– Não se mova. – pedi.
Jonas olhou-me com estranhamento. Estávamos no gira-gira em que o vi pela primeira vez naquele parque. Sua face rígida esperava por alguma explicação, então ele atreveu-se a mover os lábios.
– Você vai me desenhar? – perguntou.
– Não, seu besta. O poema que iria recitar hoje à noite não serve, então tenho de fazer outro.
– Eu não sabia desse seu talento.
– Tem muitas coisas sobre mim que você não sabe.
– Ah, é? Posso saber o que?
'Que eu te acho absurdamente perfeito', pensei. Mas sobre isso ele já suspeitava.
– Muitas coisas, ta? Precisaríamos de um dia inteiro, e acontece que não temos esse dia. Não, não temos. Preciso escrever algo até hoje à noite.
Tirei os fios de cabelo que cobriram meu rosto com o auxílio do vento. Olhei para o céu, percebendo as nuvens negras que anunciavam chuva.
– E porque precisa ser sobre mim?
– Porque eu iria recitar um poema estúpido que fiz no começo do ano, mas tenho certeza de que está sentimental demais. Não quero que me encarem como a menina do demônio outra v... – parei de falar, percebendo que tinha dito exatamente o que havia desejado que Jonas não tivesse escutado minutos mais cedo.
– Eu ouvi sua irmã falando. Quer dizer que você era do lado... Negro? – ele perguntou rindo de mim.
Ofereci para ele a minha cara mais feia, não achando graça naquilo.
– Perdão.
– Preciso me concentrar, fique quieto.
Ficamos em silêncio por exatos dezesseis segundos, mas acabamos rindo um do outro. Aquilo era patético, eu nunca conseguiria escrever algo olhando diretamente para ele. Ideia estúpida.
Então conversamos enquanto a chuva não chegava. Jonas falou um pouco sobre minha família – os dias que ele estava frequentando a minha casa já eram suficientes para ele tirar algumas conclusões -, disse que meu cabelo ficava mais bonito nos dias que não haviam sol, porque ele brilhava por si só, e, em troca, eu disse que gostava dos ombros dele. Isso não é coisa que você diga para alguém depois de receber um bom elogio, mas foi o que me veio à cabeça por primeiro. Nesse meio tempo até consegui escrever umas frases de meu poema, mas nada de tão concreto. Quando um raio cruzou o céu iluminando o parque, foi o sinal para que Jonas fizesse algo.
– Que tal um pouco de inspiração?
O garoto pôs-se de pé, olhando para mim, e depois estendendo a sua mão direita.
– Posso saber quais são suas intenções? – perguntei.
– Vem!
Fui puxada à força. O corpo do garoto juntou-se ao meu e nós dançamos. Sim, eu exerci movimentos involuntários enquanto era conduzida por ele. Não havia música obviamente, o que dificultava tudo mais ainda, porém de algum jeito que eu não saberia explicar, eu dancei. Aquela Sophia que não sabia – e nunca tinha tentado – dançar, dançou. Acho que isso aconteceu só porque Jonas era o meu par, e ele sabia que eu nunca tinha feito isso. Então ele procurou não olhar-me nos olhos (o que deixaria-me envergonhada) e eu apenas repousei a cabeça sobre seu peito. Nossos passos eram tardígrados e desconexos, mas aquela era a nossa dança.
Senti um pingo de chuva cair sobre a ponta de meu nariz, mas com isso não me importei. Nem com as outras dezenas de pingos que caíram e os outros mais que continuaram a cair. Mas Arie importou-se. Não com a chuva em si, mas com o pedaço de papel com o meu novo poema, que estava sobre o gira-gira, sendo molhado e ameaçando desaparecer se não fosse resgatado. Os nossos corpos desgrudaram-se, e foi como se eu perdesse uma parte de mim. Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas, então as usei para puxá-lo de volta até o meus ossos bambos. Ele olhou-me confuso, e eu soube que diria 'Mas e o seu poema?', então apressei-me para falar.
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O Menino debaixo da minha cama
Teen FictionSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...