Capítulo 53

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Debrucei-me sobre Cecília, deixando as minhas lágrimas caírem sobre o seu rosto. Eu não a mexi (como sempre foi ensinado nos filmes), apenas passei a parte de trás da palma de minha mão sobre suas bochechas lentamente, mostrando para ela de algum jeito que eu estava do seu lado. Um corte na testa de minha irmã fazia escorrer o sangue que eu tentei limpar com meus dedos. Eu estava nervosa demais para verificar o seu pulso. Mas ela não poderia estar morta.

O som de uma porta fechando veio do carro que havia parado tarde demais. Um homem aparentemente novo – não era tão fácil enxergar no escuro – aproximou-se, avisando que já havia ligado chamando por socorro.

– Desculpe, eu não a vi... Eu não tive a intenção, e... – ele tentava se explicar.

– A culpa não foi sua. – falei, engolindo as minhas lágrimas.

Olhei para Cecília que estava com os olhos fechados e os lábios secos, mudando depois a direção do olhar. De dentro da casa roxa saía Jimi, às pressas. Era preciso detê-lo. Pensei em pedir para o homem que havia atropelado a grávida, mas eu perderia tempo explicando o porquê ele deveria espancar alguém desconhecido. Sorte que eu ganhei um pouco de tempo, pois o roqueiro colocou as mãos na cabeça ao ver a sua moto caída no chão. Cecília era um gênio (e eu nunca pensei que diria isso). Depois, ele olhou para o corpo caído no meio da rua, e então para mim. Eu o fitei com meu pior olhar, percebendo que atrás dele, saindo da casa de tijolos, Ben se aproximava. Jimi tentou erguer a sua moto, mas meu vizinho chegou e com um único chute a derrubou no chão de novo – dessa vez, com o dono junto -.

– Ei! – gritou o drogado.

Ben agarrou os seus braços, imobilizando-o. Ele olhou para mim.

– Posso? – perguntou, querendo saber se poderia acabar com o garoto estúpido.

– Não pense duas vezes. – eu disse.

O homem do carro desgovernado apenas continuou observando a cena, mais nervoso do que qualquer um.

Eu estava pronta para gritar 'Onde está a porra da ambulância?!', quando percebi que a porta da casa de Marga se abria. A própria saiu por primeiro, carregando Nathan nos braços. Em sua outra mão estava Cinderela. Atrás de todos, veio Gus, que rapidamente contornou-os, correndo em minha direção. Ele debruçou-se do outro lado do corpo, olhando para mim.

– Onde está o Jonas? – ele gritou desesperado, tremendo as mãos. – Ele pode salva-la!

O pequeno pensou que poderíamos salvar a grávida também, do mesmo jeito que Arie havia salvo a sua vida quando tivera a crise. Era irônico ele estar querendo a presença de alguém que ele próprio havia mandado para que eu me afastasse.

Agarrei os seus braços por cima de Cecília, segurando-o com força.

– Não agora. – murmurei.

Algumas pessoas da vizinhança apareciam aos poucos na rua com os seus olhares curiosos. Brad Pitt latia, preso na lateral da casa de Marga. Eu realmente desejei para que Jonas estivesse ali mais uma vez. Ele não poderia salvar a minha irmã naquela hora, mas ele tentaria me confortar.

Estava demorando muito para que ela aparecesse. A mulher deprimente deixou a casa roxa, chegando a passos curtos perto de mim. Ao fundo, Ben socava Jimi no rosto.

Coloquei-me de pé, abandonando a jovem loira no concreto por um segundo. Pus-me frente a frente com Mia, encarando-a. Agora era a minha vez de parecer uma leoa, com dentes cerrados e muita raiva. Eu iria rugir.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora