Capítulo 69

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Mia dormiria por muito tempo, e, ainda se acordasse, estaria presa pelas algemas. Para completar, eu havia trancado a porta do quarto. Não tinha como ela escapar.

Saímos da casa roxa com o sol batendo em nossas caras.

– Vamos para minha casa. – falou Ben.

Eu ainda não olhava em seus olhos.

– Não precisa. – peguei na mão de Gustavo. – Ficaremos aqui.

– Deixe de ser teimosa, Sophia.

– É. Precisamos acabar o nosso assunto. – disse a minha amiga.

O meu irmão puxou-me.

– Preciso ir ao banheiro. – ele sussurrou.

– Vamos. – insistiu o jogador de basquete.

Eu não queria saber o fim daquela história. Não queria saber por que Virgínia havia voltado antes do previsto e o porquê de ela estar com Ben. Não que aquilo fosse uma traição, porque eu nunca tinha tido nada com ele. Mas ele gostava de mim, e disse que quando Jonas se fosse, ele estaria me esperando. Bom, o garoto do parque havia desaparecido, e ninguém esperava por mim.

Eu já estava familiarizada com a casa de tijolos. Ao passar pela sala, pude enxergar Finta e eu sentados no tapete, brincando com as sombras da parede. Seguindo o anfitrião até a cozinha, parei em frente à janela em que havíamos ficado quando a luz tinha acabado. Éramos duas silhuetas confusas no escuro. E agora éramos só dois amigos em crise.

Gustavo voltou do banheiro e, para variar, avisou estar com fome. Ben ofereceu-lhe tudo que havia em sua cozinha. Enquanto ele bancava o pai por mais uma vez, Virgínia puxou-me até um dos sofás. Quando sentou-se, ela começou a explicar:

– Voltamos antes. Mamãe começou a enlouquecer e queria matar os índios. E eu fiquei preocupada, pois não recebi nenhuma carta sua.

– Quando você chegou? – perguntei.

– Já faz uma semana.

– Obrigada por me avisar. – ironizei seriamente.

– Sophia, pare, ta bom? – pediu. – Deixe-me acabar.

Ela moveu as mãos lentamente, procurando o melhor jeito de contar-me tudo.

– Chegamos ao aeroporto, mas nossas malas ainda não estavam lá. Mamãe se cansou de esperar, então papai teve que levá-la para casa. Fiquei sozinha, esperando pelo momento em que o estúpido de meu irmão resolvesse aparecer. Quando as malas foram liberadas, ele ainda não havia chegado. Tínhamos sete, e todas eram grandes. Então obviamente eu precisava de ajuda para retirar todas...

– Ben. – interrompi.

– Ele estava lá, tinha ido buscar o pai que estava chegando de viagem. Quando percebi, uma mão havia agarrado a minha mala, e ele a entregou para mim. Reconheci o garoto na hora, pois lembrava que você havia falado dele. Ficamos conversando por algum tempo, pois o vôo do pai dele atrasou.

– Você não tem que me explicar nada. – falei. – Eu não tenho nada com Ben, ele é todo seu.

– Eu vou te bater na próxima vez que você me interromper. – avisou.

Arqueei os ombros.

– No dia seguinte vim até a sua casa, mas antes de bater na porta encontrei com ele outra vez. Eu não lembrava que ele era seu vizinho, de verdade. Finta me avisou que você não estava e contou tudo que aconteceu. Eu sinto muito por Cecília. – ela pousou a sua mão sobre a minha. – Parece que agora nós duas temos mães loucas.

O Menino debaixo da minha camaOnde histórias criam vida. Descubra agora