TRINTA E SEIS - ISABEL

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Diego abre a porta do carro com uma expressão fechada, seus olhos estreitos fixos em mim como se eu fosse a última pessoa que ele queria ver naquele momento. Encaro-o com uma sobrancelha arqueada, não me intimidando com sua atitude hostil.

— Algum problema, Diego? — Minha voz é calma, mas há um desafio subjacente que não posso evitar. Não tenho tempo para lidar com suas birras hoje. Esse desgraçado matou o meu marido. Não posso me esquecer disso.

Ele resmunga algo ininteligível enquanto se afasta para me dar espaço para entrar. Suspiro, sacudindo a cabeça enquanto deslizo para dentro do carro. A tensão entre nós é palpável, pesada no ar como uma nuvem de tempestade prestes a desabar.

Diego dá a volta no carro e entra no banco do motorista, mas sua postura rígida e as mãos firmes no volante deixam claro que ele ainda está chateado com alguma coisa. Decido não pressioná-lo ainda mais, pelo menos não por enquanto.

O silêncio dentro do carro é quase ensurdecedor, apenas o som suave do motor ecoando ao nosso redor. Olho pela janela, observando os prédios passarem enquanto tento ignorar a tensão entre nós. Mas é inútil. Ela está lá, pairando sobre nós como uma sombra escura. Finalmente, incapaz de suportar o silêncio desconfortável por mais tempo, decido enfrentar o elefante na sala.

— O que te fez ficar tão carrancudo hoje?

Diego suspira, seus dedos apertando o volante com força antes de ele finalmente responder.

— Você sabe muito bem o que fez, Isabel. — Sua voz é dura. — Sabe que não devia estar se envolvendo com Enrico desse jeito. Ele é perigoso, e você está brincando com fogo.

Reviro os olhos, frustrada com sua atitude protetora.

— Eu sei o que estou fazendo. Não preciso que você me diga como viver minha vida. — Minha voz é desafiadora, não disposta a recuar diante de sua repreensão. — E acho que seu patrón não gostaria de saber que está sendo hostil comigo.

Ele me lança um olhar duro, seus olhos faiscando com uma mistura de preocupação e irritação.

— Não sou o tipo de homem que tolera ameaças.

Sinto uma faísca de raiva se acender dentro de mim, uma resposta afiada pronta em meus lábios. Mas antes que eu possa responder, o telefone de Diego começa a tocar, interrompendo nossa discussão. Ele olha para a tela, um olhar de preocupação cruzando seu rosto antes de ele atender a ligação. Enquanto ele fala ao telefone, minha mente está em turbilhão. Não posso deixar Diego azedar minha relação com Enrico. Preciso de provas para colocar os dois na cadeia.

A ironia da situação é quase palpável, como se o destino estivesse brincando conosco, manipulando nossas vidas como marionetes em suas mãos cruéis. Diego, o leal e devoto guarda-costas de Enrico, não faz ideia do que está por vir. Ele permanece alheio, preso em sua lealdade cega a um homem que está destinado a cair e vai arrastá-lo para o inferno a reboque.

Enquanto ele dirige, sua mente está focada no dever, na proteção de seu patrão, sem saber que seu mundo está prestes a ser virado de cabeça para baixo. Seus pensamentos são provavelmente ocupados com preocupações sobre segurança, estratégias de defesa e a próxima jogada no perigoso jogo em que estão envolvidos. Pobre Diego, tão dedicado e tão ingênuo ao mesmo tempo.

Mas eu sei a verdade. Eu sei o que está acontecendo nos bastidores, as tramas e conspirações que estão se desenrolando lentamente, esperando para serem reveladas no momento certo. E, no centro de tudo, está Enrico, o homem que enganou a todos nós, o homem que será a minha ruína e, ao mesmo tempo, a minha redenção.

Enrico: nos braços do narcotraficanteOnde histórias criam vida. Descubra agora