Eram 1h14 daquela madrugada de sábado. A estação tratava-se da mais fria do ano, então a noite estava sendo estupidamente gelada e longa para Roger Birskoff. O trabalho estava o deixando louco, ele precisava dar um fim naquilo. O homem engravatado pegou a sua pasta de negócios e desligou as luzes de sua sala. Ao olhar para o relógio, pensou em como seria a sua morte. Provavelmente a sua esposa o estrangularia ou contrataria um assassino de aluguel. Mas não era sua culpa chegar em casa tão tarde, apenas fazia parte do seu cargo dar um rumo para a empresa em que trabalhava.
Roger percorreu os corredores do local de trabalho banhado pela luz da lua que entrava pelas janelas de vidro. O seu estômago roncava, implorando por qualquer coisa comestível. Viver à base de barras de cereais o mataria muito brevemente. Passos longos o livravam daquele lugar que só voltaria a ser visitado... Bom, no dia seguinte mesmo. Afinal, haviam muitos compromissos agendados para a manhã de sábado. A reunião mais importante dos últimos dias estava marcada para aquele dia, e ele só pensava na promoção que ganharia. Seria um jeito fácil e rápido de mudar-se de país, oferecendo uma vida melhor para os filhos e a mulher. Se ela não o matasse antes.
O homem de quarenta e sete anos, nove meses, catorze dias e doze horas de vida apertou o botão do elevador. Esperou impaciente, cada minuto fazia a diferença. As portas abriram-se e ele pressionou mais um botão, que o levaria até o primeiro pavimento. A sonorização ambiente do elevador o distraiu pelos segundos que ficou ali. Enquanto as portas abriam mais uma vez, Roger retirou as chaves de seu carro do bolso e esperou um pouco na porta de entrada. O pai de família olhou para o lado de fora, encarando o paralelepípedo coberto por sereno. A noite fria o aguardava, então ele tratou de vestir o casaco que antes trazia nas mãos. Destrancou a porta em sua frente, trancando-a logo em seguida.
As ruas estavam vazias e quietas. Os poucos prédios que haviam por ali pareciam manter os seus moradores em sono profundo. Roger deu alguns primeiros passos, fazendo ecoar o barulho de seus sapatos ao encontrarem a calçada. Olhou para os dois lados, procurando algo que havia sido perdido. Não era muito fácil de se perder um carro, então isso deixou-o intrigado em um primeiro momento. O homem jurava que havia o estacionado no local em que estava agora, mas a rua toda estava deserta.
O executivo pressionou o controle das chaves e então um som de alarme foi emitido, anunciando que o veículo estava próximo. Antes que pudesse procurá-lo, Roger reparou no chão uma sombra que se aproximava por trás dele. O homem virou rapidamente, esquivando-se de um cara encapuzado que estava com um bastão de ferro pontiagudo nas mãos. A pasta do trabalhador caiu no chão, abrindo-se e deixando voar dezenas de folhas de papel. A luta continuou entre os dois. O suposto assaltante mostrava habilidade com o que parecia ser uma lança, balançando-a para todos os lados. Roger foi acertado no braço, o que provocou a sua queda. De cara para o paralelepípedo, ele virou-se e deu uma rasteira no bandido. Enquanto tinha tempo, agarrou as chaves de seu carro que esperavam no chão e correu. O pai de família apertou o alarme mais uma vez, e então as luzes amareladas de seu veículo indicaram que ele havia sido levado para uma rua lateral.
Os joelhos de Roger doíam, cansados devido à queda e a corrida noturna. Ele olhou para trás, enxergando o suspeito que acabava de entrar na mesma rua. Parado, tentava encontrar a chave correta, dentre todas aquelas que balançavam em suas mãos. O encapuzado aproximava-se cada vez mais dele. Por fim, a porta do carro foi aberta. Ele estava dentro.
A primeira ideia do trabalhador foi ligar o carro e atropelar o seu inimigo, mas ele lembrou-se da carta na manga que tinha. Roger abriu o porta-luvas do carro e sacou o seu revólver prateado. Aquele objeto havia sido comprado para uma outra ocasião, mas incrivelmente caía como uma luva para aquele momento em questão. Ele o engatilhou e olhou para o assassino que estava a uns dez metros frente ao carro.
- Boa viagem para o inferno, seu filho da...
A lança pontuda havia sido atirada pelo suspeito, atravessando o vidro do carro, sendo cravada no lado direito do peito do homem de negócios, antes mesmo que ele pudesse concluir a sua frase. Ele gritou de dor, contraindo-se naquele banco de couro do Porsche Cayenne. Roger colocou a sua mão esquerda sobre a barra de ferro, tentando inutilmente retira-la. O seu rosto – assim como o peito - sangrava, devido aos estilhaços de vidro. Aquele líquido espesso escorria de sua testa.
O seu olhar encontrou o assassino que ainda continuava lá parado. O homem com uma barra de ferro no peito percebeu que o seu matador também tinha uma carta na manga. O encapuzado estava com as mãos na parte de trás da calça, preparando-se para sacar o seu revólver, mas o ferido foi mais rápido e atirou duas vezes. Quem quer que fosse aquele sujeito que pretendia tirar-lhe a vida – talvez ele fizesse alguma ideia de quem fosse -, estava morto.
Roger gemeu mais um pouco. Tentou outra vez sem sucesso retirar a lança. O silêncio ao seu redor foi quebrado quando um som muito baixo propagou-se por aquelas ruas. Era o toque de seu celular. Ele tentou lembrar-se onde estava o aparelho, mas antes disso pôde enxergá-lo. Na entrada da rua lateral onde estava, o celular vibrava e acendia uma pequena luz, estrategicamente sincronizada com o toque que o filho havia escolhido para o pai usar.
A cabeça de Roger caiu sobre o encosto do assento, e então ele fechou os olhos.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...