SETENTA E TRÊS - MARIANA

36 10 2
                                    

Eu me deito na cama. Enquanto Enrico está ocupado cuidando das medidas de segurança necessárias para proteger nossa família, me vejo imersa em meus próprios pensamentos, refletindo sobre a trajetória que me trouxe até aqui. É uma estrada sinuosa e repleta de reviravoltas que me levou a tomar decisões que, há alguns anos, jamais imaginei que tomaria.

Durante quase uma década, minha vida foi dedicada à carreira de policial federal. Jurei proteger e servir, lutar contra o crime e buscar a justiça a qualquer custo. Os valores da lei e da ordem eram a base do que eu acreditava, e a sensação de cumprir minha missão era minha motivação diária.

No entanto, ao longo dos anos, testemunhei a corrupção, a burocracia e a impunidade que permeavam o sistema em que trabalhava. Me vi confrontada com a dura realidade de que, muitas vezes, o sistema falhava em punir os verdadeiros culpados e, em vez disso, sacrificava aqueles que tentavam fazer a diferença.

Com o tempo, minha missão original de capturá-lo e levá-lo à justiça se transformou em algo mais complexo. Nossa jornada revelou lados de Enrico que poucos conheciam, e me vi apaixonada por ele, uma reviravolta que, para alguém que passou sua vida combatendo criminosos, era inimaginável.

Agora, enquanto penso em minha mudança de valores, questiono a linha tênue entre o certo e o errado, entre o policial e o criminoso. Fiz escolhas que me levaram a viver ao lado de um homem procurado pela polícia, e a complexidade de nossos sentimentos um pelo outro me faz questionar onde realmente pertenço.

Enrico entra no quarto e se deita ao meu lado, seus braços fortes envolvendo-me em um abraço reconfortante. Ele diz com voz suave:

— Diego vai cuidar de tudo. Ele reforçará a segurança, não deixaremos mais brechas para invasores.

— E quanto a Ramiro? — pergunto, meu tom sério refletindo a urgência que sinto em resolver essa questão. Não podemos nos dar ao luxo de esperar. — Quando iremos atrás dele?

DUAS NOITES DEPOIS

A noite envolve a cidade em seu manto escuro. Diego e Enrico não estão exatamente satisfeitos com o plano arriscado que estou prestes a executar, mas eu os convenço de que sou a melhor chance de entrar no bar onde Ramiro, o alvo de nossa busca, costuma frequentar, sem levantar suspeitas.

— Mariana, você não está totalmente recuperada. É muito arriscado! — Enrico expressa sua preocupação, seus olhos negros brilhando com uma mistura de amor e apreensão.

— Eu sei. Mas se há uma chance de encontrarmos Ramiro, temos que agarrá-la. Não podemos perder essa oportunidade. — Minha voz é firme, determinada, enquanto seguro seu rosto entre minhas mãos.

Diego não esconde sua relutância.

— Entendo que você queira ajudar, mas pode ser perigoso demais. Não sabemos o que pode encontrar lá dentro.

— Eu sei dos riscos, Diego. Mas eu também sei que sou a melhor pessoa para essa tarefa. E se houver algum problema, sei me cuidar.

Enrico suspira, resignado.

— Está bem, diabinha. Se é isso que você quer fazer, vamos apoiá-la. Mas, por favor, tenha cuidado.

Seu amor me aquece como um cobertor em uma noite fria. Eu o abraço com força, sentindo a ternura e a preocupação que ele nutre por mim.

— Eu vou ter cuidado, prometo. E vou voltar para você, inteira e segura.

*********

O bar está mergulhado em uma penumbra sinistra, com fumaça de cigarro pairando no ar como uma névoa densa. Eu me acomodo em uma mesa afastada, observando atentamente os rostos ao meu redor. Não tenho ideia de como Ramiro se parece, e não seria seguro perguntar por ele abertamente. Em vez disso, decido aguardar pacientemente, confiando em que ele, de alguma forma, se revelará.

Enrico: nos braços do narcotraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora