Capítulo 61

3.1K 473 47
                                    

Gustavo já dormia no banco ao meu lado. Nathan em meus braços. As árvores do lado de fora mostravam que estávamos deixando a cidade. Estava escuro, e se eu não confiasse em Sam, diria que ele estava nos raptando. Mas ninguém raptaria crianças com dez centavos no bolso.

Depois de uma hora dentro do carro, Cecília atreveu-se a perguntar:

– Onde você mora?

Ele riu.

– Eu estava esperando por essa pergunta. Perdão por não ter falado antes, mas eu moro na saída da cidade. Mais precisamente aqui.

O homem desligou o motor em frente a maior casa que já havia sido construída. Tudo bem, exagerei um pouco, mas era incrivelmente imensa. Rodeada de árvores altas, a casa de vidro e madeira possuía iluminação externa também, o que a deixava ainda mais convidativa.

Perguntei-me quanto um advogado ganhava. Talvez eu me tornasse uma, pois a resposta – considerando a casa de Sam – parecia ser 'muito'. Deixamos o carro, caminhando em direção à mansão. Tive que acordar Gustavo, o que não foi muito difícil, pois o ricaço anunciou que havia comida esperando por ele. Levei Nathan no colo, e o rapaz bonito encarregou-se de guiar Cecília.

Depois de subirmos alguns degraus, atingimos a porta frontal do lugar. Esperei para que o cara retirasse as chaves de seu bolso e abrisse o que eu chamaria de novo lar. Por pelos menos aquela noite. Uns minutos antes a minha irmã havia perguntado se não existia problema em ficarmos por ali. Ele respondeu que sentia-se sozinho demais e que sempre quis ter filhos.

A porta aberta deu visão a um novo mundo. Pedindo licença, entrei no casarão, acompanhada de meus irmãos tímidos. Era tudo muito lindo, extenso e bem decorado.

– Você deve ser ocupado demais. – observei.

– Por que diz isso? – Sam quis saber.

– A árvore de natal continua ali.

Ele riu constrangido.

– Na verdade aquilo não é uma árvore de natal. É só... Uma árvore! – explicou. – Eu gosto das luzes, por isso elas estão ali.

Fazia sentido. Quando os passos lentos, quase inaudíveis, tornaram-se o único som, a barriga de Gustavo roncou.

– E aí, o que vai ser? Um Mc Donald's duplo? – o cara estava animado mesmo com a ideia de ter filhos temporários.

– Acho que não. Preciso de comida de verdade. Massa, batatas, carne. Essas coisas não visitam o meu estômago há muito tempo.

– Na verdade comeremos o que você tiver em casa. Não precisa se incomodar. – disse Cecília, estragando a diversão do pequeno que a olhou com cara de dó.

O jovem de olhos cor de mel pensou um pouco ao abrir a geladeira, e então virou-se para nós.

– Já sei, acho que posso pedir para Maiá cozinhar.

Ouvimos passos vindos do alto das escadas.

– Maiá é a sua...

Cecília desistiu de perguntar se ele tinha namorada – ela estava morrendo em busca dessa resposta – quando viu a empregada descer degrau por degrau. Ela era chinesa (ou japonesa, nunca soube distinguir), com os seus olhos bem fechados. Com um pano nas mãos que lustrava o corrimão, ela abanou para nós e sorriu simpática.

Minha irmã projetou um sorriso na face.


O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora