SESSENTA E UM - ISABEL

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Enrico havia partido para a Itália em uma missão, e a casa estava incrivelmente silenciosa sem ele. Mesmo que soubesse que ele voltaria, cada dia sem sua presença parecia uma eternidade. Eu me sentia vazia, como se uma parte de mim tivesse ido embora com ele.

Os dias passaram lentamente, e enquanto aguardava ansiosamente seu retorno, comecei a perceber mudanças em meu corpo. Minha menstruação estava atrasada e, a princípio, atribuí isso ao estresse e à ansiedade de sua ausência.

Finalmente, não consegui mais ignorar os sintomas que estavam se tornando cada vez mais óbvios. Sentia enjoo pela manhã e minha energia estava constantemente em baixa. Meus seios também estavam mais sensíveis, e o cheiro de certos alimentos me deixava enjoada.

Naquela manhã, após acordar com náuseas mais uma vez, decidi que era hora de enfrentar a realidade. Disse a um segurança que ia sair para correr e fui até a farmácia e comprei um teste de gravidez.

O momento da verdade chegou quando olhei para o pequeno visor. Duas linhas rosas distintas começaram a aparecer, uma ao lado da outra. Meu coração acelerou, e uma mistura de emoções tomou conta de mim. Estava grávida. Um turbilhão de pensamentos passou por minha mente.

— Merda... — Sussurrei para mim mesma, lágrimas de choque e incredulidade misturando-se às gotas de suor em minha testa.

Fiquei ali, parada no banheiro, tentando processar a revelação que acabara de me atingir com a força de um soco no estômago. Grávida. Eu estava grávida. A palavra ecoava em minha mente como um mantra, repetindo-se incessantemente até que não houvesse mais espaço para negação. Quando finalmente consegui me recompor, senti-me tonta e fraca, como se tivesse sido atingida por um trem desgovernado. A vida que eu conhecia estava prestes a mudar para sempre, e eu não tinha ideia de como lidar com isso.

Eu não tinha certeza de como Enrico reagiria a essa notícia. Ele tinha uma vida repleta de perigos e inimigos, e agora, nosso futuro estava prestes a se tornar ainda mais complicado. Tomei uma respiração profunda e me permiti sentir a emoção que essa notícia trazia. Havia medo, incerteza e, ao mesmo tempo, uma faísca de esperança. Eu sabia que precisava compartilhar essa descoberta com Enrico assim que ele voltasse da Itália.

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Fizemos amor naquela noite, o calor dos nossos corpos entrelaçados dissolvendo qualquer preocupação que eu pudesse ter. Estávamos envoltos em um êxtase compartilhado, uma paixão ardente que nos consumia e nos unia de uma maneira única e poderosa. Dormi nos braços dele.

Na manhã seguinte, no momento em que estou prestes a compartilhar a notícia da gravidez com Enrico, sou abruptamente interrompida pelo som agudo do seu celular vibrando. Seus olhos desviam-se rapidamente para o visor, e vejo uma sombra de decepção passar por seu rosto. Antes que eu possa reagir, ele me encara com intensidade, sua expressão transformada em uma mistura de raiva e desconfiança.

— O que é isso? — Ele exige, sua voz cortante como uma lâmina, enquanto mostra o visor do celular para mim.

Um frio percorre minha espinha quando vejo a foto da minha identificação da Polícia Federal e o meu verdadeiro nome, Mariana, piscando na tela. Meu coração afunda no peito enquanto as palavras cortantes saem de sua boca, acusando-me de mentirosa e vagabunda.

Tento formular uma resposta, mas as palavras ficam presas na minha garganta. Tudo que consigo sentir é o peso esmagador da traição, a sensação de ter sido exposta e desmascarada diante dele. Quero me explicar, quero dizer a verdade, mas as palavras parecem inúteis diante da ferocidade do seu olhar.

— Eu confiei em você, Isabel. Eu pensei que você fosse diferente, pensei que fosse real. — Sua voz soa carregada de amargura, sua decepção palpável no ar entre nós. — Isabel, não, Mariana... — ele praticamente cospe as palavras enquanto se levanta da cama.

Enrico: nos braços do narcotraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora