Tomei um pouco da Coca-Cola que Ben havia me dado. Aquelas garrafas de vidro deixavam a bebida calórica ainda melhor. Conversávamos ainda, enquanto ele acabava de lavar a louça. Ele não me deixou fazer isso, então fiquei encarregada de secá-la. Eu já pensava que logo teria de ir embora. Estava ficando tarde.
Nosso diálogo foi interrompido quando a luz voltou. Reclamei por aquilo, então Finta correu para desligar o interruptor. Já havíamos nos acostumado com o escuro.
Um pouco mais tarde, o telefone da casa do garoto começou a tocar. A princípio, pensei que seriam os seus pais. Eles poderiam estar ligando para avisar que estavam voltando e que eu deveria ir embora. Se é que eles sabiam da minha presença.
Finta correu para atendê-lo. Observei seu rosto de lado, para descobrir se eram os donos da casa mesmo. Aparentemente, não. A expressão de Ben era a de assustado, como se algo grave tivesse acontecido.
– Sophia, é para você. – ele entregou-me o aparelho.
– Para mim? – perguntei perdida.
Quem poderia ser? Eu não tinha um celular, então era óbvio que se precisassem de mim ligariam para a casa de Ben mesmo. Mas a única pessoa que sabia que eu estava ali era...
– Sophia, sou eu, a Cecília! – a minha irmã gritava no telefone.
– O que aconteceu? – perguntei já pensando no pior.
– Corre para casa, o Gus está tendo uma crise asmática! – ela não sabia falar. – Eu não sei o que fazer! Ele está...
Ela continuou falando, mas eu larguei o telefone no primeiro lugar plano que encontrei. Ben estava perto de mim, aflito por não saber o que estava acontecendo.
– Sophia? O que houve? – perguntou-me.
Demorei um pouco para localizar-me.
– Gus. Ele está mal.
– Vamos então! – gritou.
– Não. Fique aqui, ligue e chame uma ambulância.
Saí correndo da casa de tijolos, enfrentando a escuridão que me envolvia. Enxerguei a casa roxa perto de mim, mas os meus passos – mesmo que largos – pareciam deixar-me mais distante ainda do meu destino. Era o meu irmão. Aquele com quem eu mais indentificava-me. Ele estava passando mal, e eu sentia-me um pouco culpada por não estar ao seu lado para ajudá-lo. Todas as vezes em que eu havia alertado-o para que andasse com seu remédio, ele dizia que era forte e agüentaria. Mas dessa vez, bem quando a Sophia não estava ali, prevenida como sempre, ele não tinha suportado. Imaginei a cena de meu irmão passando mal enquanto eu corria. Eu queria ajudá-lo, livra-lo de tudo aquilo, dar o meu ar para ele se fosse necessário. Eu apenas sabia como era sufocar-se no sentido não-literal.
Empurrei a porta principal com toda a força do mundo. Brad Pitt latiu do lado de fora, era o cenário perfeito para... Para uma cena trágica. Entrei na residência e encontrei Gus deitado no sofá da sala, respirando com muita dificuldade. Ele estava tendo uma de suas piores crises. Aproximei-me do pequeno, ajoelhando-me no chão, ao lado do sofá.
– Gus, me escuta. Eu estou aqui. Tenta se acalmar. – falei tentando parecer calma, coisa que eu não estava.
Olhei para a grávida ao meu lado. Ela estava mais desesperada ainda, sem saber o que fazer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Menino debaixo da minha cama
Ficção AdolescenteSophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namorado motoqueiro, o bebê que a sua mãe teve durante o segundo casamento a faz acordar todas as noites, e o irmão caçula... Bem, ele é o caçula...