Capítulo 51

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Entrar pela lateral de casas que não eram totalmente nossas – não poderíamos ter uma casa sendo menores de idade mesmo – era a nossa especialidade. Jonas jogou a minha mala para dentro do porão pela janela que ele havia quebrado. Esta, situada quase no chão, nos levaria para dentro. Um vizinho passou com uma bicicleta pela rua (isso fez com que eu sentisse saudade da minha), mas devido à escuridão, ele não reparou em nada. Se tivesse reparado, tenho certeza que teria sido uma testemunha silenciosa.

– Você tem certeza que podemos fazer isso? – perguntei.

– Essa casa é minha, esqueceu? – o garoto falou. – Se os meus pais chegarem, poderemos resolver algumas coisas temporariamente. O meu pai provavelmente se aproximará com palavras bonitas, querendo fazer as pazes. Aí então ele mentirá que tudo que eu vi não passou de um enorme engano. Isso sempre acontece. Eu terei que fingir que está tudo bem, só para poder continuar vivendo. Falaremos com ele, e daí será você quem dormirá debaixo da minha cama.

Comecei a rir. Uma mão que auxiliaria a minha entrada foi estendida. Sentei no chão e deslizei para dentro da casa. Caí no chão de pedra, mas não foi nada demais. Jonas entrou logo atrás, caindo em cima de mim. Os dois riram. Eu sentia-me aliviada por estar com ele.

– Você não vai apresentar-me a casa, senhor anfitrião? – eu quis saber.

– Já que você insiste...

Ele pôs-se de pé, estendendo-me outra vez a sua mão gelada para que eu o acompanhasse. O porão não tinha nada. Era apenas um aposento escuro com um pouco de pó que circulava pelo ar.

– Você ainda tem aquelas lanternas?

– Sim, estão na mochila. Por quê?

– Iremos precisar.

Reparei no ar sombrio que rondava o local. Não poderíamos acender muitas luzes, pois se aquela casa agora estava abandonada, algum vizinho estranharia qualquer novidade por ali.

Remexi minha mochila, procurando por duas lanternas. Ligando-as, entreguei uma para Jonas. Peguei a mala em minha mão esquerda, deixando a outra livre para que ele pudesse me conduzir pelo local. Subimos uma escada de madeira curta que nos tiraria do porão, saindo por baixo de outro lance de escadas – as principais -.

– Bem, isso era uma sala. Você sabe, quando costumava ter móveis.

Iluminei o ambiente com o facho de luz em minhas mãos. Não havia sobrado nada mesmo. A suposta sala era grande – e, por estar vazia, isso se agravava ainda mais -, com janelas de vidro que começavam no chão e apenas terminavam no teto. Para a nossa sorte, as cortinas ainda estavam ali. A escada principal da casa era meio circular, como se fosse uma corredeira de água invadindo o local.

Continuamos caminhando. Entramos na cozinha fria da casa. As paredes eram de azulejo preto e branco, e o chão era todo em madeira. Parecia importada.

– Puxa, como você é...

– Rico?! – interrompeu-me. – Meu pai era. É. Nunca gostei de pedir o dinheiro dele, então nunca fui rico.

– A sua casa é linda. – parei de andar um pouco, observando os detalhes que restavam nas paredes.

Um relógio de cozinha havia sido deixado lá. O barulho de seus ponteiros funcionando era o único som presente.

– Você devia tê-la conhecido quando tudo estava normal.

– Um dia conhecerei, e você me apresentará para os seus pais. Sabe, essas coisas clichês que acontecem em todos os relacionamentos que existem por aí.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora