Capítulo 12

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Refleti sobre quais outros lugares além daqueles seriam silenciosos. Cogitei até ir para o meio de uma pequena floresta, mas imaginei o tipo de animais que haveriam ali, e rapidamente mudei meus planos. Então apenas continuei a caminhar. Caminhei, caminhei e caminhei. Não estava tão longe assim da casa roxa, mas meus pés começaram a reclamar. Olhei para o meu All Star que deveria ser branco. Ele estava mais sujo do que o comum. Pobre tênis. Eu ainda poderia caminhar por mais inúmeras horas se fosse preciso, mas parei. Dei uma volta de trezentos e sessenta graus para observar onde estava. Logo à frente, percebi um pequeno parque onde poderia me sentar para descansar alguns minutos. Talvez eu pudesse ficar por ali mesmo.

Pisei no chão de areia, lembrando que só sujaria mais ainda meus calçados. Não me importei, eles já estavam péssimos. Aproximei-me de um brinquedo redondo – acho que o chamavam de gira-gira – e larguei minha mochila sobre ele. Deitada, segurei nas barras de ferro. Com os pés ainda na areia, exerci movimento para que ele rodasse. O velho brinquedo fez barulho. Era a única parte ruim de todo o passeio, a trilha sonora dispensável.

Tive medo em abrir os olhos de princípio, mas por fim consegui. O céu estava lindo, e as nuvens pareciam ter sumido. Se eu pudesse pegar um alfinete e espetar aquilo tudo, aquele mar azul cairia sobre mim.

Depois de muito rodar, deixei o brinquedo parar sozinho, o que fez com que ele desse voltas cada vez mais devagar. O barulho ia diminuindo, e eu pude encontrar o silêncio que tanto queria. Fechei os olhos para não ficar tonta, pois certamente eu vomitaria. Só voltei a abri-los quando o gira-gira parou por completo. O que enxerguei foi bem claro para mim: Um menino, deitado de ponta cabeça no escorregador.

Apoiei minhas mãos nas barras de ferro, sem saber o que fazer. Eu deveria deixar o lugar? Talvez se tratasse daqueles parques exclusivos para vizinhança e a moda da vez era descer no escorregador de ponta cabeça. Mas ele estava lá. Quero dizer, ele estava parado no escorregador, de ponta cabeça olhando para o céu. Assim como eu. Se alguém passasse por ali naquele momento e observasse nós dois, provavelmente acharia que era o parque dos retardados. Uma menina rodando deitada no gira-gira e um menino de cabeça para baixo no escorregador.

Decidi deixar o lugar. Certamente eu encontraria mais o que fazer naquele dia. Agarrei minha mochila devagar, não querendo ser notada. Ele poderia continuar pendurado à vontade se quisesse. Só ia levar alguns segundinhos mesmo. Sentei para me desenroscar das barras e enfim deixei o brinquedo. Porém, o meu instinto foi maior que eu naquela hora. Minha cabeça virou-se involuntariamente, e meus olhos fitaram o escorregador. Ninguém estava ali.

Meu corpo também virou um pouco depois. Eu estava intrigada pelo fato de o garoto ter sumido. 'Ótimo Sophia, você faz barulho demais para deixar um brinquedo e espantou o garoto do próprio parque. Você invadiu o espaço dele', eu repetia para mim mesma. Nunca devia ter entrado naquele lugar abandonado.

O menino definitivamente tinha ido embora. Decidi continuar com a minha ideia de sair dali, pois já tinha estragado tudo mesmo. Virei-me para voltar ao meu caminho de origem, então o vi novamente. O garoto. Ele estava sentado no balanço, de cabeça baixa, olhando para a areia. Eu só podia ser cega mesmo.

– Eu já estou indo embora – falei rápido, sem saber exatamente o por que.

Talvez o parque nem fosse da 'gangue' dele.

O cara parecia ter uns dezessete anos, por aí. Era impossível enxergar seus olhos ou até mesmo seu rosto por completo. O cabelo – grande até demais – escondia. O brinquedo que balançava lentamente parou quando ele viu que alguém havia começado uma conversa.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora