O meu tempo de transição acabou. Agora estou aqui, encarando a imensidão perfeitamente bonita em minha frente. Cheguei neste lugar há pouco tempo, e ainda me restam algumas dúvidas. Enquanto esperava por alguém que pudesse responder tudo que fosse necessário, aproveitei para dividir a minha história com você. Estou ainda indecisa sobre como devo chamá-la. Talvez algo sobre acreditar, talvez um título sobre como tudo pode se modificar em pouco tempo. Ou, para fugir dos tradicionalismos, talvez apenas um nome que resuma tudo o que vivi com aquele menino debaixo da minha cama.
Não sei se há alguma lição nisso tudo, mas se eu pudesse lhe dar um conselho, seria para que acredites. Por mais que seja difícil, por mais que aquilo não esteja devidamente materializado em frente a você. Se não acreditares, não terás motivos para continuar vivendo.
A minha trajetória acaba aqui, caso você queira saber. Já falei o bastante de mim, e o que vier a partir deste momento será aceito sem grandes dificuldades de minha parte. Não sei o que me aguarda, pois eu não sei nem onde estou exatamente. Mas, se quiseres uma última descrição: É lindo. Tem árvores aqui, e o aroma é o mais doce possível. Não vi pássaros ainda, mas a imensidão é composta por vários tons de cores. Todas diferentes, porém combinando. O gramado é verde brilhante, e se há algum sol, eu ainda não encontrei. Mas há luz. Há vida.
Acho que vou apenas andar agora. Não sei para onde, não sei por quê. Tenho certeza de que tenho controle total de meus movimentos e de minha mente. Posso fazer o que quiser, pois agora estou livre. Leve como o vento. Inexistente, porém real. Se isso for possível.
As minhas pernas colocam-me de pé, mas paro ao ver algo novo. Uma pessoa, enfim. Não qualquer um, mas ele. Você, assim como eu, gostaria muito de saber se esse encontro aconteceria. Pois bem, está acontecendo exatamente agora. Ele está sorrindo para mim lá longe, com aquelas esmeraldas petrificadas no olhar, que um dia eu ainda pretendo roubar. A sua mão está levantando-se lentamente, acenando para mim. Eu faço o mesmo. Ele dá um passo, e eu o imito. É como se estivéssemos pondo em prática uma coreografia já ensaiada. Sei que agora eu consigo tocá-lo, então corro o mais rápido que posso. Acho que poderia voar, mas, quanto a isso, eu ainda prefiro manter os pés no chão.
O meu corpo encontrou o dele. Não somos corpos na verdade, e disso eu sei. Somos dois espíritos perdidos na eternidade.
Ele está passando a mão por meus cabelos enquanto me abraça. Eu estou sentindo o seu cheiro, pois era o que eu mais sentia falta. É tudo tão doce que chego a confundir-me. Por fim, beijo os seus lábios. Não sei se pessoas sem vida sentem essas coisas. Eu digo, toques e abraços. Beijos e sussurros.
Mas eu sinto.
Porque estou viva. Seu beijo me proporciona isso. Eu o sinto. Ele me sente. Agora eu sei que qualquer coisa é possível. Eu acredito.
– Jonas... – a minha voz profere o seu nome. – Eu estou de volta. Eu sou sua.
– Para sempre, minha Sophia.
Agarro as suas mão com força, pretendendo não soltá-las nunca mais. Olhando em seus olhos, relembro os tempos que ficaram no passado:
– Você é um grande clichê. – falo.
O seu sorriso aparece, e então eu tenho a certeza de que nada poderia ser melhor.
– E você é uma chata.
Ele está ao meu lado agora, olhando para o mesmo infinito que eu. Jonas aponta para o meio do nada, e eu olho diretamente para lá. Um convite é feito, mas eu recuso.
– Para lá. – aponto em outra direção. – É mais bonito.
– Teimosa.
Os nossos passos lentos marcam a nossa caminhada até o além. Não estou louca, nem muito menos enfim internaram-me em um hospício. Isso não é mais um sonho ou pesadelo, isso é a realidade. Nós estamos juntos agora, e, ah... Eu posso te confirmar que o para sempre existe mesmo.
– Você sabe que eu gosto tanto de você que nem preciso ficar dizendo que te amo, certo? É inútil tentar expressar em palavras o que eu nunca conseguiria proferir ou demonstrar.
Borboletas com uma asa azul e outra laranja levantam vôo. Milhares delas.
– Pare de ser tão melosa. Isso certamente não combina com você.
Ri por dentro. Esse eterno garoto do parque sabe exatamente o que eu sinto.
– Parei.
Continuamos indo em direção a algum lugar desconhecido. Os nossos olhares, fixados no caminho em nossa frente, sorriem um para o outro. Um novo começo está diante de nós, e acho que o resto dessa história fica por conta da sua imaginação.
– Eu te amo, Malka.
O meu olhar continua perdido na imensidão.
– Eu sei. – digo uma última vez. – Saiba que eu sinto o mesmo, Arie.
FIM
Obrigado :)
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...