Capítulo 76

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O som era muito baixo. De olhos fechados, eu apostaria que era algo relacionado com água. Pingos, na verdade. Eles iam de encontro com algo metálico, caindo um após o outro, quase coreografados. Aquilo fez com que eu me desse conta de que deveria voltar a enxergar, abandonando a escuridão mais uma vez. Afinal, eu nem sabia como havia ido parar no meio dela.

Então eu tentei uma vez. Senti o corpo fraco, o que fez com que eles se fechassem outra vez. Eu estava exausta, como se tivesse sido obrigada a correr uma maratona de dez quilômetros. Os meus braços estavam suspensos, presos bem acima de minha cabeça. Algo estava errado, aquilo definitivamente não era comum. Reuni o pouco de forças que tinha, e então abri os olhos.

O lugar – escuro para variar – não respondia instantaneamente a maior de minhas perguntas: Onde eu estava? À minha frente enxerguei duas janelas, obstruídas por uns pedaços de madeira. Um pouco de claridade ousava passar por dentre uma delas. Obviamente não havia luz ali. Pude identificar o barulho de água que vinha de uma espécie de tanque. Alguns panos sujos – assim como todo o local que também era – repousavam em cima do mesmo. As minhas mãos ardiam, como se queimassem a minha pele. Olhei para elas, reparando nos pedaços de pano que as prendiam junto à parede. A conclusão que eu pude tirar de tudo aquilo, era a de que estava aprisionada.

E sozinha. No meio do nada. Aos poucos, as cenas dos últimos acontecimento inundaram a minha mente. Recordei-me do cemitério, do pai de Jonas e de Julian. Este último era o comparsa do homem rico, com toda a certeza. Foi ele quem atirou em nós – coisa que eu acabei esquecendo com o tempo -, e aposto que era ele também quem meu Arie viu em sua casa, antes de fugir. Os dois homens estavam agindo juntos, e provavelmente havia chego a minha vez de pagar por saber demais.

Coisa que não era verdade. Quer dizer, eu não sabia de nada. Por que eles haviam tentado matar – e depois matado mesmo – o meu namorado? O que ele sabia? O que eu não sabia? Como o pai do menino podia ter matado-o assim, de uma hora para outra? Então ele nunca havia procurado pelo filho? O que estava acontecendo? Eu não sabia de verdade.

Como não escutei nenhum passo ou indícios de vida ao meu redor, decidi agir. Mesmo cansada, eu precisava fazer alguma coisa. Aqueles homens tinham me prendido com uma intenção, e ela nem de longe era das melhores. Pensei em como livrar-me das amarras, mas não havia nada por ali perto. A ajuda só veio quando um dos raios de sol que entrava pelas frestas da janela, iluminou a minha ferramenta de salvação. Ela era pequena demais, e provavelmente não serviria-me de nada, mas eu precisava tentar.

O anel de Jonas brilhava em meu dedo, e ele era a minha única esperança.


Tentei de todos os jeitos. Acho que era a sétima vez quando consegui o primeiro e quase indiferente resultado. Eu havia sofrido para retirar o anel de meu dedo sem deixá-lo cair. O seu interior não era dos mais lisos, então aquilo servia como uma minúscula ferramenta de corte. Ao raspá-lo no pano – que não era dos mais resistentes -, o mesmo se desgastava. Aos poucos. Lentamente. Como se eu tivesse todo o tempo do mundo.

Consegui, por fim, soltar um dos braços. Pus-me de pé, e com muita dificuldade, arranquei-me do outro que ainda me prendia. Quase caí no chão ao dar o puxão que me libertaria, porém consegui manter o equilíbrio.

Analisei o local mais uma vez. Para mim, aquilo lembrava um porão extremamente abandonado. As caixas de madeira vazias só ajudavam a reafirmar essa ideia. O telhado precário, as paredes de concreto... O cenário perfeito para provocar o medo em meu interior.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora