Eu estava imóvel. Os meus olhos, incrédulos, recusavam-se a exercer um pequeno movimento. Tive que obrigar a minha boca, antes aberta, a fechar-se lentamente. Engoli um pouco de nada, continuando muda. Quando a situação não poderia ficar pior, tentei proferir uma palavra:
– M... Matou?
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
– Quer dizer, não com as próprias mãos. Mas o homem falou claramente: 'O serviço está feito. O sujeito foi eliminado.'
– Eliminado?
– É. Morto, assassinado, teve a vida tirada, que seja.
Pousei as minhas mãos sobre as dele, como se precisasse perceber de que tudo não passava de um sonho.
– E então você fugiu?
– Sim. Quer dizer, o meu pai me viu. Eu fingi estar passando no corredor, como se não tivesse escutado nada. Mas ele estava sangrando, Sophia.
Sangue nunca era um bom sinal.
– As suas mãos estavam sangrando, e a sua gravata estava enrolada nelas. A camisa branca estava suja de tudo aquilo.
– Precisamos chamar a polícia. – falei sem pensar.
– Não! – ele gritou. – Meu pai tem dinheiro, pode comprar quantos tiras quiser. Não vou e nem quero me meter nessa história. Apesar de tudo, ele continua sendo meu pai. Por isso fingi ignorar e quando ele me viu, eu sorri. Meu pai bateu a porta do escritório em minha cara, querendo esconder o que já estava bem claro para mim. Peguei algumas poucas coisas e vim para cá. Como eu te disse, nos mudamos há pouco tempo, eu não tinha para onde ir.
– E a casa dos seus tios?
– Já estava me matando por ter sido obrigado a ficar lá durante alguns meses. Sem contar que depois o meu pai acabaria indo para lá também, e eu simplesmente não suportaria encara-lo.
Respirei muitas vezes, tentando encontrar uma solução inexistente.
– Você não pode ficar morando em um parque. Eles vão te encontrar alguma hora, a polícia vai vir atrás de você. Deve ter acontecido algo grave de verdade, além do assassinato, claro, se baseando que seu pai tinha sangue nas mãos. Os adultos nunca acham que somos maduros o suficiente para entendermos seus problemas, então preferem mentir. Provavelmente neste momento eles estão desesperados te procurando, e, quando te encontrarem, contarão tudo o que aconteceu. – tentei conforta-lo.
– Já faz dois dias! – ele gritou. – Dois dias que eu fugi de casa e eles não vieram me procurar, Sophia! Se eles estivessem realmente me procurando, já teriam me encontrado. São cinco quadras daqui até a minha casa!
Engoli em seco.
– Nenhum vizinho te viu? – perguntei.
– Não. Estou cuidando para isso.
– Ah, então você quer continuar foragido?
– Desde que não tenha de encontrar meu pai.
Eu não sabia o que fazer. Nunca tinha levado jeito para ouvir os outros e dar uma de psicóloga. Era péssima para essas coisas.
– Ei, nós vamos dar um jeito nisso, tudo bem?
– Como? – ele perguntou.
– Eu não sei. Eu posso ir até a sua casa e conversar com os seu pai, perguntar o que...
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...