– Surpresa! – gritamos todos.
Mia mais animada, obviamente. Eu estava desconcertada.
Cecília entrou pela porta, admirada com as bolas coloridas espalhadas pela casa e a mesa enfeitada. Algumas lágrimas escaparam de seus olhos, e perguntei-me o quão importante aquela festa seria para ela.
– Dane-se meus vinte e um anos! – gritou ela, deixando todos sem entenderem. – Eu consegui um emprego!
Minha mãe bateu palmas exageradamente. Gustavo estava aproveitando a atenção total para minha irmã e roubou um brigadeiro.
– Uau, e como você conseguiu isso? – perguntei.
Ela curvou-se para frente, mostrando os seios.
– Explicado. – falei.
– Ah, esperem. Tenho outra surpresinha! – falou minha irmã.
Cecília voltou para o lado de fora. Quando entrou novamente, estava acompanhada de Jimi, que estava com um capacete na cabeça. O rapaz estava receoso.
– Você já pode tirar isso. – avisou a sua namorada.
– Eu prefiro continuar, você sabe... – falou o roqueiro, olhando para Greg.
O quatro dedos riu.
– Tire isso. Não irei te matar. Não hoje. – falou.
Jimi retirou o capacete, colocando-o em cima do sofá. Meu padrasto aproximou-se, estendendo a mão para cumprimentá-lo, mas o namorado de Cecília pensou que morreria, então pegou o adereço rapidamente, esquivando-se. Foi engraçado. Para completar, Brad Pitt rosnou, querendo avançar no garoto de preto. Adivinhe quem foi obrigada a impedi-lo.
– Posso comer? – perguntou Gustavo.
– Ninguém cantou parabéns ainda. Não pareça uma criança africana faminta, porque você não é. – falou Mia.
Caminhei até perto de Cecília.
– Então, no que você irá trabalhar?
Ela olhou para os lados para averiguar se alguém escutaria.
– Só conto para você porque sei que posso confiar. Eu vou... Vou limpar. – disse ela.
Fiz uma cara de 'o que?'.
– Limpar o que? – perguntei.
– Eu vou ser faxineira de um motel. – falou ela, ainda mais baixo.
Eu quis rir. Quis contar para alguém. Se fosse com qualquer outra pessoa eu acharia normal. Sei lá, só mais um emprego que realmente precisa ser feito, mas com minha irmã era diferente. Cecília havia aceitado isso por quê? Provavelmente ela ganharia um salário altíssimo.
– É isso ou sair de casa com o bebê. E ainda vão me pagar bem, sem contar que eu posso roubar os chocolatinhos e o champanhe daquelas mini geladeiras. – constatou como se já tivesse entrado em inúmeros motéis.
– Vão te pagar bem para isso? Não coma nada, irão te demitir. Sem contar no que devem fazer com os tais chocolatinhos.
– Ai o que você quer dizer? Vão pagar bem sim, o suficiente para eu comprar uma bolsa nova e a calça que quero há meses.
Olhei-a com reprovação.
– O dinheiro é para o bebê. – lembrei.
– Ah, é. Certo.
– E você está sussurrando por que...
Cecília revirou os olhos.
– Não quero que mamãe saiba! Ela não vai deixar.
Mia aproximou-se de nós.
– E então, aonde é o emprego?! – ela quis saber animada.
– Tele Marketing. – falou minha irmã, como se já tivesse pensado na resposta muito tempo antes.
– Oh! – exclamou nossa mãe. – Você vai passar o dia sentada no meio de um monte de pessoas, ligando para donas de casa desocupadas para vender alguma coisa? Como aqueles chatos que ligam aqui todos os dias querendo saber se eu quero 'estar perdendo doze quilos em doze dias' com o aparelho revolucionário deles?
– Ahn... Sim, eu acho.
– Que lindo! Meu bebê trabalhando! – falou ela, nos passando medo. – Vamos cantar parabéns?
Todos aproximaram-se da grande mesa. As velas que eu havia comprado já estavam colocadas no bolo. Aquelas que produziam faíscas, em especial, haviam sido colocadas em lugares estratégicos. Aquilo definitivamente não era uma dançarina.
– Mia, o que é isso? – perguntei.
– Um astronauta, oras! – falou ela.
Estava explicado.
– Infelizmente não poderei comer, mamãe. Estou de dieta! – Cecília se pronunciou.
Mamãe decepcionou-se.
– A torta é light, querida. – mentiu.
Ela nunca saía perdendo.
– Ah, então assim sim. – minha irmã animou-se.
As velas do bolo foram acesas, e depois cantaram parabéns. Eu apenas bati palmas, observando as faíscas saírem da mochila que o astronauta de bolo carregava nas costas. Era como se aquilo fossem turbinas que o impulsionassem para que pudesse voar.
Greg foi até o armário de bebidas servir-se de mais uísque. Ele abriu uma gaveta do grande móvel e aproveitou para pegar a velha câmera fotográfica para registrar o momento. Ajeitou-a, regulando velocidade e abertura necessárias. Enquadrou a cena clássica.
Meu pensamento voou para Jonas enquanto eu olhava para aquelas faíscas. O garoto teria voltado para o parque? Por quanto tempo ele ficaria lá? Eu tinha que saber como ele estava. E, mais do que isso, precisava fazer algo de uma vez. Sem pedir a permissão dele, apenas fazer. Ele não aceitaria a minha ajuda de livre vontade. Decidi que quando toda aquela enrolação besta de aniversário terminasse, eu iria correr para o 'nosso parque' para encontrá-lo. Esperava que ele realmente estivesse lá, pois se não passaria a noite inteira procurando. Meu castigo já tinha acabado, mas se por ventura Mia acordasse e eu não estivesse na cama, poderia considerar-me sem férias definitivamente.
Era muito difícil ser uma adolescente e parecer que eu estava em algum tipo de filme. Quer dizer, não é todo dia que um garoto fugitivo aparece na sua vida e você se vê na obrigação de ajudá-lo. Não que eu estivesse reclamando, mas aquilo tudo era muito triste, e eu apenas desejava que pudesse fazer alguma coisa. Se o aniversário fosse meu, o pedido também seria. E aí eu teria uma oportunidade para desejar que tudo melhorasse e a minha mente recebesse alguma luz. Olhando pelo lado de que tinha sido eu a compradora das velas, eu poderia realizar um pedido, certo? Mas não fui capaz.
– Sorria Sophia! – gritou meu padrasto, pronto para tirar a foto.
Eu estava ocupada demais observando a vela queimar. O astronauta estava prestes a voar.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...