Capítulo 74

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Girei a maçaneta, abrindo a porta de meu quarto. Os meus olhos enxergavam tudo diferente, como se eu estivesse em um novo mundo. Dei um passo, deixando o meu local de sofrimento. As luzes fortes que vinham das escadas indicavam o caminho correto. Percorri o longo corredor, tentando parecer determinada e confiante. Eu não poderia vegetar por mais tempo.

Do alto das escadas, encarei as três pessoas que estavam sentadas no sofá da sala, assistindo a televisão. Os seus olhares voltaram-se para mim, fitando a menina mais magra e branca do mundo.

– Sophia! – exclamou a minha irmã ao me ver.

Sorri com o canto da boca, como se pudesse convencer.

Desci alguns degraus, apoiando-me no corrimão. Dirigi-me até o sofá, sentando na ponta, de costas para os três. Olhei para a imagem da televisão, não fazendo ideia do que estava estampado ali. O meu pensamento estava distante. Antes que novas palavras pudessem ser ditas por qualquer uma daquelas pessoas que preocupavam-se tanto comigo, resolvi deixar claro o que acontecia.

– Está tudo bem. – falei. A voz engasgou um pouco, mas depois saiu. – Eu estou bem agora. Vou ficar bem. Eu preciso ficar bem.

Respirei.

– Já passou.

Eu sabia que eles não acreditariam em mim. Nem eu mesma acreditava.


Consegui comer tudo que colocaram em meu prato. E isso quer dizer muita coisa. Cecília olhou-me satisfeita, e acho que entendi que ela havia sido a cozinheira, pois Maiá estava de folga. A minha irmã havia mudado mesmo.

Empurrei o prato em minha frente, simbolizando que havia terminado. A garota loira dirigiu-se até a cozinha, com um pouco de louça suja nas mãos. Ela as entregou para Sam. Sozinhos na mesa de jantar, o meu irmão fitou-me, sentado na cadeira em frente a mim. Ele resolveu perguntar.

– Como você está?

– Como você acha? – respondi com outra pergunta.

O pequeno revirou os olhos, como se quisesse dizer 'não-me-olhe-como-se-eu-tivesse-culpa-em-alguma-coisa'.

– Por que você não me avisou? Como você sabia de tudo isso?

– Eu só sei tudo o que você já sabe.

Parei de mexer no garfo perto de minhas mãos, largando-o na mesa.

– Mentira.

Ele balançou a cabeça.

– Você apenas não pôde enxergar, é diferente. Avisaram-me do que aconteceria, e pediram para que eu tomasse conta e guiasse você.

– Não parece que você cumpriu a sua função. – a minha voz hesitou um pouco ao dizer aquilo. Ainda era o meu irmão favorito.

Gustavo respirou um pouco mais.

– Jonas não te disse? A primeira regra é não contar nada. Você tem de descobrir as coisas sozinha, Sophia. Há leis.

Debrucei-me um pouco sobre a mesa, olhando no fundo de seus olhos.

– O que quer que seja que está acontecendo, eu não pedi para fazer parte dessa loucura. Não quis fazer parte desse mundinho novo com leis.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora