sonolenta em meu colo, sua cabeça suavemente apoiada em meu peito. Merda, eu não deveria tê-la trazido comigo. Ela está agora no epicentro de meu mundo obscuro, sem saber das sombras que o cercam.

Diego, concentrado no volante, percebe a atmosfera pesada que paira no ar e ousa quebrar o silêncio tenso:

— Está tudo bem, Enrico?

Minha mente está em turbulência, mas eu respondo, tentando manter a calma:

— Está tudo sob controle, Diego. Apenas algumas coisas que precisam ser esclarecidas.

Ele assente, mas seu olhar de preocupação não me escapa. A confiança que tenho nele é inabalável, mas há coisas que não posso compartilhar, não ainda. Enquanto as luzes da cidade piscam além das janelas do carro, o silêncio

volta a dominar o ambiente, interrompido apenas pelo suave ronronar do motor. Isabel se move levemente em meu colo, suas feições relaxadas pelo sono. Um misto de culpa e proteção inunda meu peito.

O que quer que esteja acontecendo, devo agir com cautela. Não posso deixar que nada aconteça a Isabel, nem a mim. Devo manter a fachada de controle, mesmo que por dentro esteja quebrando em pedaços. Mas uma coisa é certa: não vou deixar que ninguém machuque a mulher que se tornou a minha obsessão.

Envolto pela escuridão da noite, acaricio suavemente o rosto de Isabel, sentindo o calor de sua pele contra a ponta dos meus dedos. Um gesto de ternura em meio ao caos que se agita dentro de mim. Num impulso, inclino-me para beijar sua testa, buscando um conforto momentâneo em sua presença serena.

Contudo, mesmo nesse momento de aparente calmaria, não posso ignorar a pressão constante dos canos das minhas armas contra minhas costelas, ocultas sob o tecido do meu terno. É como se a sombra da violência e da morte estivesse sempre à espreita, pronta para se manifestar a qualquer momento.

Nunca me senti tão vulnerável em toda a minha vida. O peso da responsabilidade, os segredos que carrego, as ameaças que pairam sobre mim... tudo isso parece esmagador. E, no entanto, aqui estou, segurando Isabel nos braços, tentando protegê-la desse mundo sombrio que a envolveu tão repentinamente.

As palavras de Diego ressoam em minha mente, como um eco insistente que se recusa a se dissipar. Talvez ele esteja certo. Talvez eu sinta mais que tesão por essa mulher que entrou em minha vida como um furacão, virando tudo de cabeça para baixo. Ela é minha diabinha, sim, mas também é minha luz em meio à escuridão. No entanto, permitir-me amá-la é um luxo que não posso me dar. Não quando há tantos inimigos à espreita, prontos para usar qualquer fraqueza minha contra mim. Preciso manter as aparências, manter-me firme diante do mundo, mesmo que por dentro esteja em chamas.

Então, enquanto acaricio o rosto de Isabel e sinto seu calor contra o meu, uma parte de mim deseja que esse momento dure para sempre, que possamos nos perder um no outro e esquecer de todo o resto. Mas a realidade cruel insiste em se impor, lembrando-me de que cada gesto de afeto é um risco.

O carro para em frente à imponente fachada da minha mansão, cercado pelos outros veículos onde estão posicionados meus seguranças, prontos para qualquer eventualidade. Diego, como sempre, é o primeiro a descer e abrir a porta para mim. Com cuidado, saio do carro, mantendo Isabel ainda adormecida em meu colo.

Enquanto cruzo o limiar da entrada, sinto o peso do meu mundo sobre os ombros, uma responsabilidade que nunca parece diminuir. Chegando ao quarto, deposito delicadamente Isabel na cama macia, observando-a por um momento antes de me afastar para fazer a ligação. Pego meu celular e disco o número de Nico, meu primo e irmão de Marcos.

Enrico: nos braços do narcotraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora