Capítulo 49

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Eu percorri o curto e escuro corredor. Na minha face, medo e a vontade de deixar aquele local. Com a lanterna em minhas mãos, iluminei o fim da linha. Eu estava perdida, não poderia fugir daquela casa. O único som do local era a minha respiração afobada. Quando senti algo tocar minhas costas, virei para trás lentamente, encarando aquela figura esquisita. Gritei.

– Por favor, não me machuque, senhor monstro!

Ele grunhiu.

– Você foi uma menina má!

Parei de interpretar e olhei com desgosto para Gus, que retirou sua máscara do que deveria ser um monstro.

– Quem fez este roteiro? – perguntei. – Qual é, que monstro é esse? O Anti-herói do Papai Noel?

– Fique quieta, Judite. As atrizes que ainda não são famosas não podem reclamar do escripto.

– É script. – Gus corrigiu.

– Esse filme vai ficar ruim. – avisei.

– Se analisarmos que é para um trabalho da terceira-série, está ótimo demais. – Cecília falou.

Entramos no meu quarto para gravarmos a cena seguinte. Eu estava com o cabelo preso em rabo de cavalo, o que me deixava horrível.

– Eu tenho que usar esse cabelo mesmo?

– Acho ele bem Judite. – falou Mia, entrando no local.

Gus, sentado na cama, a olhava sem expressão nenhuma. Sentimento também, talvez. Estava frio. Eu já era acostumada a ignorá-la, e agora era a vez de Cecília aprender a fazer isto também. Desde a crise de meu irmão, ela estava praticamente sozinha naquela casa. Todos a culpavam por não ser uma boa mãe. Ou pelo menos não o suficiente.

Evitei olha-la, pois odiava fazer isso. Para mim tinha sido o fim. Não que ela teria ajudado muito se estivesse em casa na noite do incidente, mas era a sua função. Ser mãe.

Depois de um pouco de silêncio, Cecília alertou-me:

– Não se arrume. Imagina se você aparece na cena seguinte com o cabelo diferente e com a maquiagem retocada? Que tipo de diretora vão pensar que eu sou?

– Tenho certeza de que as crianças da turma de Gus não vão reparar.

– Não somos crianças! – ele manifestou-se.

– Ah, perdão.

Olhei-me no espelho, ajeitando-me para tentar ficar um pouco menos feia.

Mia deixou o quarto, decepcionada com a sua tentativa fracassada de conseguir uma conversa.

Abri a outra porta do armário e gritei. Dessa vez, as câmeras não estavam ligadas ainda, e não era alguma fala que eu deveria dizer. Um balde de tinta vermelha caiu sobre mim, sujando-me toda. Eu estava molhada e melecada. Podia considerar-me a nova Carrie, a Estranha.

– Mas que coisa é essa?! – gritei com raiva, querendo matar alguém.

Cecília aproximou-se de mim, mas recuou ao perceber que se sujaria também. Ela balançava a cabeça, reprovando alguma coisa.

– Eu não acredito que você estragou a cena final do nosso best seller!

– É blockbuster, Cecília! – ainda estava gritando.

– Que seja, ok?! – ela gritou de volta. – No final, Judite iria se esconder no armário para fugir do monstro, e ele estaria lá dentro para matá-la.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora