Ao chegar em casa, não consegui evitar com que notassem a minha presença. Acho que se Cecília já estivesse andando, eu teria levado uns belos de uns socos, mas na verdade haviam sido apenas palavras. Minha irmã brigou comigo, fez a famosa pergunta 'o que você estava pensando?', e depois agradeceu Ben (ele foi um ótimo amigo poupando-me de contar que eu havia tentado me matar). Sei que era o dever da jovem loira brigar comigo, mas eu não precisava de mais isso.
Quando percebi que ela havia terminado, subi as escadas do casarão correndo e bati a porta de meu quarto com força. Sentei na cama e pareci afundar-me mais no colchão do que no mar de horas antes. Os pensamentos tomaram conta de minha cabeça. Questionei a mim mesma se o que tentei fazer era o certo. E era, pois sempre falam que você deve realizar os seus desejos. E o meu, naquele momento, era o de encontrar Arie. Ele estava me esperando em algum lugar inalcançável, e eu não poderia esperar mais uns sessenta anos (será que eu viveria mais que isso?) para encontrá-lo novamente.
Você pode pensar que eu estava louca e frustrada demais. Pode até imaginar que eu era infantil demais para lidar com o término de um grande e primeiro amor, mas sinceramente... Não me importo com opiniões alheias. Eu acharia ridículo se minha melhor amiga, por exemplo, estivesse tentando se matar para ficar no céu junto com o seu amado já morto. Mas era diferente, pois aquilo estava acontecendo comigo. Era intenso ainda, havia sido impactante. Tudo tinha me transformado em uma nova Sophia, e após escutar toda essa história de dom, destino, fé e muito mais, eu tinha certeza de que mais do que nunca, a minha história havia acabado. Eu sentia dentro de mim que já tinha feito tudo o que estava escrito, e que agora era a hora de ir embora.
Mas, antes de tentar qualquer outra coisa que ocasionasse a minha morte, eu ainda poderia perguntar para quem sabia. Sabe, só para ter a certeza.
A porta de meu quarto foi aberta, e então aquele que poderia dizer se eu deveria morrer ou não, entrou.
♦
– Eu vou morrer logo? – perguntei.
Seria tão simples se ele respondesse.
– Você quer morrer? – ele jogou-me outra pergunta.
Olhei para o chão. O quarto grande e sem muita decoração esperou uma resposta também.
– Quero encontrá-lo.
O corpo pequeno de meu irmão aproximou-se de mim. Ele ficou um pouco parado em frente a mim, e então depois ocupou o espaço ao meu lado.
– Você tem certeza disso, Sophia? – a sua voz era sussurrada. – Eu sei que você gostou muito dele. Ele foi o significado de toda a mudança em sua vida. Mas... Veja bem, isso é muito arriscado, principalmente da maneira que você está encarando as coisas. Você acha que se você tentar tirar a própria vida, vai ser digna de estar no mesmo lugar que Jonas está?
Foi o jeito mascarado de ele dizer que eu iria para o inferno.
– Pense nas pessoas que gostam de você e que estão aqui, do seu lado. Acessíveis e desesperadas por um abraço seu. – ele continuou.
– Por que você está falando tudo isso? Quer dizer, você já sabe, não é? Você sabe o que acontecerá comigo.
Pude ouvir a sua respiração lenta.
– Sim, eu sei. Só quero que você faça as coisas do jeito certo.
– Então eu vou morrer? – aquilo me deixou animada, porém com uma pitada de medo.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...