Capítulo 78

2.5K 416 42
                                    


Eu diria que aquilo durou uma eternidade. Quero dizer, o meu embate de olhares com o assassino. A sensação foi a de que ficamos parados por um longo tempo, esperando para que o primeiro tomasse a iniciativa. Mas, para ser sincera, aquilo foi muito rápido. Quando o vi ali parado, apenas tive tempo de odiar-me por não ter atacado-o mais. Talvez o cano que havia me servido como arma fosse simples demais. Talvez eu precisasse parar de pensar e correr da morte.

Foi o que fiz. Retrocedi e virei-me, começando a correr. Ignorei a quinta e a sexta porta, e só fui entrar na sétima, que ficava na outra extremidade do corredor. Aquele número trazia-me sorte às vezes.

Desta vez havia chave, então tranquei-me antes que Julian pudesse me alcançar. Quando o corpo do homem encontrou a porta, o estrondo foi gigantesco. Aquilo fez com que eu recuasse, apenas observando o local. Mais algumas caixas repousavam ali, e um grande armário de ferro estava grudado à parede. Imaginei que poderia encontrar algo útil nele, então dirigi-me até o mesmo, abrindo todos os compartimentos com rapidez. Não achei nada no começo, mas ao começar a vasculhar as últimas gavetas, encontrei um monte de coisas que, inútil ou não, haveriam de ser pegas. Se estavam ali, deviam ser de importância, pelo menos para alguém.

O que não era o meu caso, porque eu não livraria-me dali apenas com os papéis e envelopes que havia agarrado. Um deles, em particular, era alaranjado e trazia os dizeres 'Corvos' escrito em letras borradas. Não havia tempo para descobrir tudo, mas eu poderia começar a entender uma parte. Abri-o e retirei três fichas. A primeira trazia informações de Julian. Os meus olhos medrosos passaram pelo papel rapidamente, correndo contra o tempo. A próxima era a do pai de Jonas. Ele era definitivamente um homem bonito. Se não estivesse morto e não fosse um tipo de mandante, acho que nos daríamos bem, sei lá. Quando meus dedos agarraram a terceira ficha, uma batida soou, vinda do lado de fora daquela cabana. Devolvi rapidamente tudo para dentro do envelope. Coloquei a minha camiseta por dentro da calça, e joguei tudo ali dentro. Nada escaparia.

E, pelo visto, nem eu.


Estava tudo silencioso demais para o meu gosto. Haviam se passado cinco minutos, e nada de Julian. Eu estava pronta para abrir as portas e entregar-me. Isso de ficar brincando de esconde-esconde com assassinos não me soava como algo bom, então preferia apenas dar para eles o que tanto queriam – eu -, e deixar acontecer o que precisasse. Morrer não devia ser tão ruim assim.

Mas eu tinha medo. Muito. Não bastava pensar em fazer, pensar em ser forte. Era preciso ser forte. E eu, com toda a certeza deste mundo, não conseguiria apenas abrir aquela porta e dizer: 'Pronto, vocês venceram'. Se render também não me agradava, pois eu não era desse tipo de pessoa.

Um tiro foi dado nos armários de metal, quebrando o súbito silêncio. Assustei-me, protegendo-me depressa. Mais um foi dado perto do mesmo local. Olhei para o lado oposto da sala onde estava, observando a porta pesada que impiedosamente caiu ao chão, gerando o maior de todos os barulhos. Um cadeado rolou pelo chão. A cena lembrou-me que eu não precisaria me entregar, pois ele já havia me alcançado.

O rosto de Julian mudou de feições ao perceber um dos envelopes que estava em minhas mãos. Ele não trazia mais o excesso de coragem e determinação de antes. Encolhi-me no canto, sentindo o medo percorrer o meu interior. Eu nunca imaginei que passaria por algo assim durante a minha vida toda, pois sempre estava ocupada demais desfrutando da sua monotonia. Mas aquilo – o medo – estava me testando, apresentando-me o desconhecido, para que eu o temesse. Dependia de mim ultrapassa-lo ou não. Mas eu estava com o trunfo nas mãos, então teoricamente estava no comando. Poderia dizer que havia lido tudo.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora