Havia uma coisa que eu sabia e outra que eu não sabia:
– Eu não sabia: Se havia sonhado com Jonas. Posso até ter encontrado com ele durante o tempo que meus olhos permaneceram fechados, mas como eu costumava recordar de todas as vezes que ele me visitava daquele jeito, eu aparentemente havia tido sonhos com algo diferente.
– Eu sabia: Que alguém estava tentando me matar. E era uma certeza.
Abri os olhos rapidamente quando senti que o ar me faltava. E não era pela ausência de meu Arie, não dessa vez. Se eu estivesse na água, diria que estava me afogando. Porém, como eu ainda continuava em minha cama, eu apenas estava passando por uma tentativa de retirada de minha vida.
Quando meus olhos abriram, pude enxergar Mia sobre mim, segurando com as duas mãos as extremidades de um pedaço de papel filme, daqueles transparentes. Aquilo estava sobre a minha face, obstruindo os caminhos por onde eu poderia respirar.
Debati-me, mas os meus braços e pernas estavam amarrados na cama. Quando inclinei a cabeça um pouco para trás, pude enxergar Gustavo deitado ao lado, também amarrado. Ele, por sua vez, estava com um pedaço de fita na boca, mas também debatia-se. Pelo que parecia, eu seria a primeira a morrer.
Não acreditei logo no início, pois não pensei que ela seria capaz. Mas eu estava errada. E, por mais bizarro que aquilo parecesse, o meu cérebro comprimindo-se pela falta de ar fazia-me lembrar de que era tudo verdade.
Movimentei com o máximo de força as minhas pernas e braços, enquanto a cama balançava. Mia dizia algumas coisas para que eu ficasse quieta, mas eu mal conseguia escutar. Eu estava sufocando, o ar era inexistente. Por aquele papel transparente, eu olhava com misericórdia para os seus olhos. Mas ela continuava a me proibir o ar.
Olhei para a porta do quarto, e ela estava aberta. Lembrei-me da minha ida até o banheiro. Eu não havia trancado a porta na volta. Ótimo, eu era responsável pela minha própria morte.
Quando eu estava prestes a desmaiar, alguém entrou naquele lugar. Não identifiquei de imediato quem era, mas a pessoa arrancou o abajur de cima da mesa perto da parede e deu com toda a força sobre a cabeça de Mia. Um pouco de faísca saiu da lâmpada quando isso aconteceu, revelando para mim quem era o meu salvador. Porém, era impossível ser quem eu estava vendo. Eu devia estar delirando.
Pude respirar rapidamente, recuperando todo o ar que me faltara por algum tempo. A leoa havia caído perto da minha janela, puxando a cortina para baixo. O quarto, antes escuro, foi iluminado pelo brilho da lua que entrou pelo vidro. A fraca luz iluminou a silhueta imóvel de minha melhor amiga.
♦
Virgínia estava me fitando com o abajur na mão direita, até que ela o largou. A garota aproximou-se e desamarrou meus braços e pernas. Abracei-a com força, sem pensar em nada. Estava tudo confuso demais para que eu pudesse fazer isso.
– Quando você voltou? – eu perguntei entre o choro que tentava segurar.
A cama vizinha moveu-se, então corri para desamarrar Gus. Quando ele estava liberto, olhei para a minha amiga outra vez. Ela estava paralisada, sem expressão alguma na face. A palidez cobria a sua pele.
– Virgínia? – aproximei-me.
Sacudi-a um pouco, e então a abracei.
– A culpa não foi minha, Sophia... – ela sussurrou, também evitando o choro.
Fitei-a como se quisesse falar 'você-está-mesmo-preocupada-com-Mia?'.
– Qual é, foi uma pancada leve, ela logo acordará e... – eu estava apontando para a mulher caída, mas fui interrompida.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...