Girei a maçaneta, abrindo a porta de meu quarto. Os meus olhos enxergavam tudo diferente, como se eu estivesse em um novo mundo. Dei um passo, deixando o meu local de sofrimento. As luzes fortes que vinham das escadas indicavam o caminho correto. Percorri o longo corredor, tentando parecer determinada e confiante. Eu não poderia vegetar por mais tempo.
Do alto das escadas, encarei as três pessoas que estavam sentadas no sofá da sala, assistindo a televisão. Os seus olhares voltaram-se para mim, fitando a menina mais magra e branca do mundo.
– Sophia! – exclamou a minha irmã ao me ver.
Sorri com o canto da boca, como se pudesse convencer.
Desci alguns degraus, apoiando-me no corrimão. Dirigi-me até o sofá, sentando na ponta, de costas para os três. Olhei para a imagem da televisão, não fazendo ideia do que estava estampado ali. O meu pensamento estava distante. Antes que novas palavras pudessem ser ditas por qualquer uma daquelas pessoas que preocupavam-se tanto comigo, resolvi deixar claro o que acontecia.
– Está tudo bem. – falei. A voz engasgou um pouco, mas depois saiu. – Eu estou bem agora. Vou ficar bem. Eu preciso ficar bem.
Respirei.
– Já passou.
Eu sabia que eles não acreditariam em mim. Nem eu mesma acreditava.
♦
Consegui comer tudo que colocaram em meu prato. E isso quer dizer muita coisa. Cecília olhou-me satisfeita, e acho que entendi que ela havia sido a cozinheira, pois Maiá estava de folga. A minha irmã havia mudado mesmo.
Empurrei o prato em minha frente, simbolizando que havia terminado. A garota loira dirigiu-se até a cozinha, com um pouco de louça suja nas mãos. Ela as entregou para Sam. Sozinhos na mesa de jantar, o meu irmão fitou-me, sentado na cadeira em frente a mim. Ele resolveu perguntar.
– Como você está?
– Como você acha? – respondi com outra pergunta.
O pequeno revirou os olhos, como se quisesse dizer 'não-me-olhe-como-se-eu-tivesse-culpa-em-alguma-coisa'.
– Por que você não me avisou? Como você sabia de tudo isso?
– Eu só sei tudo o que você já sabe.
Parei de mexer no garfo perto de minhas mãos, largando-o na mesa.
– Mentira.
Ele balançou a cabeça.
– Você apenas não pôde enxergar, é diferente. Avisaram-me do que aconteceria, e pediram para que eu tomasse conta e guiasse você.
– Não parece que você cumpriu a sua função. – a minha voz hesitou um pouco ao dizer aquilo. Ainda era o meu irmão favorito.
Gustavo respirou um pouco mais.
– Jonas não te disse? A primeira regra é não contar nada. Você tem de descobrir as coisas sozinha, Sophia. Há leis.
Debrucei-me um pouco sobre a mesa, olhando no fundo de seus olhos.
– O que quer que seja que está acontecendo, eu não pedi para fazer parte dessa loucura. Não quis fazer parte desse mundinho novo com leis.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...