CINQUENTA E OITO - ISABEL

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Descemos juntos para o almoço. Enquanto nos sentamos à mesa, sei que Enrico está lutando com os dilemas que o atormentam. Seus olhos carregam o peso de suas preocupações, mesmo quando tenta disfarçar com um sorriso gentil. Nosso silêncio é eloquente, repleto de significados não ditos que flutuam entre nós, mas mesmo assim, sabemos que estamos juntos nessa jornada, enfrentando os desafios que a vida nos apresenta.

Enrico termina sua refeição, seu semblante sério. Ele me dá um beijo rápido.

— Preciso resolver algumas coisas, Isabel. Nos vemos mais tarde.

Após a partida de Enrico, sinto uma inquietação crescente dentro de mim, uma sensação de urgência que não consigo ignorar. Decido agir, aproveitando a oportunidade enquanto estou sozinha em casa. Caminho até o quarto, minha mente trabalhando freneticamente enquanto me aproximo do meu celular, guardado com cuidado em um esconderijo secreto.

Com mãos trêmulas, seguro o aparelho. É hora de fazer uma ligação que pode mudar tudo, uma ligação que pode selar meu destino e o de Enrico de uma vez por todas. Respiro fundo, tentando conter a agitação que ameaça me dominar, enquanto disco o número de Fábio, meu chefe na Polícia Federal.

O telefone chama uma vez, duas vezes, até que finalmente alguém atende do outro lado da linha. A voz de Fábio soa grave e autoritária, transmitindo uma sensação de urgência que ecoa com a minha própria.

— Mariana.

— Fábio, precisamos nos encontrar urgentemente. — minha voz soa firme, mas por dentro estou nervosa, consciente do risco que estou assumindo ao fazer essa ligação.

Há uma pausa do outro lado da linha, durante a qual posso imaginar Fábio avaliando a situação, ponderando sobre as possíveis implicações do meu pedido. Finalmente, ele responde, sua voz séria e decidida.

— Está bem. Encontre-me no local de sempre em uma hora. Mas seja discreta, não podemos correr o risco de sermos detectados.

Peço ao motorista para me levar ao shopping, alegando a necessidade de comprar algumas coisas. Dispensando os seguranças, aproveito a oportunidade para me libertar temporariamente da sombra da proteção de Enrico.

O motorista me deixa em frente ao shopping, e eu entro. Finalmente, avisto o café discreto onde combinamos de nos encontrar. Respiro fundo, reunindo toda a coragem que tenho, e entro. Caminho até ele e me sento, mantendo-me de costas para o resto do local, como combinado. Fábio me olha com preocupação e curiosidade, esperando que eu comece a falar.

— Fábio, há algo que eu preciso te dizer.

Ele me encara, seus olhos escuros penetrando os meus, como se estivesse buscando as respostas em minha alma.

— O que é? O que está acontecendo?

Respiro fundo, reunindo todas as minhas forças para dizer as palavras que mudarão tudo.

— Eu me apaixonei por Enrico. Eu sei que não deveria, que isso vai contra todas as nossas regras e deveres, mas é a verdade.

Fábio fica furioso, seus olhos se estreitando enquanto ele me encara com intensidade.

— Não tem vergonha? Trair a memória de Álvaro desse jeito, se envolvendo com o homem que mandou matá-lo? — Sua voz ressoa com uma mistura de raiva e desapontamento.

Sinto um aperto no peito, as palavras de Fábio atingindo em cheio minha consciência. Baixo o olhar por um instante, sentindo o peso do que ele está me dizendo.

— Eu sei que parece errado, mas... — minha voz vacila, lutando para encontrar as palavras certas.

Ele não me dá tempo para continuar, sua voz elevando-se em tom de acusação.

Enrico: nos braços do narcotraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora